Pacote microeconômico pode frustrar
O pacote de medidas para tentar destravar a economia anunciado na semana passada pela equipe econômica do governo de Michel Temer (PMDB), voltado para ações microeconômicas, pode “gerar frustração”, na avaliação de Marcos Lisboa, economista do Insper e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda. Deveriam ser tomadas no cotidiano da política econômica e não anunciadas em pacotes. “Algumas medidas são bem-vindas, mas imaginar que um conjunto qualquer de medidas vai ter um impacto imediato vai gerar apenas frustração”, afirmou. Lisboa participou de um debate na Fundação Getulio Vargas (FGV) que discutiu o futuro econômico em 2017.
As reformas estão andando em 2016, disse. “No curto prazo o problema predominante é o fiscal. A agenda teve alguns avanços em 2016, mas a crise é profunda”, disse após ser questionado sobre a demora na retomada.
A meta para 2017, aponta o economista do Insper, deve ser aprovar reformas para começar 2018 debatendo mudanças estruturais, entre elas a tributária e a discussão de incentivos fiscais. “O país está muito voltado para o fiscal porque o fiscal é urgente. Essa agenda microeconômica é uma agenda longa, lenta, não é para grandes anúncios. Isso é para o dia a dia do debate econômico”, acrescentou.
Ainda é cedo para prever quando a economia brasileira sairá do vermelho, mas para o diretor da Escola Brasileira de Economia (EPGE), da FGV, Rubens Penha Cysne, há no horizonte pelo menos quatro boas notícias: houve aumento da percepção da importância de redução dos gastos públicos; ocorreu o entendimento da necessidade de simplificar a legislação trabalhista; agora existe a visão de que é preciso reduzir o ritmo do crescimento das despesas; e, a quarta boa notícia, é a indicação que o Banco Central (BC) cortará a taxa de juros – embora em menor intensidade que antes da eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, ponderou.
“A partir de quando a economia reage a essas coisas boas se é depois do primeiro trimestre ou do segundo semestre é tudo especulação. O que eu diria é que existem algumas coisas boas no horizonte, mas muito menos do que a gente precisa”, afirmou Cysne.
O aumento da produtividade é a principal saída para retomada sustentável da economia, avaliou Lisboa. Ele Apontou dois caminhos para a retomada consistente no longo prazo: resolver a questão financeira dos Estados, que em 2016 foi “um prólogo do que vai acontecer com outros Estados”, e melhorar a produtividade brasileira.
Reduzir benefícios é um caminho necessário para a retomada, aponta Lisboa. “Vamos enfrentar o desafio de rever benefícios e privilégios, encarar o desafio de economias abertas em que empresas quebram e outras nascem”, sugeriu durante o debate.
Fonte: Valor