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Digitalização impulsiona acesso a produtos financeiros

A simplificação no acesso e a redução de custo decorrentes da digitalização dos serviços financeiros impulsiona não só a bancarização como definida pelo Banco Central, com base no acesso a contas-correntes. Também coloca à disposição de um grupo maior de consumidores produtos financeiros antes acessíveis apenas a clientes de maior renda.

Pesquisa da Febraban apresentada no ano passado indica que a bancarização atingiu 89,6% em 2015, comparada a 87% no ano anterior. Novatas digitais de olho nas camadas não atendidas tendem a acelerar o processo, já que o custo de serviço de um banco digital chega a um terço do custo de um tradicional, dando margem a absorção de clientes com menor rentabilidade, diz Guilherme Horn, da Accenture.

Segundo Rodrigo Dantas, da EY, a discussão sobre bancarização gerou um modelo de conta com tarifas mais leves e serviços limitados, como a IConta do Itaú e a Digiconta do Bradesco, só com transações eletrônicas, mas o efeito foi tímido. O surgimento das fintechs, sem os pesados custos das organizações tradicionais, abriu possibilidades de rentabilização mesmo com serviços mais acessíveis. Ainda assim, boa parte atua com o público já bancarizado, embora com modelos prontos para outros grupos.

O Nubank é um exemplo. Seu estilo de concessão de crédito é conhecido como enjaulamento, no jargão do setor – a oferta de uma linha tímida ampliada ao longo do tempo e do bom comportamento do cliente. O modelo está pronto para o mercado não bancarizado. “A questão é se precisa entrar neste segmento, já que há oportunidades mais rentáveis”, diz Dantas.

Boa parte das oportunidades está nas mãos não só do cliente desbancarizado, que não consegue ter conta-corrente e é alvo de iniciativas como as carteiras digitais pré-pagas, mas do sub bancarizado, cuja renda não é suficiente para acesso a produtos como cheque especial ou investimentos. “Muitas fintechs focam este mercado”, diz Luis Ruivo, da PwC.

É para o primeiro grupo que se voltam iniciativas como a carteira digital pré-paga ContaSuper, que alcançou 360 mil clientes em meados do ano passado e, em agosto, passou a ser oferecida também nas agências do Santander como diferencial para atrair novos clientes. Já o segmento de menor acesso a produtos mais sofisticados entrou na mira de serviços financeiros como gestão de investimentos apoiada por robôs, acessível mesmo a investidores com pouco capital. “A redução de custos pela digitalização já impacta serviços como seguros, investimentos e cartões de crédito, ao mesmo tempo em que aumenta a satisfação do usuário”, registra André Leme, da Bain.

No banco Original, um dos primeiros a oferecer abertura de conta por celular, o pacote de tarifas mínimo sai por R$ 24,90. O modelo apoiado em plataforma 100% digital atraiu 100 mil correntistas em seis meses. A expectativa era ter este número em um ano, diz o vice-presidente Marcelo Santos.

Já o Itaú, além da criação do aplicativo Abre Contas em setembro, que já rendeu 60 mil novas contas-correntes, acaba de colocar no ar o aplicativo ItauLite, para clientes de baixa renda e que deve ganhar a mídia de massa a partir do mês que vem. A interface do app é simplificada e o aplicativo é quase 30% mais leve que os demais, diz a diretora de canais digitais Lívia Chanes. “A atuação é mais com a exclusão digital, com foco em quem não precisa de um banco com todos os produtos e serviços, mas quer consultar extrato, pagar uma conta ou fazer transferência.”

O atendimento com qualidade de clientes cujos resultados antes não compensavam também depende da reação da economia ao longo do tempo, avalia Paschoal Baptista, da Deloitte. “Cooperativas de crédito e bancos regionais estão atuando no processo de bancarização”, diz. O recém-lançado SD Bank é um exemplo. Além de carteira digital pré-paga para acesso de desbancarizados a serviços financeiros essenciais, criou boletos digitais para vendedores e o SD Cheque, pagamento pré-datado digital entre contas da marca. Em um segundo momento, estão previstos serviços de concessão digital de crédito, caso seja confirmada parceria ou joint-venture com o cooperativo Bancoob. “Temos sinergia de objetivos”, diz o CEO Adriano Miguel da Silveira.

Fonte: Valor

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