Inflação oficial recuou 0,24% em março, afirmam analistas
A inflação oficial deve desacelerar novamente em março e ficar bem próxima da meta perseguida pelo Banco Central para todo o ano já ao fim do primeiro trimestre. Segundo a estimativa média de 27 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 0,33% em fevereiro para 0,24% no mês passado.
As projeções para o indicador, a ser divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), vão de alta de 0,17% até 0,28%. Se confirmadas as expectativas, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 4,56% em março – apenas 0,06 ponto percentual acima do alvo central.
A saída de boa parte dos reajustes de mensalidades escolares – que, pela metodologia do IBGE, afetam a inflação em fevereiro – é o principal vetor de desaceleração esperado para o IPCA, afirma Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe do banco ABC Brasil. Em seus cálculos, o grupo educação recuou de 5,04% para 0,85% na passagem mensal. Já o indicador oficial de inflação ficou em 0,20% no mês, estima.
Além da parte de educação, outros alívios importantes devem vir dos grupos comunicação e transportes, que tiveram deflação de 0,65% e 0,76% na medição atual, respectivamente, calcula Leal. No último segmento, o economista destaca a redução de 5% prevista para o etanol, em função do aumento da oferta com a nova safra de cana-de-açúcar, que deve puxar para baixo os preços também da gasolina, acrescenta.
“Em março, as altas dos preços de alimentos e da tarifa de energia elétrica, devido à mudança para a bandeira amarela, foram mais do que compensadas pela queda dos preços de combustíveis”, afirma a equipe econômica do Santander, em relatório. Para o banco, o IPCA subiu 0,21%, enquanto a inflação acumulada em 12 meses passou a 4,53%.
Assim, depois de sete anos, “finalmente a inflação ao consumidor alcançará a meta de 4,5%”, ressaltam os economistas. Outros pontos favoráveis, de acordo com os analistas, são a tendência de declínio da inflação – o que seria uma boa notícia para o processo de corte de juros – e o fato de que, desta vez, a menor alta do IPCA não será resultado de deflação nos preços dos alimentos.
Leal, do ABC, projeta aumento de 0,25% para o grupo de alimentação e bebidas em março, depois de terem caído 0,45% no mês anterior. Este deve ser o maior impacto de alta sobre a inflação no período, aponta o economista, devido aos preços um pouco mais pressionados de itens in natura, ovos e leite, a exemplo do que vem ocorrendo no atacado.
Apesar do avanço previsto para os alimentos, a inflação entrou em um “círculo virtuoso”, avalia o economista-chefe do ABC. “No ano passado, estávamos em um círculo vicioso: na medida em que os empresários viam a inflação subir, reajustavam seus preços. Agora, com a tendência de desaceleração, esses repasses diminuem”, explica Leal, para quem o IPCA encerrará 2017 em 4,2%. O indicador pode ficar abaixo de 4%, mas isso depende principalmente do comportamento dos alimentos, diz.
Para os economistas Rafael De La Fuente, Guilherme Loureiro e Thiago Carlos, do UBS, o IPCA cedeu para 4,6% nos 12 meses encerrados em março, com perda de fôlego na inflação de alimentos (3%) e de bens industriais (2,8%). Já a variação dos serviços deve permanecer relativamente estável nessa medida, em 5,9%, prevê o departamento econômico do banco suíço.
O IPCA acumulado em 12 meses deve ficar abaixo de 4,5% já no mês de abril, preveem os analistas do UBS. Em agosto, o indicador vai atingir seu piso do ano no cenário do banco, de 3,4%. “No entanto, não esperamos que a inflação excepcionalmente baixa observada no fim do ano passado se repita em igual período deste ano, o que vai levar o IPCA a subir para 4,3% em dezembro”, estimam os economistas.
Fonte: Valor