Vendas do comércio surpreendem em maio e mostram ligeiro recuo
Apesar do ligeiro recuo de maio, o desempenho das vendas do varejo brasileiro caminha para fechar o segundo trimestre no azul e ajudar na retomada do crescimento econômico ao longo dos próximos meses, na visão dos analistas. De acordo com a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na passagem de abril para maio, as vendas do varejo no conceito restrito surpreenderam, com um recuo de 0,1%, já feitos os ajustes sazonais, quando os analistas esperavam, em média, uma alta de 0,4%. Sobre maio de 2016, no entanto, houve crescimento de 2,4%.
Já o varejo ampliado, que inclui vendas de veículos e materiais de construção, teve queda de 0,7% em relação ao mês passado, depois de ter subido 1,2% em abril, mesmo com esses dois componentes apresentando variações positivas na comparação mensal, O de veículos, motos e peças avançou 1,2% e o de material de construção, 1,9%. No confronto com maio do ano passado a alta foi de 4,5%, a primeira taxa positiva após 35 meses seguidos de baixa.
O que parece uma distorção do desempenho do agregado do varejo ampliado é justificado por fatores estatísticos, afirmam analistas de mercado. “Isso faz parte da dessazonalização. Sempre tem problema quando um subcomponente tem um ajuste sazonal independente ao do resultado agregado. É uma questão estatística”, explica Artur Passos, economista do Itaú Unibanco. “A gente vai achar várias diferenças na série histórica em que vamos ter restrito subindo, construção subindo, veículos subindo e ampliado caindo. E vice-versa para todas essas variantes”, complementa João Morais, da Tendências Consultoria.
Apesar do resultado geral da PMC mostrar recuo mensal na medição de maio, economistas projetam avanços no indicador, sobretudo no varejo ampliado, e contribuição positiva para o Produto Interno Bruto (PIB) do segundo e terceiro trimestres.
“Podemos esperar o varejo dando força para atividade no segundo trimestre. Confirmada nossas projeções para junho e, portanto, para o segundo trimestre, o cenário é de consumo favorecendo o PIB”, diz Morais, que espera para junho PMC com indicadores positivos na comparação com maio nos conceitos restrito (0,5%) e ampliado (2,1%).
Passos, do Itaú Unibanco, projeta estabilidade no varejo restrito em junho, na comparação com maio, e alta de 1,3% no ampliado, mas ele acredita que a contribuição do comércio varejista ao PIB só virá no terceiro trimestre. “O segundo trimestre do PIB é negativamente afetado pela devolução parcial da forte alta do PIB agropecuário e já tem um carregamento estatístico desfavorável das três pesquisas mensais [varejo, serviços e produção industrial] por causa do resultado de março. Então a base de comparação é menos favorável no segundo trimestre e a melhora que observamos agora reforça muito mais crescimento positivo do PIB no terceiro”, avalia Passos.
Segundo ele, a análise de cada componente dos dois agregados do comércio varejista sugere que “a recuperação da economia está ficando mais disseminada”. “Diversos setores mostraram crescimento no mês. Veículos estão num ritmo forte. Material de construção, supermercados, venda de combustíveis estão positivos”, acrescenta Passos.
Em termos anuais, cinco das oito atividades pesquisadas pelo IBGE dentro do comércio varejista apresentaram crescimento, com destaque para móveis e eletrodomésticos (13,8%), tecidos, vestuário e calçados (5%), e outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,6%). Apesar dessas sinalizações positivas, possível recuperação do varejo ao longo do ano ainda depende de melhoria no mercado de trabalho.
“O resultado do bimestre abril e maio é um resultado mais positivo para a maior parte das atividades do que foi o primeiro trimestre, mas precisamos lembrar que duas comemorações importantes ocorreram: em abril, a Páscoa e, em maio, o Dia das Mães. Vamos ter de aguardar principalmente a recuperação do mercado de trabalho, que apresenta perdas expressivas no número de carteiras assinadas, que é um trabalho que traz mais benefícios para o empregado, e, portanto, maior capacidade de consumo”, comentou Isabella Nunes, gerente da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE. “Este maio veio mais forte do que em outros anos por causa da recomposição da renda, mas esses resultados incidem sobre base muito baixa de comparação, que foi o ano de 2016.”
João Morais, da Tendências, descarta interferência da crise política no resultado das vendas do varejo em maio, quando as turbulências se acirraram por causa da divulgação do escândalo da JBS na metade do mês. Morais nota que não houve tempo para os indicadores de confiança registrarem abalo em maio e as vendas de veículos leves, numa análise quinzenal, seguiram em alta, conforme dados de emplacamentos da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
“Normalmente é um setor sensível a crises e ciclos econômicos, e quinzenalmente as vendas aumentaram desde a primeira quinzena de maio até a segunda quinzena de junho”, diz Morais.
Fonte: Valor