Para sair do atoleiro, país precisa equilibrar contas e fazer reformas
A situação da economia brasileira está realmente feia. A atividade econômica do país teve uma contração forte no ano passado, de 3,8% e o “tombo” este ano também deve ser expressivo, de 3,46%, com alta do desemprego e redução ainda maior da renda das famílias. Com tantos dados negativos, como fazer para tirar o país do “atoleiro”?
Para analistas ouvidos pelo G1, é preciso começar a agir, e há várias receitas: aumentar a competitividade, melhorar a educação e a infraestrutura e levar adiante reformas econômicas.
Quedas seguidas e pessimismo
Dois anos seguidos de contração do PIB é algo que não ocorre no Brasil desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1948. Se as previsões do mercado se confirmarem, a economia do Brasil voltaria a crescer somente em 2017 (+0,5%), avançando para uma alta de 1,5% em 2018.
Para o professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), José Márcio Camargo, porém, a economia dificilmente voltará a crescer antes de 2018. “Em 2017, na melhor das hipóteses, se nada der errado, a gente deve ter estagnação”, declarou ele.
Mesmo assim, no segundo mandato da presidente Dilma o PIB ficaria negativo, pela média, em cerca de 1,3% marca semelhante à do governo Collor, que registrou média negativa de 1,28% entre 1990 e 1992.
Segundo José Márcio Camargo, professor da PUC-Rio, e Flavio Castelo Branco, economista da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a retomada do crescimento passa necessariamente pelo controle dos gastos públicos que estão em níveis insustentáveis.
Com a queda da arrecadação e o aumento de gastos, as contas públicas tiveram, em 2014 e 2015, dois anos de rombos e a previsão dos economistas é que isso acontecerá novamente neste ano.
A contenção de gastos, segundo analistas, é importante para controlar a inflação. Além disso, avaliaram que as reformas também são imprescindíveis.
“A legislação trabalhista é antiga, da década de 30 e 40, uma época em que economias do mundo estavam se fechando. A questão da produtividade tinha pouca importância. Acontece que o mundo mudou e a gente tem de competir com o exterior “, disse Camargo.
De acordo com Castelo Branco, da CNI, a agenda da competitividade também é importante.
“O Brasil deu pouca atenção ao crescimento da produtividade e para a contenção dos custos de produção, que vão desde os custos de energia, de logística, financeiros, de insumos e principalmente salarial, que cresceu bem mais do que a produtividade. Os produtos brasileiros perderam a competitividade”, avaliou ele.
Em sua visão, é preciso levar adiante uma reforma tributária, da Previdência Social e das relações do trabalho, além de melhorar a infraestrutura do país por meio do aumento de concessões “porque o setor público não tem condições de arcar com o volume de recursos necessário”.
Trabalhadores
Na avaliação do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, o ajuste das contas públicas “não pode ser feito às custas dos trabalhadores, como vem ocorrendo nos últimos meses”.
Ele disse também que é preciso melhorar a competitividade dos produtos brasileiros no exterior e investir pesadamente em educação de qualidade para estimular o crescimento da economia.
“Queremos uma reforma tributária que onere as heranças, grandes fortunas, remessa de lucros ao exterior e distribuição de dividendos a acionistas, e que o imposto de renda tenha faixas mais altas para os grandes salários e amplie a faixa de isenção para os trabalhadores”, afirmou.
Para ele, o Estado precisa cumprir seu papel de indutor do crescimento e não ficar preocupado “apenas” com o ajuste nas contas públicas e com a metade inflação.
“Precisamos de metas para crescimento e redução do desemprego”, acrescentou Freitas.
Propostas do governo
O governo tem se movimentado e proposto iniciativas para tentar retomar o nível de atividade. Recentemente, anunciou um bloqueio de gastos no orçamento de R$ 23,4 bilhões, mas confirmou que ele será insuficiente para reverter o rombo das contas públicas neste ano.
Por conta disso, pediu autorização para um déficit de até R$ 60,2 bilhões em suas contas. Para tentar melhorar as contas, anunciou que quer contar com recursos de precatórios e propôs o retorno da CPMF – ambas medidas ainda insuficientes para trazer as contas para o azul em 2016.
No médio e longo prazos, o governo quer implementar uma reforma fiscal, para conter gastos públicos, e da Previdência Social.
A reforma trabalhista, por sua vez, deixou de ser prioridade. Além disso, o governo tem acenado com mais recursos para os estados, por meio de um limite maior para operações crédito junto à instituições financeiras, e, também, mediante alongamento de sua dívida – o que impactaria para baixo o esforço fiscal destes entes.
Inflação
O Banco Central diz que trabalha para trazer a inflação para um patamar abaixo do teto de 6,5% do sistema de metas neste ano, após ter ficado em quase 11% em 2015, e para um patamar próximo de 4,5% em 2017.
Para isso, está mantendo a taxa Selic estável em 14,25% ao ano, o maior nível em quase dez anos. Apesar dos juros altos, o mercado financeiro não acredita que os objetivos anunciados pelo BC serão cumpridos.
O problema é que as propostas não encontram respaldo integral nem mesmo do Partido dos Trabalhadores, da presidente Dilma Rousseff.
Recentemente, o PT lançou um documento com propostas para retomada da economia, no qual pede a redução dos juros, a revitalização do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – cujos recursos foram fortemente cortados nos últimos anos pelo governo – e aumento do limite de isenção do IR das pessoas físicas.
O PT diz concordar com a recriação da CPMF (como quer a equipe econômica), mas não elencou a reforma da previdência em seu projeto.
PMDB e PSDB
O PMDB, no ano passado, também divulgou propostas para a economia. Entre os pontos abordados, pediu o fim de todas as indexações, inclusive para o salário mínimo e para a Previdência Social.
Também propôs uma idade mínima de aposentadoria do INSS (não inferior a 65 anos para homens e 60 para as mulheres), a privatização “do que for necessário para reduzir o tamanho do Estado”, a simplificação e redução do número de impostos (unificando as legislações do ICMS estadual) e que, mas negociações entre patrões e empregados, os acordos coletivos prevaleceriam sobre as normas legais “resguardados os direitos básicos”.
O PSDB, por sua vez, apresentou, recentemente, uma pauta propositiva para a retomada do crescimento. Entre os pontos citados estão a aprovação do projeto de resolução do Senado que dispõe sobre o limite global para a dívida consolidada da União (uma forma de tentar conter os gastos públicos) e a PEC que restringe e cria processo seletivo para cargos comissionados.
Os tucanos também apoiam o projeto de lei do Senado que altera as regras de participação da Petrobras na exploração do pré-sal. E dizem considerar prioritário o projeto que aprimora a governança em empresas estatais, dando a elas mais transparência e eficiência, além da proposição que combate o aparelhamento nos fundos de pensão.
Apoio no Congresso
Apesar de o diagnóstico de analistas do setor produtivo, trabalhadores, governo e partidos políticos, a forma de solucionar os problemas não é similar. E o cenário político conturbado também não favorece a aprovação das mudanças necessárias no curto prazo, segundo analistas consultados pelo G1.
“A tendência para este ano é que não se consiga aprovar nada. É provável que seja postergado para depois das eleições municipais. A questão fundamental são as eleições de 2016. Elas vão definir para o PT ou PMDB as respectivas forças que terão”, avaliou o cientista político da UFRJ, Manuel Sanches.
Para ele, o ambiente tende a ficar “cada vez mais pesado”. “O Executivo está permanentemente sob pressão, acuado, seja por conta da crise econômica ou pela [Operação] Lava Jato. Disse
O economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio, também tem uma expectativa ruim. “Esquece esse governo. Não tem força para fazer nada. Vai ficar aí, se ficar, empurrando o jogo, tentando arrumar aqui e ali, mas é um governo perdido, disse.
Daqui até 2018, se a presidente não cair, certamente ela não tem condições de fazer nenhuma reforma, aprovar nada no Congresso. É pouco provável que consiga aprovar a CPMF, não acredito que vão mandar um projeto de reforma da previdência realmente consistente, e não vai conseguir aprovar, não tem apoio nem em seu próprio partido”, completou Camargo.
Segundo o cientista político David Fleischer, o cenário político está cada vez pior.
“O governo Dilma não tem maioria na Câmara para aprovar nada. A base dela está muito esfarelada. O governo reluta em reduzir despesas. Prometeu demitir muitos comissionados, mas não cumpriu ainda, avaliou
O setor privado não quer investir por conta da falta de confiança. Aparentemente, estamos em um beco sem saída”, disse Fleischer.
PIB dos governos anteriores
Entre 1992 e 1994, na gestão de Itamar Franco, houve expansão média de 5,3%. No primeiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 1998, o crescimento médio foi de 3% e, no seu segundo mandato, entre 1999 e 2002, expansão média de 2,3%.
No primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 2003 a 2006, o PIB avançou 3,5% e, no seu segundo mandato (2007 a 2010), cresceu 4,6% – ainda pela média dos quatro anos.
De 2011 a 2014, no primeiro mandato da presidente Dilma, foi registrado crescimento médio de 2,14%.
Fonte: G1