Vale contrata HP por US$ 1 bilhão
A mineradora Vale acaba de fechar um megaprojeto de tecnologia com a americana Hewlett-Packard (HP). Trata-se de um dos maiores contratos de TI já firmados com uma empresa brasileira. O contrato, conforme apurou o Valor, é de US$ 1 bilhão. A HP, por meio de suas operações internacionais, vai assumir a gestão da infraestrutura de TI da Vale, hoje espalhada em dezenas de países. O projeto é o maior firmado pela HP neste ano em todo o mundo, alcançando o porte do projeto de dez anos fechado entre a empresa e a companhia europeia de seguros Aviva, também de US$ 1 bilhão. Procuradas pela reportagem, a Vale e a HP informaram que não se pronunciariam sobre o assunto.
Ontem, a HP, a partir de sua matriz, na Califórnia (EUA), divulgou um comunicado sobre o contrato, mas conforme apurado pela reportagem, a negociação foi fechada pela subsidiária brasileira da HP. “Como se trata de um projeto global, eles preferiram centralizar a divulgação a partir da matriz”, disse uma fonte próxima às empresas.
Com prazo de sete anos, o contrato prevê que a HP consolide a infraestrutura de servidores (computadores de grande porte) da Vale, hoje distribuídos por 43 centros de dados em todo o mundo. O plano é reunir esses milhares de equipamentos em apenas três centros de dados, localizados no Brasil, no Canadá e em Cingapura.
Segundo informações divulgadas pela HP, o contrato inclui o uso de equipamentos de baixo consumo de energia. Além dos servidores, também será trocado todo o parque de PCs e de impressoras da Vale. O acordo inclui ainda a compra de laptops, terminais de acesso e dispositivos móveis. Todos os equipamentos usados da Vale, informou a HP, serão doados para escolas e instituições de educação próximas a locais onde a mineradora tenha presença.
Embora não tenha dado detalhes sobre o impacto do contrato em suas operações, a HP informou que o projeto fará com que a companhia amplie sua estrutura no Brasil. É comum, em grandes contratos de terceirização no setor, que o prestador de serviços contrate boa parte dos funcionários de tecnologia de seu novo cliente. De acordo com a consultoria IDC, a receita da HP no Brasil está próxima dos R$ 5 bilhões.
Procurada, a Vale não deu informações sobre a sua estrutura de TI. Segundo uma fonte ouvida pelo Valor, a mineradora conta com pelo menos 200 profissionais internos no Brasil, além de outros 800 terceirizados, dos quais 400 estariam ligados à EDS – empresa de serviços comprada pela HP – e a outra metade à Accenture.
Segundo analistas do setor, as características globais que envolvem o aparato tecnológico da Vale esgotavam qualquer possibilidade de um fornecedor brasileiro ganhar o contrato. “Fora a HP, hoje apenas a IBM ou a Accenture teriam condições de assumir um projeto dessa envergadura”, comenta um analista. Outra fonte afirma ainda que a Vale já era um grande cliente da HP. No ano passado, a empresa mexeu no atendimento à empresa e nomeou Eric Gorescu, executivo com mais de dez anos de mercado, que era responsável pela unidade de serviços da HP desde 2006, para dirigir o contrato global com a mineradora.
Não é a primeira vez que a Vale fecha um contrato de grande porte na área de TI. Em 2002, a companhia firmou acordo com a americana Oracle para instalar um sistema de gestão empresarial, unificando todas as áreas administrativas da empresa e aposentando sistemas antigos. A atualização do software fazia parte das movimentações da Vale para se adequar às regras da Sarbanes-Oxley, lei do governo americano que controla informações de empresas de capital aberto registradas nas bolsas americanas. Pelo contrato, o sistema da Oracle seria acessado por cerca de 15 mil usuários.
Agora, a partir dos serviços da HP, a Vale vai contar com o suporte técnico da companhia prestado em seis línguas e estendido para mais de 100 mil funcionários distribuídos em mais de 30 países. Além dos serviços de suporte ao usuário, a HP vai cuidar da estrutura de armazenamento de dados e operações de risco da Vale e gerenciar sua rede global de comunicação via internet.
Para oferecer os serviços, a HP vai usar sua estrutura mundial. A consolidação de um centro de dados em Cingapura tem, entre outros motivos, a intenção de distribuir mundialmente a estrutura tecnológica da companhia, estratégia conhecida como “24×7”, onde o suporte e os serviços nunca param de funcionar. Com outro centro de dados no Canadá, a HP manterá uma estrutura próxima das operações da Vale-Inco, subsidiária da Vale naquele país.
A decisão da mineradora de terceirizar a tecnologia é uma tendência que tem dominado boa parte da agenda e dos planos das maiores companhias do mundo. Basicamente, a ideia é passar para as mãos de grandes empresas tudo aquilo que é “commodity” e não tem relação direta com o negócio. O discurso, repetido à exaustão pelas grandes empresas de tecnologia, atrai cada vez mais usuários e fornecedores interessados neste mercado.
A HP, embora seja tradicionalmente reconhecida por suas impressoras, PCs e servidores, tem hoje mais da metade de seu faturamento mundial atrelado a serviços de tecnologia, um tipo de oferta em que seus equipamentos são atores coadjuvantes. Nessa semana, a fabricante de computadores Dell também resolveu reagir e anunciou a aquisição da prestadora de serviços Perot Systems, dos EUA, por US$ 3,9 bilhões. Com atraso, foi um contra-ataque à HP, que no ano passado comprou a EDS por mais de US$ 13 bilhões. Na terça, a empresa deixou de existir como marca, sendo rebatizada de HP Enterprise Services.
Fonte: Valor