Risco de propagação do vírus da zika devido à Olimpíada é baixo
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que o risco de propagação do vírus da zika devido à Olimpíada no Rio é “muito baixo”, em painel realizado nesta terça-feira (14), em Genebra, na Suíça.
Segundo a organização, a transmissão local do vírus da zika e da dengue será mínima durante o inverno no Brasil. “Os riscos não são diferentes para pessoas que irão para a Olimpíada do que para qualquer outra área onde há surtos de zika”, disse David Heymann, presidente do comitê de especialistas da OMS.
A comissão reafirmou que não deve haver restrições gerais para viagens e comércio entre países e/ou territórios onde há transmissão geral com maior incidência do vírus, incluindo o Brasil.
A recomendação para que grávidas não vão aos Jogos foi mantida. Outro pedido mantido pela comissão é para que seja feito sexo seguro com parceiros que visitaram regiões afetadas pelo vírus.
Os turistas que foram para áreas de risco do vírus da zika devem ser aconselhados sobre as datas de maior risco e quais devem ser as medidas adequedas para reduzir a possibilidade de exposição ao mosquito transmissor, o Aedes aegypti.
A OMS lembrou também a possibilidade de transmissão sexual e reafirmou a necessidade da prática de sexo seguro para quem for viajar.
Apesar da análise de baixo risco de propagação devido aos Jogos do Rio, a OMS informou que é sabido que o vírus pode se espalhar internacionalmente e estabelecer novas formas de transmissão.
A microcefalia e a zika foram mantidas como emergência de saúde internacional, alerta já definido desde a última conferência da organização.
Desconvidados para o comitê
Antes desse painel, mais de 150 cientistas de 28 países pediram à OMS que a Olimpíada do Rio fosse adiada ou transferida para outro lugar. Em carta aberta, eles afirmaram que a exposição de atletas e turistas ao vírus da zika no Brasil poderia pôr em risco a saúde global.
Entre os especialistas que assinaram a carta aberta estão médicos da Fiocruz e das universidades mais renomadas dos Estados Unidos, como Harvard e Colúmbia.
Após receber um convite oficial da OMS para participar do comitê emergencial com o objetivo de discutir problemas neurológicos ligados ao vírus da zika, porta-vozes do grupo que reúne pesquisadores alegam terem sido “desconvidados” pela organização.
Após o convite para o evento, feito em nome da diretora-geral da OMS, Margareth Chan, o professor canadense Amir Attaran pergunta se a participação garante status de membro ou consultor do comitê.
“Poder dialogar é interessante”, diz Attaram na conversa com a OMS. “Mas se a ideia for simplesmente ouvir, aí fica menos interessante. A carta aberta enviada à organização e cobertura da mídia já fazem isso.”
Riscos
A discordância na comunidade científica ganhou corpo no último dia 27, quando o grupo de especialistas em saúde, direito, bioética e esportes enviou carta aberta à OMS afirmando que a manutenção dos jogos no Rio seria “antiética”.
“Um risco desnecessário é colocado quando 500 mil turistas estrangeiros de todos os países acompanham os Jogos, potencialmente adquirem o vírus e voltam para a casa, podendo torna-lo endêmico”, dizia o texto.
O principal risco, na avaliação dos pesquisadores, seria que atletas contraíssem a doença e voltassem para suas casas em países pobres que ainda não foram afetados pelo surto da doença.
Contraponto
Na última quinta-feira, o novo ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que o posicionamento dos cientistas é um “exagero”.
“Há um excesso de zelo. A doença já está presente em 60 países. Não será a Olimpíada que vai propagar a doença”, afirmou.
Segundo a OMS, 57 países registraram casos de zika em todo o mundo. Mas em apenas oito – Brasil, Colômbia, Martinica, Panamá, Polinésia Francesa (França), Cabo Verde, Eslovênia e Estados Unidos – foram identificados casos de microcefalia e outras malformações fetais “potencialmente associados” à zika.
O grupo de cientistas internacionais alega que as posições do governo brasileiro e da OMS são “perigosas”.
“A linhagem do vírus no Brasil é distinta da maioria destes 60 países”, disse à reportagem o professor canadense Amir Attaran.
“Digamos que estivéssemos em 1918 e eu dissesse que estou muito preocupado com a gripe espanhola. Aí uma organização importante de saúde diz que não devo me preocupar porque o vírus da gripe já existe em vários países. Entende a metáfora?”.
O professor Attaran afirma ainda que questões de saúde pública precisam ser separadas de interesses econômicos.
“De um lado temos a importância econômica dos jogos para o Brasil e o dinheiro que já foi investido nisso. De outro, temos crianças nascendo com problemas cerebrais. Se eles quiserem priorizar o dinheiro, está bem, mas que sejam completamente abertos e transparentes nisso”.
Fonte: G1