Só PSOL e Força reprovam fusão entre Itaú e Unibanco
No Congresso Nacional, a fusão dos bancos Itaú e Unibanco mereceu análises diferenciadas ontem, sobretudo, no que se refere à interpretação da operação no contexto da crise financeira internacional e das iniciativas que o governo federal vem adotando para contorná-la, como a Medida Provisória nº 443, que permite ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal constituírem subsidiárias e a adquirirem participação em instituições financeiras sediadas no País.
Para analistas econômicos, a fusão, ainda que viesse sendo articulada há mais tempo, foi de certa forma precipitada pela crise financeira internacional, no propósito de conferir mais competitividade às empresas. De acordo com o que divulgaram o Itaú e Unibanco, a fusão vai abarcar cerca de 4,8 mil agências e postos de atendimento (representando 18% da rede bancária) e 14,5 milhões de clientes de conta corrente (18% do mercado). Em volume de crédito, representará 19% do sistema brasileiro, e em total de depósitos, fundos e carteiras administradas atingirá 21%.
“Sou contra”, disse a deputada federal Luciana Genro (PSOL-RS). Para ela, a união das duas empresas tende a encarecer os serviços bancários, pois vai contra a lógica da concorrência, ou seja, representa uma concentração de capital. “Isso vem em detrimento do consumidor.” Genro também se declarou contrária à MP 443, neste caso por interpretar que a proposição vai servir como uma espécie de saco de bondades do governo federal em socorro do sistema bancário.
Se Genro está correta ou não, no que se refere ao mercado de seguros, o conglomerado Itaú-Unibanco de saída desponta com operações calculadas em mais de R$ 65 bilhões, com atendimento a mais de 2 mil grupos econômicos no Brasil. Conforme as duas empresas divulgaram, o negócio de private banking será o maior da América Latina, com aproximadamente R$ 90 bilhões de ativos sob gestão. É o que a parlamentar aponta como “concentração de capital”.
O vice-líder dos democratas José Carlos Aleluia (DEM-BA) não recebeu a notícia da fusão com alarde. No entanto, ele preferiu analisar a importância da MP 443, em relação ao contexto e ao sinal do mercado bancário, que, ao menos quanto à fusão do Unibanco e Itaú, desponta como um símbolo de saúde do segmento. Aleluia se preocupa com a hipótese de o governo federal ter se precipitado com a medida que se presta à compra de bancos que estejam em situação de insolvência. “Eu não sou desfavorável a essa medida, o que sou contrário é a que os protagonistas da compra sejam o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, deveria esse papel ser exercido pelo Tesouro”, explicou.
Aleluia detalhou que o governo federal, para responder à crise, com a MP 443 criou um novo canal para resolver prováveis problemas de liquidez da rede bancária, depois de trilhar a opção “com o compulsório, o redesconto e os leilões de dólares”. “É como se o governo estivesse dizendo, se o mercado não resolver, eu vou entrar. Portanto, não entendo que houve uma precipitação, o que nós não aceitamos é ter o Banco do Brasil e a Caixa nessa situação, se fosse com o Tesouro seria mais transparente”, detalha o democrata baiano.
Neste caso, Aleluia traduz a posição de seu partido de que a MP 443 atenta contra os princípios da transparência e da publicidade, quando retira o Tesouro da condição de ator principal nessas operações. “É imperativo que o povo e o Congresso Nacional conheçam e deliberem sobre a quantia a ser disponibilizada pelo governo para fazer frente aos desafios da crise. Assim, na linha exposta acima, convém que o volume de recursos a ser utilizado tenha dotação orçamentária própria”, diz nota oficial do DEM.
Em meio aos tucanos, o líder José Anibal (PSDB-SP) preferiu salientar a informação de que a fusão entre Itaú e Unibanco não pode ser atribuída exclusivamente à crise. “Uma operação dessas não se constrói ao longo das três semanas, que é o tempo da crise”, calcula o deputado. “Creio por outro lado que a situação de crise possa ter antecipado a fusão, mas certamente ela não é resultado de uma improvisação. O que está circulando é que essas conversas vem sendo feitas há pelo menos quinze meses”, disse Aníbal.
Afora essa vinculação, José Aníbal elogiou a novidade. “É normal, é bom, pois, em princípio, conforme tem sido noticiado, passamos a ter um banco com dimensão mundial”.
Força quer atuação do BC
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, divulgou nota à imprensa ontem afirmando que a entidade avalia que a fusão entre o Itaú e o Unibanco pode ser o começo de uma concentração predatória, “que poderá gerar monopólio num setor estratégico para o desenvolvimento do País”. A nota diz que o Banco Central deverá ter um papel importante daqui para frente. “É importante também que o Banco Central fiscalize com rigor esta reorganização dos bancos, de forma transparente para que um eventual ônus não seja pago por toda a sociedade brasileira.”
Fonte: DCI OnLine