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O mercado como ele é … –

RAÇÃO DIÁRIA
Pelo menos ontem, a ração diária de US$ 100 milhões não fez falta ao mercado de câmbio. Investidores e devedores em moeda americana já vinham se preparando para este I o de abril sem swap novo depois que o Banco Central comunicou no dia 24 de março o encerramento do programa criado em agosto de 2013.
Um misto de declínio da moeda no exterior, motivada por indicadores inesperadamente ruins sobre o ritmo de recuperação da economia dos EUA, e confiança de que o governo Dilma Rousseff vai conseguir realizar a maior parte do esforço fiscal a que se propõe valorizou o real no primeiro dia do segundo trimestre. Vida nova? O mercado prefere operar um dia de cada vez. Ao menos ontem posições compradas em dólar, defensivas e especulativas, foram desfeitas e a moeda fechou em baixa de 0,58%, cotada a R$ 3,1725.
No mesmo comunicado do dia 24 em que externou sua decisão de interromper a oferta de novos contratos de swap, ou seja, formalizou o encerramento já esperado das vendas de dólares no mercado futuro, o BC assegurou a rolagem integral dos swaps velhos que forem vencendo “a partir de 1º de maio de 2015”. Nesse “a partir” está implícita a garantia de que não irá renovar “apenas” o lote de US$ 10,115 bilhões que vence no dia 4 de maio, mas todo o resto. E põe resto nisso: US$ 114,92 bilhões. Os analistas consideram tal garantia estendida e temerária demais, dado o impacto fiscal adverso da revalidação contínua desse estoque. Claro, na hipótese de o dólar continuar subindo. Os prejuízos do BC com os swaps foram enormes nos últimos dois meses. Em fevereiro, a perda foi de R$ 27 bilhões. E, na estimativa da RC Consultores, considerando-se que o dólar médio pulou de R$ 2,82 em fevereiro para R$ 3,20 em março, no mês passado o prejuízo cresceu para uns R$ 36 bilhões. “A continuidade dessas operações é questionável. O impacto fiscal desse programa não é adequado”, diz José Valter de Almeida, diretor da consultoria.
O programa de rolagem dos swaps poderia ser descontínua do por desuso na hipótese de se prolongarem as condições que impuseram o tombo de ontem. À determinação pessoal de Dilma Rousseff em levar o ajuste fiscal adiante deveria se somar um adiamento para 2016 do plano do Federal Reserve (Fed) de normalização das condições monetárias. Surpreendeu mais do que positivamente a entrevista dada pela presidente à agência Bloomberg. Depois dela, ninguém tem mais dúvida de que o ajuste fiscal elaborado pelo ministro da Fazenda não é só de Joaquim Levy, é de Dilma também. Mais que isso: é sobretudo de Dilma. A presidente mostrou-se disposta a colocar toda a sua sabida obstinação e toda a sua tremenda energia para obter o superávit primário combinado. Agora vai. Pelo menos ontem, foi.
O fator externo tem um peso decisivo no declínio do dólar. A situação dos EUA inspira cuidados, não obstante as esquizofrênicas bravatas de falcões do Fed. De novo, Dennis Lockhart, presidente da regional de Dallas, afiançou ontem que a economia vai se recuperar nesse segundo trimestre, tornando “bastante viável” a primeira elevação da taxa básica de juros desde 2006 entre junho e setembro. O mercado não acreditou e a taxa da T-Note de 10 anos escorregou de 1,93% para 1,87%. Um juro aquém de 1,90% é ridiculamente baixo para uma economia “prestes” a sofrer um aperto monetário. Os indicadores sugerem o retorno da “paciência” ao Fed. Primeiro foi divulgado um dado decepcionante sobre o mercado de trabalho. A pesquisa mensal da ADP, empresa que processa folhas de pagamento do setor privado, caiu pelo quarto mês consecutivo. Em março, foram criados 189 mil novos postos de trabalho (o mercado esperava 225 mil), ante 214 mil em fevereiro. Amanhã sai o relatório oficial de emprego do governo americano, o “payroll”, e os analistas não estão muito animados. Depois foi a vez de um dos principais índices do setor industrial. O ISM recuou de 52,9 em fevereiro para 51,5 pontos em março, num retrocesso mais acentuado do que o recuo para 52,5 prevista pelos economistas.
Ao cair nos últimos três pregões, o dólar está devolvendo o excesso de alta de março. No mês passado, a moeda valorizou-se 11,7% apesar de o fluxo de capitais mostrar-se positivo até o dia 27, último para o qual o BC tem dados disponíveis. No acumulado do mês até sexta-feira, a balança cambial contabiliza entrada líquida de US$ 1,19 bilhão, revertendo a perda de US$ 1,142 bilhão registrada em fevereiro. Como em janeiro houve superávit de US$ 3,903 bilhões, no acumulado do trimestre até o dia 27 sobraram no mercado US$ 3,95 bilhões. Não houve fuga de capital, houve especulação e medo de um aprofundamento da crise política.
Os juros caíram no mercado futuro da BM&F mais do que seria meramente suficiente para chancelar o declínio do dólar. Pesou adicionalmente a debilidade da indústria nacional. Em fevereiro, a produção despencou 9,1% frente ao mesmo mês de 2014. A indústria ainda não está sendo favorecida pela depreciação cambial. O dólar já está bom para exportar, acontece que a demanda externa é fraca. A produção industrial puxa para baixo as expectativas de crescimento econômico, ou seja, tornam mais dramáticas as de contração da atividade. Os contratos futuros cederam na suposição de que o ciclo de alta da Selic pode ser encerrado no final deste mês pelo Copom não com acréscimo derradeiro de 0,50 ponto, mas de 0,25. A taxa para a virada do ano caiu de 13,50% para 13,36%. O contrato para janeiro de 2017 baixou de 13,38% para 13,23%, enquanto que o contrato longo predileto do investidor externo, com liquidação em janeiro de 2021, recuou de 12,94% para 12,76%.

Fonte: Brasil Econômico

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