Tarifa de energia cairá com venda da Eletrobras
A privatização da Eletrobras vai reduzir a tarifa de energia elétrica para o consumidor em médio e longo prazos. A afirmação foi feita nesta quarta-feira (2) pelo procurador federal e assessor especial do Ministério de Minas e Energia, Ricardo Brandão. Ele participou de audiência pública promovida pela comissão especial que discute o projeto do governo de desestatização da companhia (PL 9463/18). O encontro discutiu o impacto da privatização na conta de luz.
No agregado, tanto no curto prazo, em 2019, quanto em médio e longo prazos, quando já entram outros elementos que nem foram quantificados, de aumento de eficiência e redução de perdas, o desenho aponta para um impacto, na média, mais baixo para o consumidor, disse Brandão.
No ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) fez uma simulação, a pedido do Ministério de Minas e Energia, sobre o impacto da venda da Eletrobras nas tarifas. A simulação levou em conta três cenários de preço de energia elétrica, com a descotização das usinas da Eletrobras acontecendo nos anos de 2019 a 2021. Pelos cálculos da agência, a conta de luz cai entre -0,56% e -1,48% em 2019, e sobe entre 2,42% e 3,34% em 2021.
Brandão contestou que a descotização vá, necessariamente, elevar o preço das tarifas de energia. Atualmente 14 usinas da Eletrobras têm o preço de venda da energia regulado pela Aneel – são as chamadas usinas cotizadas. O projeto de privatização prevê que elas serão descotizadas, passando a vender energia a preço de mercado.
O assessor do ministério afirmou que a tarifa média das usinas cotizadas, em 2017, ficou em R$ 140 o megawatt-hora (MWh), valor que seria apenas um pouco inferior ao praticado no mercado. Ele usou como exemplo o leilão realizado pela Aneel no final de 2017, quando o MWh foi negociado ao preço médio de R$ 177,46 por MWh.
O secretário-adjunto de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Ildo Grüdtner, que também participou do debate, defendeu a privatização da estatal. Ele argumentou que a venda não busca resolver os problemas do setor elétrico, mas apenas capitalizar uma empresa que hoje não possui recursos para investir. A Eletrobras vai continuar brasileira, porém muito mais robusta, defendeu.
Também convidado, o diretor do Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Energético (Ilumina), Roberto Pereira DAraujo, sustentou que a crise da Eletrobras é responsável pelo aumento de tarifa de energia elétrica no País. Segundo ele, a estatal responde por apenas 1/3 da capacidade de geração elétrica do País. Se a tarifa é alta, a responsabilidade não pode ser da Eletrobras, apontou.
Parâmetros
O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) contestou a afirmação do governo de que a privatização não terá impacto sobre as tarifas de eletricidade. A Aneel fez o cálculo a partir de parâmetros definidos pelo ministério. É só mudar os parâmetros que altera a tarifa, disse. Ele lembrou ainda que a própria Aneel, em simulação anterior, apontou que haveria aumento de tarifa de 16,7%.
Conforme a deputada Jô Moraes (PCdoB-MG), as simulações não dão certeza de que haverá redução tarifária para o consumidor. Nós estamos saindo sem nenhuma certeza.
Já o relator do projeto de desestatização, deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), voltou a defender o texto do governo. Segundo ele, a estatal está literalmente quebrada. A Eletrobras se tornaria irrelevante no modelo atual, com a gestão atual, declarou.
O 1º vice-presidente da comissão, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), disse que a oposição esquece que o valor das tarifas também é afetado pelos encargos do setor elétrico e pelos tributos.
O secretário-adjunto do ministério, Ildo Grüdtner, informou que os encargos representam 19% da receita do setor, que é de R$ 150 bilhões por ano. O maior deles é a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que financia energias alternativas, como a eólica, além da universalização do serviço de energia elétrica.
Propaganda
Durante a audiência pública, deputados de oposição criticaram a publicidade favorável à privatização veiculada pelo governo na internet. De acordo com eles, as propagandas defendem a operação atacando a estatal.
Alessandro Molon (PSB-RJ) afirmou que a campanha publicitária pode gerar questionamentos na Justiça. Como o ministério faz uma propaganda dizendo que a empresa que ele quer vender está quebrada, empresa esta que tem ação em bolsa? Isso é da maior gravidade, declarou.
A publicidade governamental também foi questionada por Chinaglia, Jô Moraes e Glauber Braga (Psol-RJ).
Darcísio Perondi, por outro lado, apoiou as propagandas favoráveis à venda da estatal. Segundo ele, o governo está apenas mostrando para a população a situação da empresa. Por que a Eletrobras não pode mostrar à opinião pública o seu estado, a situação que não recebemos? O Brasil precisa saber, disse.
Medida provisória
Também tramita no Congresso Nacional uma medida provisória (MP 814/17) que abre caminho para a privatização da Eletrobras e de suas subsidiárias. O texto está em análise em uma comissão mista.
Fonte: Agência Câmara