Bancos não aprovam plano de Tanure e Pharol para a Oi
Assim como os detentores de títulos de dívida externa, os bancos credores da Oi também não estão de acordo com o plano de recuperação aprovado pelo conselho de administração da tele. Avaliam que uma intervenção do governo federal pode ser a única solução para o impasse, caso os atuais controladores não revejam sua posição.
“Se a Oi não se reposicionar, todos nós credores – “bondholders” e bancos brasileiros – somos a favor da intervenção”, disse um alto executivo de um banco credor ao Valor.
A seu favor, Nelson Tanure, empresário que comandado as decisões do conselho com o respaldo da empresa Pharol, antiga Portugal Telecom, tem reiterado em entrevistas e notas oficiais que sua proposta para a recuperação da Oi, aprovada pelo conselho de administração no dia 22, conta com “apoio irrestrito de bancos públicos e privados”. De acordo com a fonte, entretanto, essa informação não procede.
São credores da operadora de telefonia, Banco do Brasil (dívida de R$ 4,37 bilhões), BNDES (R$ 3,34 bilhões), China Development Bank, (R$ 2,4 bilhões), Caixa Econômica Federal (R$ 1,96 bilhão), Itaú BBA (R$ 1,5 bilhão) e BNP Paribas (R$ 1,13 bilhão).
Os maiores credores são os detentores de títulos de dívida externa da companhia, os chamados “bondholders”, com cerca de R$ 32 bilhões. A dívida total da companhia, informada no momento do pedido de recuperação judicial, era de R$ 65 bilhões. Conforme o Valor informou na segunda-feira, os “bondholders” passaram a apoiar a intervenção como saída para o impasse que se criou.
A proposta aprovada pelo conselho da empresa de telefonia e que contou com respaldo de Tanure e da Pharol, prevê que a dívida total cairia a R$ 25 bilhões e os credores ficariam com 25% do capital da empresa. A dívida bancária não sofreria corte, mas teria carência mínima de seis anos.
Segundo um executivo de instituição financeira local, os bancos e os credores estão procurando se unir para pressionar o conselho da empresa a alterar a proposta de recuperação judicial, com termos mais favoráveis aos credores. O movimento ganhou força depois que o governo intensificou a preparação de uma intervenção na companhia na semana passada.
“Estamos tentando isso há muito tempo. A diferença agora é que os credores e a Anatel estão juntos pressionando”, afirmou uma pessoa ligada a um credor internacional.
No dia 24 de março, três grupos de credores, com créditos totais de US$ 6 bilhões, publicaram uma nota rejeitando a proposta aprovada pela Oi. Mas o documento não contou com a assinatura dos bancos. “Os bancos não se manifestarão publicamente, mas todos recusam o plano”, diz uma fonte. O comunicado conjunto era assinado pelos grupos de “bondholders” liderados por G5 Evercore e Moelis e também pela FTI Consulting, que representa agências de bancos internacionais de fomento.
Uma das apostas dos credores é que, ao pressionar os controladores da Oi, poderiam causar um racha entre Nelson Tanure e Pharol, isolando o empresário.
Entretanto, maior acionista individual da Oi, a Pharol diz que considera “equilibrada” a nova versão do plano de recuperação judicial da operadora, apresentada no fim do mês passado, e vê pouco espaço para alterações. A avaliação é do presidente do conselho de administração da companhia portuguesa, Luís Palha da Silva.
“Não posso excluir alterações, mas eu considero essa proposta equilibrada, portanto não há muito para onde fugir”, disse Silva, também membro do colegiado da Oi, ao Valor. “Não estou abrindo nenhuma hipótese prática de negociação. Estou dizendo que, até chegarmos a uma assembleia geral de credores, não é de se excluir que a direção executivas nos proponha mais qualquer coisa.”
Palha garante que a Pharol não está envolvida de nenhuma forma nas negociações com os grupos de credores da Oi e nem foi contatada por eles como parte de um esforço para alterar as condições previstas no plano de recuperação. “Neste momento, não vamos incitar nós próprios nenhuma negociação”, acrescentou.
Com relação à possibilidade de intervenção governamental na Oi, Palha diz que respeita a posição das autoridades de adotar uma postura preventiva para evitar qualquer problema mais sério no futuro. “Estou totalmente confiante de que não vai haver uma intervenção”, diz o presidente do conselho da Pharol. Em sua análise, o governo está empenhado numa solução de mercado para a empresa. “Só numa situação de total emergência [eles] iriam intervir”, disse.
Fonte: Valor