Sobram dúvidas sobre saques do FGTS
O governo deve anunciar, na próxima semana, o cronograma de saques das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A estimativa é que sejam liberados de R$ 30 bilhões a R$ 35 bilhões para 30 milhões de trabalhadores. O calendário deve ser divulgado pelo presidente Michel Temer, em cerimônia no Palácio do Planalto. Segundo a assessoria da Presidência, a equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, quer injetar recursos na economia, “mas sem reativar a inflação, que se encontra sob controle do Banco Central”.
Hoje, Temer visita centenas de superintendentes regionais e gerentes-gerais da Caixa Econômica Federal (CEF) de todo o Brasil, reunidos em um hotel da cidade. Ontem, em encontro com funcionários graduados, a direção do banco estatal, que gerencia o fundo, mostrou-se preocupada com a operação, porque vem crescendo, e muito, a afluência de trabalhadores às agências para tentar sacar a conta inativa ou tirar dúvidas sobre a documentação. A Caixa estuda formas de minimizar os transtornos, como a abertura das agências nos fins de semana.
Pagar a faculdade do filho Johnny, de 21 anos, que deve mais de R$ 900 em mensalidades, é o objetivo de Elizabeth Nascimento, 44 anos. Ela conta que tem mais de R$ 1,1 mil presos em contas inativas por ter pedido demissão de três empresas em que trabalhou. “Não sei do que preciso e em que dia posso receber”, disse ela, ao entrar na fila de agência da Caixa em Ceilândia.
“Nesta semana, a maioria quer informação sobre o FGTS”, disse a atendente da agência, que encaminhou Elizabeth para o balcão de “programas sociais”. Mais de 30 pessoas já estavam à espera da única funcionária que tira extratos e informa que o saque ainda não é possível.
Mário Marques, caminhoneiro, 33 anos, casado e com três filhos, reclamava que, primeiro, passou para checar o saldo da conta inativa, “mas não está mostrando nada; está zero, zero”. Marques garante ter visto mais de R$ 1 mil na conta, pela internet, com a senha do Cartão Cidadão, fornecido pela Caixa. “Se receber, vou arrumar umas coisas no meu caminhão”, disse ele, reclamando da falta de atendentes para dar informações.
Casamento
Hélida Luriane Santana, 25 anos, atendente numa rede de lanchonetes, deu meia volta antes mesmo de atravessar a porta giratória da agência Caixa Taguatinga Centro. O guarda lhe informou que nem precisava entrar, “porque ainda não estão pagando” o FGTS.
Quem entra é dispensado na triagem para pegar senha. A funcionária explica com calma e entrega um pequeno panfleto onde se lê: “Caixa Informa: ainda não foram definidos os cronogramas de atendimento para o saque de saldo de FGTS de contas inativas”. O papel detalha ainda o passo a passo para saber o saldo do fundo. Mais de 600 pessoas passam diariamente pela agência. “Acho que uns 90% vêm aqui atrás dessa conta inativa”, disse a funcionária.
O desejo de Hélida é que a liberação do dinheiro possa ajudar o noivo, Eduardo, a pedi-la em casamento. Ele também tem conta inativa a sacar. Goiana, ela conta que o noivado de cinco anos ainda não desaguou em matrimônio por falta de recursos. “Vim procurar saber para mim e para ele, porque ele leu na internet”, disse Hélida. As dúvidas se multiplicam. “Tenho R$ 10 mil na conta inativa. Vou poder sacar tudo de uma vez ou vai ser parcelado?”, pergunta Luiz Dimas da Costa, 51 anos, arquivista, desempregado, morador de Águas Claras.
Fonte: Correio Braziliense
