Investidor se depara com grandes dúvidas neste início de ano`
Bem-vindos a um novo ano e aos problemas cruciais que se perfilam diante dos investidores em seus esforços para colocar o dinheiro para trabalhar e navegar por 2017. As surpresas geopolíticas viraram de ponta-cabeça as expectativas em 2016 e poucos previam que o ano acabaria com o mercado acionário mundial em alta e os rendimentos dos bônus relativamente baixos. Será que os estrategistas vão se sair melhor nas previsões desta vez? Aqui estão algumas das grandes dúvidas que vão preocupar os investidores nestes primeiros dias de operações de 2017.
O mercado corre o risco de recuar caso se decepcione com Trump?
Os investidores decidiram ter fé na aposta de que a combinação de estímulos fiscais e leis menos onerosas para muitas empresas no governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, vai acender a economia do país e acabar com a era de fraco crescimento e baixos rendimentos dos bônus. Dessa forma, o tão comentado grande “movimento de rotação”, com o dinheiro saindo dos títulos de dívida e se dirigindo às ações, já começou. Os índices S&P 500, Dow Jones, Nasdaq e Russell 2000, de ações de empresas de baixo valor de mercado, atingiram máximas. O “yield” (retorno) dos títulos de dez anos do Tesouro dos EUA, enquanto isso, passou de um patamar mínimo de 1,32% em julho para 2,5% anuais, uma vez que os investidores contemplam maior crescimento econômico e juros mais altos à frente. Ainda assim, será que se trata de uma reação demasiado forte e precoce diante de um mercado acionário cujos preços relativos já eram considerados muito elevados?
A sombra de um dólar mais forte também paira sobre as empresas multinacionais americanas, neutralizando parte dos efeitos resultantes dos cortes nos impostos e das leis mais favoráveis.
Os bancos mundiais voltaram a ser bons investimentos?
Índices de ações de bancos no Japão, Europa e Estados Unidos apresentaram altas superiores a 10% na segunda metade de 2016, invertendo a situação vista no início do ano passado, quando o setor era assolado por dúvidas quanto à erosão de sua lucratividade, em meio aos juros baixos ou negativos, à regulamentação mais rigorosa e às multas por mau comportamento. De acordo com investidores, um dos motivos mais importantes para o otimismo é a perspectiva de aumento nas taxas de juros em razão do maior crescimento da economia, com as políticas econômicas passando a basear-se em medidas fiscais em vez de monetárias em 2017.
A alta no rendimento dos títulos de dívida de longo prazo ajuda os bancos ao elevar sua margem de intermediação financeira. A recuperação, contudo vai enfrentar um duro teste, particularmente na Europa, onde a solidez do setor está em dúvida.
As condições financeiras vão sofrer um maior aperto monetário?
A última vez em que houve um alta rápida e substancial no rendimento dos títulos governamentais dos EUA foi há mais de 20 anos, em 1994. Na ocasião, boa parte do mundo financeiro não conseguiu antecipar a velocidade e o ritmo dos aumentos de juros anunciados pelo Federal Reserve (banco central dos EUA) – que levaram o rendimento dos títulos de dez anos do Tesouro a aumentar dois pontos percentuais em cinco meses. Desta vez, a complacência pode ser de um tipo diferente. Os investidores parecem ver um Fed pró-crescimento sob o comando de Janet Yellen e esperam mais três elevações dos juros em 2017. Se o Fed agir demasiado rápido, as repercussões podem ser graves. Desde 1945, 6 dos 12 ciclos de aperto monetário resultaram em recessões nos EUA nos dois anos seguintes.
A queda dos mercados emergentes tem espaço para continuar?
A eleição de Donald Trump intensificou a confusão com os ativos de economias em desenvolvimento, o que levou a resgates líquidos de fundos de bônus e ações de países emergentes em um ritmo que não se via desde 2013, durante o pânico causado pela redução dos estímulos econômicos do Fed. O peso mexicano e a lira turca caíram para suas menores cotações históricas, depois de as compras e vendas pós-eleição de Trump terem valorizado o dólar e elevado o rendimento dos bônus. Apenas a Rússia parece ter escapado da tendência, graças em parte à evidente cordialidade entre Donald Trump e Vladimir Putin. Com o capital saindo da China, apesar dos esforços do governo local para mantê-lo, e os mercados esperando mais altas dos juros nos EUA em 2017, o foco dos maiores investidores em países emergentes agora é diferenciar mercados e “administrar o risco”.
O volume de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs) vai crescer?
A recente escassez de operações de abertura de capital fez com que 2016 tenha sido o pior ano em ofertas públicas iniciais de ações desde 2003, embora existam esperanças de recuperação. Executivos de banco de investimento disseram que a onda de alta das ações no pós-eleição nos EUA e o desempenho positivo das ações lançadas em 2016 trazem boas esperanças de uma recuperação da atividade em 2017. Em contraste com as ofertas iniciais de 2015, cujas ações acabaram o ano em queda de 6,5%, os papéis lançados em 2016 subiram em média cerca de 20%, segundo a Dealogic. Também há a esperança de uma retomada das oferta públicas iniciais de ações das empresas de tecnologia.
Fonte: Valor