Setor de seguros deve manter crescimento de dois dígitos
O setor de seguros deve manter crescimento de dois dígitos em 2023, segundo projeções da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg). A entidade prevê avanço nominal de 10% da arrecadação neste ano para a indústria.
A previsão tem como base uma visão mais otimista para o crescimento da economia em relação ao consenso do mercado.
A CNSeg pondera haver um potencial maior para a expansão da atividade do que o esperado atualmente.
Enquanto a pesquisa Focus, do Banco Central, que ouve economistas e analistas das instituições financeiras, aponta, na mediana das estimativas, para um avanço de 0,80% do PIB em 2023, a confederação acredita que a alta vai atingir 2,2%.
Sobre a diferença, o presidente da CNSeg, Dyogo Oliveira, afirma que as projeções da entidade incorporam uma expectativa sobre os efeitos dos estímulos previstos na PEC da Transição sobre a economia. Essa injeção de recursos pode dar fôlego à atividade produtiva e ajudar o setor de seguros, aponta.
Acho que a maior parte do mercado ainda não incorporou essa questão, mas, em algum momento, as projeções devem começar a se ajustar.
Em análise conjuntural divulgada pela entidade em dezembro, pesquisadores da CNSeg avaliam que estímulos fiscais no montante aprovado podem adicionar pontos de crescimento nas projeções do PIB. Conforme o documento, R$ 150 bilhões representam 1,6 ponto percentual do PIB acumulado nos últimos quatro trimestres, até o terceiro trimestre de 2022.
Na visão de Oliveira, que é economista e ex-ministro do Planejamento do governo Michel Temer, as preocupações com a questão fiscal tendem arrefecer ao longo do ano. Não acredito que o lado fiscal vai ser tão afetado em virtude dos valores da PEC, estamos saindo de pandemia e é compreensível que tenhamos foco nas pessoas e setores que foram mais impactados, diz.
A retomada do investimento público é necessária.
O CEO da Essor, Filipe Alves, afirma trabalhar também com um cenário de expansão de dois dígitos neste ano. Acredito que seja possível crescimento de dois dígitos [para o setor de seguros como um todo] e podem ter alguns segmentos com crescimento mais acentuado, por exemplo, agronegócio, que tem potencial de aumento da penetração de seguros com maior cobertura de áreas cultivadas.
A Fitch tem uma projeção de crescimento de prêmios para o setor consolidado de 7,3% em 2023.
A visão um pouco menos otimista da agência de classificação de riscos incorpora o impacto da inflação sobre os custos de sinistros. Apesar da tendência consolidada de crescimento dos prêmios, a inflação persistente pode pressionar ainda a taxa de sinistralidade em linhas mais sensíveis aos aumentos de preços [na economia], avalia o diretor sênior Eduardo Recinos, em relatório.
A agência estima que o ano passado tenha chegado ao final com um IPCA de 6,5%, enquanto 2023 deve terminar com um índice de inflação de 5,2%.
O diretor comercial e de marketing da MAG Seguros, Nuno David, também enxerga 2023 como um ano de crescimento para o setor. Nós temos nossa análise dentro de casa e projetamos a continuação desse crescimento [visto em 2022], pontua.
A perspectiva de uma economia em expansão é positiva, porque qualquer expansão do PIB ajuda [o mercado segurador].
O setor pode se beneficiar neste ano de uma potencial redução de sinistralidade em vários ramos importantes de seguros, como o auto, vida e agro. A gente tem uma expectativa de sinistralidade menor em 2023 do que foi em 2022, pondera Alves.
O ano passado foi muito difícil, por exemplo, na questão climática, tanto no Brasil quanto no mundo, como seca na Austrália e no Brasil, enchentes na Europa e furacões e neve nos EUA, explica o CEO da Essor.
A expectativa [da indústria securitária] é de um ano mais calmo em termos de eventos climáticos. De acordo com o presidente da CNSeg, em 2022 tivemos ainda consequências da pandemia, além do crescimento da sinistralidade de seguro auto, como resultado de aumento de preços de peças, veículos, serviços e assistência veicular.
Além disso, no rural tivemos dois anos seguidos de eventos climáticos severos, que, somados, resultaram em R$ 17 bilhões de indenizações só nesse ramo e esperamos que, neste ano, não aconteça de novo outra crise climática tão severa.
David, da MAG, compartilha a visão sobre a tendência para a sinistralidade no setor. Existe expectativa de queda de sinistralidade em 2023 na comparação com o ano passado, pondera. Mas a grande diferença em termos desse indicador ocorreu na passagem de 2021 para 2022. Então tende a ser menor neste ano, mas não tanto quanto ocorreu.
A inflação mais persistente pode pressionar custos das seguradoras, mas, por outro lado, pode ajudar os resultados financeiros.
Isso porque, nesse cenário, o Banco Central pode manter a taxa de juros em patamar elevado por mais tempo. A Fitch aponta que uma Selic em dois dígitos ao longo de 2023 pode impulsionar os resultados financeiros das seguradoras brasileiras, uma vez que a maioria dos portfólios das companhias está exposta a títulos públicos ou papéis privados influenciados pela taxa básica.
Para Alves, da Essor, as seguradoras, em condições normais, tendem a se beneficiar de uma taxa de juros mais alta.
Apesar da ajuda do desempenho financeiro para os balanços, o executivo ressalva ver o setor muito mais focado na melhora operacional mesmo em um ambiente de juros elevados. O enfoque hoje [do setor] é muito mais pelo lado operacional para evitar o que já aconteceu no passado de depender do resultado financeiro.
O crescimento de 10% estimado pela CNSeg para 2023, porém, ficará bem abaixo de 2022 e mais em linha com a expansão de receitas vista em 2021, de 11,8%.
A entidade projeta que o setor tenha fechado o ano com um avanço consolidado de 17,1%.
De acordo com a entidade, os dados de 2022 até outubro mostram que o segmento de danos e responsabilidades (sem DPVAT) movimentou R$ 93,5 bilhões em prêmios. Do total, o segmento de cobertura de pessoas registrou alta de 27,5%.
Já os planos de risco arrecadaram R$ 49,8 bilhões, com crescimento de 13,5%, e os planos de previdência privada aberta subiram 13,7%, aos R$ 127,8 bilhões, em termos de contribuições.
Outro destaque em 2022 foi a capitalização, que ultrapassou os números pré-pandemia e acumulou R$ 23,4 bilhões em faturamento, com expansão de 16,8% em dez meses de 2022, na comparação com o mesmo período de 2021.
Conforme a confederação, há ainda tendência de retomada da lucratividade das empresas, após períodos difíceis vividos pelas seguradoras nos últimos anos, com o desembolso de indenizações relacionadas à covid-19 e aos eventos climáticos extremos ocorridos entre 2021 e 2022.
Até novembro de 2022, o lucro acumulado das seguradoras no país passou dos R$ 15,7 bilhões, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep), consolidados pela Siscorp.
O valor mais do que dobrou frente aos R$ 7,12 bilhões no mesmo período de 2021.
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