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BC evita acenar distensão maior na Selic

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana de Carvalho, evitou dizer se os dados positivos sobre a inflação divulgados na quarta podem alterar a estratégia de política monetária do colegiado, abrindo espaço para cortes de juros mais alentados do que o movimento de 0,5 ponto percentual amplamente sinalizado pelo colegiado.

“Sinto jogar um balde de água fria, mas não tenho nada a dizer sobre o IPCA-15”, disse Viana, referindo-se à prévia do Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), divulgado na quarta, que recuou para 0,19% e marca a volta das quedas na inflação de serviços, um dos dados que se tornaram chave na condução da política monetária.

Ontem, o Banco Central divulgou novas projeções de inflação no seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI) que mostram que, se os juros caírem da forma prevista pelos analistas econômicos, a inflação ficaria em 4,7% em 2017 e em 4,5% em 2018, muito próximo do alvo da política monetária para esses anos, definido em 4,5%.

Os analistas econômicos preveem cinco cortes de 0,5 ponto percentual na taxa básica a partir de janeiro, seguidas de um corte de 0,25 ponto, que levaria os juros dos atuais 13,75% ao ano para 10,5% ao fim de 2017.

Mas as estimativas foram feitas com base nas informações disponíveis em 9 dezembro, data de corte do Relatório de Inflação, sem levar em conta o IPCA-15, que, para muitos, poderia ter marcado a inflexão entre o período de inflação resistente à atividade econômica para outro em que responde mais fortemente à recessão.

“Vamos avaliar os números com toda a calma”, disse ele.

“Objetivamente, esse indicador vai se incorporar ao amplo conjunto de informações que o Comitê de Política Monetária (Copom) contempla em cada reunião.” A próxima reunião do colegiado está marcada para os dias 10 e 11 de janeiro. Viana se limitou a reconhecer que o IPCA-15 de dezembro aumenta as chances de a inflação ficar abaixo do teto deste ano, de 6,5%.

Muitos analistas econômicos especulam se o IPCA-15 poderá reduzir as projeções de inflação do Banco Central ou, pelo menos, amenizar os riscos de a inflação não cair como o previsto, permitindo cortar os juros num ritmo de 0,75 ponto percentual em janeiro. Viana não quis comentar as apostas do mercado.

Uma outra forma para justificar uma aceleração na distensão monetária, na visão de muitos analistas econômicos, é o Banco Central usar a flexibilidade do regime de metas de inflação, cumprindo a meta um pouco mais tarde para cortar os juros e, dessa forma, reduzir o sacrifício exigido em termos de queda na atividade econômica para desinflacionar a economia.

Em discursos recentes de membros do Copom e no próprio Relatório de Inflação, o BC tem destacado que, depois que agiu com firmeza para ancorar as expectativas de inflação na meta, pode usar mais da flexibilidade do regime de metas.

“Um ambiente com expectativas de inflação ancoradas também permite que o comitê siga um princípio que confere flexibilidade aos regimes de metas para a inflação e que se aplica ao Brasil”, diz o Relatório de Inflação. “Nesse ambiente, essa flexibilidade permite que os custos de desinflação sejam levados em conta nas decisões de política monetária.”

Viana esclareceu, porém, que o Copom tem tocado no tema apenas para informar o debate que vem ocorrendo entre especialistas sobre a condução da política monetária.

Muitos economistas vêm dizendo que o BC foi muito duro, produzindo prejuízos para o crescimento. O argumento do BC é que só pode usar da flexibilidade do sistema de metas a partir de agora, com a inflação ancorada na meta.

Segundo ele, quando menciona o tema, o Banco Central não está sinalizando que, nas suas próximas decisões, pretenda usar a flexibilidade do regime de metas para cortar os juros além do que seria indicado para cumprir a meta de inflação em 2017 e 2018. “Não se trata de indicação de condução de política monetária de curto prazo”, disse Viana.

O Banco Central reviu para baixo a sua projeção para o crescimento da economia para 2017, que passou de 1,3% na edição de setembro do relatório para 0,8% nesta edição. A projeção para 2016 é uma queda de 3,4%.

Viana explicou que a revisão nos números reflete um adiamento na perspectiva de estabilização da economia – ou seja, fim da recessão econômica – que era esperada para o terceiro trimestre e agora deve ocorrer no quarto trimestre. A perspectiva, daí por diante, é uma retomada em 2017, num ritmo muito parecido com o que o Banco Central esperava em setembro.

Fonte: Valor

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