Falta de leitos causa seis mortes por dia nas UPAs do RJ, diz defensoria
O estado do Rio de Janeiro é o único que tem seis hospitais federais, mas a situação das unidades não é nada boa, segundo a Defensoria Pública da União do RJ. Segundo o defensor Daniel Macedo, as unidades de saúde estão em estado crítico: ele afirma que atualmente seis pessoas morrem por dia nas UPAs porque não conseguem leito de UTI e CTI. “Nas UPAs eu tenho uma porta de entrada, mas não tenho uma porta de saída. A situação é muito grave”, falou, em coletiva no centro do Rio nesta quarta-feira (17).O defensor classificou a situação da saúde do estado como “situação de terror”. Macedo ressaltou ainda o crescimento do estado em contrapartida com a diminuição ao número de leitos. “O estado perdeu mais de 4,2 mil leitos [entre municipais, estaduais e federais] entre 2010 e 2013 enquanto a população está crescendo”, relatou o defensor.O presidente da Cremerj, Sidnei Ferreira, afirmou que o déficit diário em toda a rede de saúde do Rio de Janeiro é de 150 a 200 leitos. “Se pelo menos um terço destes pacientes precisam de UTI, eles podem estar condenados a não sobreviver”, ressaltou Ferreira.Medicamentos e mão de obraA falta de médicos, de medicamentos, equipamentos, de materiais para a realização de exames e de infraestrutura são problemas recorrentes em hospitais federais do estado, ainda na avaliação da defensoria. O órgão ajuizou várias ações coletivas na área para a solução destes problemas.”Os profissionais de saúde não são bem remunerados, os hospitais federais estão sendo sucateados, não se sabe propositadamente ou não. O estado do Rio de Janeiro perdeu cerca de 4,2 mil leitos entre 2010 e 2013. O que é muito grave também é a falta de insumos e medicamentos de forma generalizada. Se nada for feito para reverter essa situação, outras pessoas poderão ir a óbito ou ter sua situação agravada”, afirmou Daniel Macedo.Segundo Julio Noronha, do SindMed/RJ o último concurso para os hospitais federais foi realizado em 2010 e segundo ele, o déficit de médico gira em torno de mil apenas nestas unidades.”A gente vem ajuizando ações civis públicas para tentar resolver a situação, mas não é suficiente. A gente encontrou 13851 pacientes em fila de espera para realizar uma cirurgia até dez anos”, falou Macedo.Hospital do AndaraíA Defensoria Publica pediu que fosse feita uma avaliação da Vigilância Sanitária na unidade no inicio do ano. Segundo Macedo, cadáveres, entulho, alimentos e lixo eram carregados no mesmo elevador, em algumas vezes ao mesmo tempo. Foram encontrados ratos entre pacientes do setor de oncologia, mofo, buracos no teto, sala de raio-x sem isolamento de chumbo, sala de espera do CTI com medicamentos no chão.Macedo afirmou ainda que a unidade ficou sem diretor por dois meses. Depois da posse da nova gestão, foi enviado um ajuste de conduta e o prazo para a assinatura é de 20 dias.”A propria vigilância sanitária disse que não tem condições de procedimentos de saúde na unidade”. O defensor disse ainda que o Hospital do Andaraí recebe R$ 110 milhões por ano.O presidente do Cremerj Sidnei Ferreira falou ainda sobre a falta de medicamentos para tratamento de pacientes com câncer na unidades e afirmou que a nova direção prometeu resolver os problemas. “Um novo diretor foi escolhido pelos profissionais que trabalham na unidade. Eles prometeram terminar as obras e contratar pessoal”, afirmou Ferreira.Hospital de BonsucessoDesde maio de 2013 ate 9 de setembro de 2014 foram feitos mais de 187 transplantes renais no Hospital Federal de Bonsucesso. Por outro lado, a área de transplante hepático foi fechada.”As equipes que faziam o transplante hepático foram para unidades privadas”, disse Macedo. Júlio Noronha acrescentou que metade da pediatria também não está funcionando.Os três conteineres que foram colocados de forma provisória para atender as vítimas das chuvas da Região Serrana, em 2011, e que serviam para atendimento dos pacientes durante a construção da emergência, ficaram permanentes. Cada um tem capacidade máxima de 30 pessoas, mas segundo Macedo, um número muito maior de pacientes é atendido. O aluguel custa R$ 318 mil reais – R$13 milhões de reais já foram gastos. Para a construção da emergência, seriam gastos R$ 8 milhões – os dados são de 2011.”Que paga é a populacao. É possivel que nestes hospitais nao tenham exames. Isso coloca em risco a vida população”, afirmou Júlio Noronha, diretor do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro.IntoA fila do Into tem atualmente 14.077 pacientes na fila, mas quando comparado com os hospitais federais, Macedo afirmou que a unidade se encontra em melhor situação.”Há dois anos a fila tinha mais de 21 mil pacientes. Em 2013, entraram no Into 5051 pacientes e realizadas mais de 5 mil cirurgias. Em 2014, 5705 pacientes e 4257 cirurgias”, disse Macedo. Segundo Daniel Macedo, o paciente do Into entra em um sistema informatizado e ele consegue acompanhar mês a mês a evolução do processo.Decisões desrespeitadas”Nós viemos percebendo que ações judiciais têm sido desrespeitadas, tanto nas ações individuais quanto nas ações civis publicas. Essas pessoas precisa, ter uma medida coercitiva: prisão, torna-los inelegíveis, a perda do cargo público. O poder judiciário tem que tomar um tom muito mais duro contra essa pessoas”, afirmou Macedo.Os hospitais Clementina Fraga, Hospital Universitário Gaffrée e Guinle e o Antônio Pedro vão passar uma fiscalização da Defensoria Pública.
Fonte: G1