Sinais para acreditar que 2017 será melhor – RIBAMAR OLIVEIRA
O ano termina com duas boas notícias, que reforçam as esperanças de que 2017 registrará a saída do Brasil da maior recessão econômica de sua história. A primeira é a queda da inflação em ritmo acima do esperado por quase a totalidade dos analistas. Isso abre espaço para que o Banco Central promova uma redução mais rápida e forte da taxa de juros.
A outra é que o presidente Michel Temer está resistindo às pressões, que partem de dentro de seu próprio governo e de líderes políticos da base aliada, para que adote as mesmas medidas de estímulo que deram errado em passado recente, servindo apenas para desequilibrar ainda mais as contas públicas e desorganizar a economia.
A decisão de Temer de não fazer “feitiçaria” deve ser louvada. Ela reforça a percepção dos agentes econômicos de que o governo vai persistir nas reformas estruturais e adotar medidas microeconômicas que melhorarão a produtividade da economia, com impactos duradouros no crescimento a médio e longo prazos.
As nuvens negras que estão no horizonte de 2017 resultam, principalmente, do temor de que a Operação Lava-Jato, com suas dezenas de delações premiadas, possa desestabilizar o governo e impedir a continuidade da atual política econômica. Esta é uma questão, no entanto, que só poderá ser resolvida quando as delações forem tornadas públicas pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), responsável pelo processo no âmbito do Supremo. Até lá, o importante é que o governo não fique paralisado.
Outra dificuldade do governo será administrar a ansiedade de sua base política até que a retomada da economia se consolide. No primeiro momento, um dos erros da atual equipe econômica foi embarcar na ilusão – compartilhada, é bom que se diga, pela maioria dos analistas do mercado – de que a recuperação da atividade já ocorreria no quarto trimestre deste ano.
Achava-se que, como ocorreu no passado, o aumento da confiança dos empresários em decorrência da política econômica do novo governo levaria à retomada dos investimentos, o que resultaria em uma rápida recuperação da atividade. Não foi o que se verificou, em decorrência, principalmente, do elevado grau de endividamento das famílias e empresas.
Como a recuperação da economia não veio, o desânimo se alastrou pelas hostes governistas. “A pior coisa é a frustração”, observa a economista Silvia Maria Matos, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Desde meados deste ano, o Ibre já vinha chamando a atenção para as dificuldades da retomada ainda em 2016 e sua projeção para o crescimento em 2017 era de apenas 0,6%, quando a maioria dos analistas ainda projetava 1% ou mais.
O mercado reviu, para pior, suas estimativas para o próximo ano. O Ibre também, em menor intensidade, fazendo um pequeno movimento para baixo em sua projeção, que agora é de crescimento de 0,3%. A mediana das projeções do mercado está em 0,58%, de acordo com o Boletim Focus, editado pelo Banco Central, desta semana.
Na avaliação de Silvia Matos, o primeiro trimestre do próximo ano ainda poderá registrar uma pequena retração da economia, com uma estabilização no segundo trimestre. A retomada, portanto, ficaria para o segundo semestre. A economista do Ibre considera que o governo construiu as condições para que a economia volte a crescer, com a forte queda da inflação e com a aprovação da PEC do teto para o gasto da União. Ela informa que trabalha com a perspectiva de que Selic (a taxa básica de juros da economia) caia para 11% até o fim de 2017.
Ontem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse aos jornalistas que não conta com um crescimento positivo do PIB no primeiro trimestre, embora ele considere que existe essa possibilidade. As boas notícias nessa área, portanto, ainda podem demorar.
Ainda pode demorar também a redução do desemprego, embora haja indícios animadores também nessa área. O economista Bruno Ottoni Eloy Vaz, também do Ibre/FGV, observa que desde setembro está ocorrendo uma forte recuperação do emprego informal (aquele sem carteira assinada e por conta própria), de acordo com dados com ajuste sazonal. O economista chama a atenção para o fato de que, como a série sobre esse tipo de emprego é curta, proveniente da PNAD Contínua iniciada em março de 2012, é possível que tenham surgido algumas distorções ao longo do processo de ajuste dos dados.
De qualquer maneira, ele não tem dúvidas de que parte da recuperação do emprego poderá vir da informalidade. Mesmo porque as projeções do Ibre apontam para um fechamento de 138 mil empregos na economia formal no próximo ano. Assim, apenas em 2018 haveria crescimento do emprego com carteira assinada. “Emprego com carteira assinada depende de um PIB mais forte”, observa Silvia Matos. O Ibre estima um crescimento de 1,8% da economia em 2018. Em 2017, o IBRE projeta uma leve piora do desemprego, que ficaria em 11,8% contra 11,5% neste ano. A recuperação do emprego é mais lenta.
Outro indício importante sobre a recuperação da atividade foi revelado pela arrecadação de tributos federais em novembro. Pela primeira vez, a receita federal apresentou crescimento real, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Isso quando se exclui o resultado de outubro, que foi afetado pelo ingresso de uma montanha de recursos da regularização de ativos de brasileiros mantidos no exterior de forma ilegal, uma receita extraordinária.
O aumento real em novembro foi pequeno, de apenas 0,11%. Mas significativo no contexto bastante negativo deste ano. O chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros, Claudemir Malaquias, informa que esse “movimento positivo” da arrecadação está se repetindo em dezembro. E ele está ligado, em boa parte, ao aumento do consumo. Mesmo assim, Malaquias acha que é muito cedo para dizer se a receita chegou a um ponto de inflexão. Mas é um indício animador.
Fonte: Valor