Potencial do país atrai estrangeiros
Nem o cenário econômico nem a crise política abalam a disposição das empresas seguradoras e resseguradoras de investir no mercado brasileiro. Somente no ano passado, 16 novas companhias passaram a atuar na área no Brasil, das quais 12 são estrangeiras. Neste ano, até abril, foram mais quatro todas estrangeiras. O Brasil é um país de 200 milhões de pessoas, tem uma democracia consolidada e o setor, um grande potencial de crescimento, afirma Solange Beatriz Palheiro Mendes, diretora executiva da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg). A visão de CEOs do setor não é diferente. O Brasil é a maior economia da América Latina e vai continuar sendo. A longo prazo não tem como não estar aqui, diz Guillermo León, CEO da alemã HDI-Gerling, empresa do Talanx Group, que está no Brasil desde 1997, com a HDI Seguros, e obteve no ano passado autorização da Superintendência de Seguros Privados (Susep) para atuar na área de seguros industriais. A decisão de expandir faz parte da estratégia de fortalecer a atuação no maior país latino-americano e tomá-lo um hub para a região, diz o executivo. No mercado já é vista como provável, no segundo semestre, a abertura de capital da Caixa Seguros e Par Corretora, o que poderia atrair capital externo. A HDI-Gerling integra o novo time de players que chega para enfrentar uma concorrência acirrada desde que a abertura do mercado brasileiro trouxe ao Brasil os grandes competidores internacionais. Entre eles, está a francesa AXA, que voltou ao país para atuar em linhas comerciais e se diz igualmente disposta a fazer do Brasil uma plataforma para avançar na América Latina. No segmento de resseguros, em que a AXA também vai atuar, estão entre os novos competidores a igualmente francesa Scor, a alemã Allianz Se, e a italiana Generali. A promessa da AXA é investir R$ 400 milhões nos primeiros anos da operação. Toda essa movimentação tem foco no potencial do mercado brasileiro. Embora os negócios tenham crescido a uma taxa de cerca de 10% ao ano, o índice de penetração na arrecadação do seguro no PIB ainda é de 6,4%, baixo em relação a outros países, diz Alfredo Sneyers, sócio e líder de seguros da PricewaterhouseCoopers Brasil (PwC). Segundo ele, é a inserção de novas classes sociais no mercado de consumo, nos últimos anos, que explica as boas taxas de crescimento no setor. E é a cultura do brasileiro, que ainda é reticente à necessidade de proteger seus bens, que indica o quanto a atividade pode ser ampliada no país. Entre os grupos que estão se expandindo na área corporativa, de altos riscos, o que não falta é otimismo. A Swiss Re Corporate Solutions Brasil Seguros, unidade de seguros comerciais do grupo Swiss Re, por exemplo, comemora um crescimento em 2014 de 30% no volume de prêmios. Todas as empresas sofrem com a turbulência macroeconômica e política, mas no médio e longo prazo o negócio continua promissor, diz o CEO da unidade, João Nogueira Batista. Segundo ele, trata-se de um mercado com crescimento reprimido e muito investimento a ser feito. Há uma defasagem de investimento em infraestrutura e na parte de pessoas físicas: com o crescimento da renda, um público maior passou a consumir mais saúde e previdência, entre outros tipos de seguro. O crescimento da Swiss Re Corporate Solutions, segundo Batista, foi puxado pela carteira de agronegócios e pela carteira do seguro garantia. Mas as outras linhas também começaram a crescer, diz. A meta é aumentar a participação na área patrimonial e de responsabilidade civil, que ainda é pequena. Na HDI-Gerling, entre as quatro linhas oferecidas desde o início do ano (propriedade, transportes, responsabilidade civil e engenharia), o carro-chefe tem sido o seguro de propriedades, que concentra 35% do volume de prêmios. O setor mais prejudicado, segundo León, é o de engenharia. A linha cobriría as obras que não estão sendo feitas por causa do ajuste fiscal. Mas o Brasil precisa desses investimentos e eles virão. Com 15 anos de mercado mundial e presença em 39 países, a HDI-Gerling tem aberto em média duas novas unidades no exterior por ano as mais recentes estão no Canadá, Cingapura e Bahrein, na Península Arábica. Na avaliação de Marcelo Mansur Haddad, sócio da área de seguros, resseguros e previdência do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marreyjr. e Quiroga Advogados, o entusiasmo das empresas internacionais com o país continua alto, mas há dois pontos a considerar. Alguns têm a percepção de que há muitos agentes e por isso uma alta competitividade, o que é relativamente bom para quem compra seguro, mas exige uma atenção maior das empresas, explica. A segunda questão é o grande ponto de interrogação acerca dos desdobramentos da operação Lava-Jato e outros episódios do gênero sobre alguns nichos do mercado. Essa onda prejudica, assusta, mas também indica que o país enfrenta questões como essas sem crises institucionais e sem radicalismos. Sinaliza para uma estabilidade de longo prazo, o que é importante para qualquer investidor, analisa Mansur. A Mattos Filho tem trabalhado menos do que nos últimos anos nas grandes operações no setor, até porque quase todos os grandes players já estão por aqui, mas prestou assessoria à maior transação da área de seguros em 2014: a aquisição, porRS 1,5 bilhão, de 100% do capital social da Itaú Seguros Soluções Corporativas pela ACE, empresa americana com sede na Suíça que oferece seguros e resseguros em o** países. ia cpuca uu negociação, em agosto do ano passado, a ACE informou que o objetivo da aquisição é complementar e aprofundar a presença do grupo no Brasil. Para enfrentar a concentração de mercado, as empresas têm procurado redimensionar estratégias e mostrar serviço. E nisso as estrangeiras estão em vantagem, porque têm a expertise internacional, diz o CEO da HDIGerling. A receita do CEO da Swiss Re Corporate Solutions para se diferenciar é parecida. Procuramos estar atentos à evolução das necessidades dos nossos clientes. Eles vão se sofisticando na administração de riscos e precisamos estar aptos a responder a isso. Uma das táticas da empresa é aliar o conhecimento de especialistas locais com inovações que vêm da matriz e assegurar serviços em pontos frágeis como a solução de sinistros. Nesse processo de redimensionamento de estratégias, alguns grupos ajustam seu posicionamento. A Itaú Seguros e a SulAmerica venderam suas carteiras de grandes riscos que foram adquiridas, respectivamente, pela americana ACE e pela francesa AXA Corporate Solutions. A SulAmerica anunciou o negócio no dia 21 de maio. O acordo no valor de R$ 135 milhões inclui as operações do seguro DPVAT. Gabriel Portella, presidente da SulAmerica, explica que a carteira gera RS 400 milhões em prêmios, mas o negócio de grandes riscos não está mais no foco da companhia cujo posicionamento está voltado para o varejo e o middle market. Além de chegadas, fusões e aquisições, outra movimentação tem chamado a atenção dos analistas do setor: a busca, de empresas locais, por mercados além das fronteiras brasileiras. O foco é a América Latina, mais especificamente Colômbia, Chile e México. Em dezembro, o Paraná Banco e a Travelers, por meio de sua holding de seguros JMalucelli Latam, adquiriram o controle acionário da Cardinal Compania de Seguros, empresa colombiana da área de seguro garantia. O grupo segurador brasileiro aguarda a autorização da Susep colombiana para concluir a operação no segundo semestre deste ano, informa a empresa. Em abril, foi a vez da Terra Brasis Ressseguros anunciar ter recebido sinal verde para operar no México. A empresa atua no Peru e tem autorização para operar na Colômbia, país que vem ganhando cada vez mais a atenção dos players do setor. No Final de 2014, a Swiss Re Corporate Solutions fechou uma participação na Confianza, importante player local. De acordo com Mansur, o processo de internacionalização das brasileiras requer uma ampla discussão com o Fisco sobre como eliminar barreiras tributárias para uma atuação regional. Para quem acha que há saturação de mercado e cautela por parte dos grandes grupos em avançar no Brasil, Solange Menda, da CNseg, é clara: Contaremos neste ano e em 2016 com um forte interesse internacional. Não é mais um crescimento exponencial, reconhece, mas um avanço acima de dois dígitos, o que é muito mais do que se observa em vários outros setores da economia.
Fonte: Valor