Setor de seguros deve dobrar em até 4 anos
O mercado de seguros no País corresponde hoje a 3% do Produto Interno Bruto (PIB), mas segundo Dalmo Claro de Oliveira, presidente da Unimed Seguros, a estimativa é que ele dobre em quatro anos. Além disso, o executivo disse que o Brasil está em boas condições econômicas, colhendo os frutos da estabilidade da moeda e do crescimento.
Para falar sobre todos esses temas de relevância nacional, Oliveira concedeu entrevista ao programa Panorama do Brasil, apresentado por Roberto Müller e que irá ao ar hoje pela TVB. Participam também da entrevista, o editor de Finanças do DCI, Márcio Rodrigues, e Milton Paes, da rádio Nova Brasil FM.
Roberto Müller : Eu gostaria que o senhor desse um panorama de como está o setor. Eu li recentemente um levantamento do IBGE que informava que as famílias brasileiras já gastam mais com saúde do que o próprio governo. Isso então gera um crescimento de um lado, mas mostra uma deficiência do outro. Gostaria que o senhor desse mais informações desse importante setor que toca todas as famílias.
Dalmo Oliveira: Bom, o sistema de planos de seguros de saúde tem avançado muito, beneficiado pelo crescimento econômico do Brasil nos últimos anos, principalmente pela estabilidade da moeda. Hoje, o sistema de cooperativas Unimed detém aproximadamente um terço do mercado de planos de saúde do País. Algo em torno de 36 milhões de usuários, fora os usuários de odontologia que contam com mais 8 ou 9 milhões. Mas só de assistência médica, o sistema detém um terço dos usuários do País. Temos 370 cooperativas e 110 mil médicos cooperados. E esse sistema cooperativo todo, por meio de participações societárias, umas com maior participação e outras com menor, compõe a Unimed Seguros que tem o papel de oferecer o seguro saúde que é um produto um pouco diferente do plano de saúde. Então, nós atuamos nessa área de seguros de saúde e também na área de vida e previdência com o foco mais forte em nosso nicho de mercado, visando suprir as necessidades do mercado de seguro saúde.
Milton Paes: Mas qual seria a diferença do seguro saúde para o plano médico que conhecemos Dalmo?
Dalmo Oliveira: Na realidade, hoje as diferenças diminuíram um pouco. Os planos até 1998, quando foi promulgada a Lei 9.656 que regulamentou os planos de saúde, tinham uma diversidade muito grande. Havia planos só para a consulta, só para exames, outros só para internação, planos que davam isso e não davam aquilo, então o sistema comportava alguns abusos. Por causa disso que surgiu a preocupação do governo, dos deputados e senadores em regulamentar o setor. Depois da regulamentação, ficou muito mais hermético porque reduziu a possibilidade de variar, o plano é uma commodity, podemos até chamar assim, porque a própria Lei 9.656 acabou engessando e trazendo alguns prejuízos. Bom, de qualquer maneira, após a lei ficou um produto bastante definido. A diferença do seguro saúde é basicamente o seguinte: primeiro, o seguro não tem rede própria e referenciada, já o plano de saúde tem. Então, no caso do plano, apesar de todas aquelas coberturas que a Agência Nacional da Saúde (ANS) coloca, o vendedor pode dizer que a rede que vai atender esses usuários e oferecer os serviços. Dizendo “essa é minha rede, meu hospital e meus ambulatórios”. Enquanto o seguro saúde tem a rede aberta e pode até referenciar uma rede, indicando as que quiser, mas o usuário pode ir nos outros também. Segundo: no seguro existe obrigatoriamente a figura do reembolso. O assegurado vai, usa o serviço de saúde, tem seu atendimento, paga e é reembolsado dentro da tabela que ele contratou. Talvez essa questão seja a maior diferença entre os dois planos, porque permite a livre escolha dos serviços.
Milton Paes: Na questão do seguro eu quero o meu médico, que não faz parte da Unimed, aí eu teria que usar o reembolso. Aí o médico vai chegar lá e colocar o valor da consulta dele, de R$ 200. Como é que vai ser o reembolso: a Unimed vai reembolsar esses R$ 200 ou vocês utilizam um parâmetro?
Dalmo Oliveira: No caso do seguro saúde, se o segurado vai na rede referenciada já existem mecanismos para a própria rede fazer a cobrança da própria seguradora. Isso resolve a necessidade do assegurado de desembolso no momento da prestação do serviço. Mas um percentual de 5% a 10%, na média do mercado, de pessoas realmente vão no médico de sua escolha que muitas vezes não está no rol de referenciados, paga o serviço, consulta, o exame clínico, o Raio X, ou o procedimento cirúrgico. Depois reembolsa na tabela que ela contratou. No exemplo que você usou, por exemplo, os R$ 200 para a consulta. Se na tabela que ela contratou ela pode ser reembolsada em consulta apenas no valor de R$ 150, então ela vai receber apenas esse valor. Se ela for num profissional que cobra R$ 130 ela é reembolsada nos R$ 130.
Roberto Müller: Mas ela pode contratar uma tabela maior.
Dalmo Oliveira: Claro. Hoje existem tabelas na Unimed Seguro de reembolso de até 10 vezes os valores da tabela de honorários da Associação Médica Brasileira, com o valor referencia de R$ 42 a consulta. Então, ela pode contratar um plano de até R$ 420 a consulta.
Milton Paes: Esse valor hoje Dalmo é superior ao do SUS né?
Dalmo Oliveira: Do SUS eu não saberia ainda o que te dizer, porque hoje existem algumas variações que em algumas cidades existem gestões plenas de saúde e então elas têm a prerrogativa de praticar um valor ou um sistema de pagamentos de médicos, por consulta, por mês, etc. Mas a consulta do SUS deve estar girando em torno de R$ 10. O sistema tem alguns valores muito baixos que comprometem até o próprio atendimento.
Márcio Rodrigues: O senhor mencionou há pouco a lei que trouxe mudanças para o setor como um todo e citou prejuízos. Eu queria saber o que essa lei trouxe de mudanças para o setor?
Dalmo Oliveira: Nós entendemos que a regulamentação era necessária. Na época existia muita dificuldade no assunto porque é um setor muito complexo. A maioria dos legisladores não tinha uma formação nessa área, apesar do conhecimento em legislação, faltava um pouco de conhecimento específico da área de saúde e, mais especificamente, de assistência médica. Na época já se dizia que essa lei não estava boa, não estava perfeita, mas foi o possível. Pois bem, eu acredito que era necessária para regulamentação do setor e a lei foi boa, porque trouxe uma série de benefícios. Assegurou um número muito grande de direitos de coberturas e acesso ao serviço por parte dos clientes. Alguns planos extrapolavam muito, colocavam limite de internação de 60 dias, limite de UTI de 30 dias. Como é que fica um indivíduo que está numa situação grave como essa, vai procurar o SUS?
Quanto às dificuldades da lei eu diria o seguinte: primeiro ela engessa os produtos que estão sendo oferecidos e você tem que dar todas as coberturas. Mas acontece que as coberturas são caras. Eu tenho que dar transplantes renais, transplantes de córnea, tratamentos de diálise e Aids. São procedimentos muito onerosos em que temos uma obrigação de estado em oferecer. Ora, enquanto a medicina suplementar vem para ajudar a dar uma qualidade diferente ao assegurado, ele só encontra o produto top na prateleira. Porque ele poderia dizer “o que eu posso pagar é um produto de exames básicos, com cirurgias comuns de hérnia, estômago, vesícula e varizes. Mas eu não quero pagar um plano que me dê cobertura para transplantes onde eu poderia usar o SUS”. Acontece que a lei não permite, e agora temos dificuldade de chegar na classe C e D. Tecnicamente nós chamamos isso de subsegmentação dos produtos. Existem várias alternativas no mercado, muita gente diz: “eu não me incomodo em pagar consultas, mas não agüento pagar exames”, então eu poderia oferecer um plano só para exames. Segundo ponto importante: por meio da Agência Nacional de Saúde [ANS], o setor de plano de saúde de pessoa física é um dos poucos em que há regulação de preços. Então o reajuste anual não obedece a critérios técnicos da operadora, ou a região que está inserida. A ANS divulga anualmente um índice que tem um componente político sim, porque observa os componentes claros da população como custo de vida, e esse índice não supre o aumento de custos do setor anual. Como conclusão, há um prejuízo das seguradoras que não conseguem recompor seus preços por conta de uma restrição do reajuste anual.
Roberto Müller: A Unimed não age apenas no setor de saúde, mas também no de vida e previdência. Esse segmento é muito importante para a sociedade e gostaria de ouvir o senhor falar sobre como a empresa está inserida nesse ramo.
Dalmo Oliveira: O sistema Unimed existe há quase 41 anos, fundado em Santos. Há 19 anos sentiu a necessidade de ter uma seguradora por conta de uma sinergia e a necessidade de complementação: seguro de saúde, seguro de vida embutido no de saúde e assistência funeral. Uma necessidade de ter esses produtos ligados ao serviço de saúde.
Roberto Müller: Os primeiros clientes devem ter sido os próprios médicos, não é?
Dalmo Oliveira: Com certeza. Os médicos e os usuários dos planos de saúdes da Unimed. O sistema conta com 4,4 milhões de segurados no ramo de vida, pois são pequenos seguros embutidos nos planos de saúde das Unimeds. Do total de usuários que eu mencionei anteriormente, existem pequenos planos de saúde, R$ 2 ou R$ 3 mil em pequenos seguros de vida, assistência funeral, damos cobertura residencial, àquela necessidade quando estoura um cano em casa.
Milton Paes: Seguro contra incêndio também?
Dalmo Oliveira: Não. Nós operamos no ramo de saúde, vida e previdência. Para operar esse tipo de ocorrência de patrimônio nós teríamos que constituir uma terceira seguradora com outro capital.
O setor de vida e previdência tem crescido muito no Brasil. Só para citar alguns números, o setor de seguros do Brasil equivale a 3% do PIB. Há uma estimativa dele dobrar em três ou quatro anos, passando a ser 6% do PIB. Como o PIB também vai crescer, vamos observar que o setor também vai aumentar de tamanho. No mundo, se eu não me engano, o segmento movimenta algo em torno de US$ 4 trilhões e tende a crescer na faixa de 3% ao ano. Porém, no Brasil ele cresce muito mais. Nós éramos há pouco tempo o 18º mercado de seguros do mundo e hoje estamos em 13º. Então quando vemos esses números nós começamos a entender porque nosso país é emergente e tende a crescer. Até pouco tempo atrás nós ouvíamos falar que entre os Brics [Brasil, Rússia, Índia e China] nós éramos talvez os mais fraquinhos dos quatro, mas agora podemos observar que podemos ser talvez a estrela do momento. Em certos aspectos nós estamos até melhores que a China. Nós somos o sexto produtor de automóveis, crescemos em seguros, em termos de mercado farmacêutico, estamos entre o sexto mercado do mundo.
Márcio Rodrigues: Eu gostaria de falar sobre o crescimento da previdência complementar no Brasil e o estudo da criação de uma superintendência para acompanhar a previdência privada no País. Essa criação é necessária para esse setor que está em amplo crescimento?
Dalmo Oliveira: Eu tenho uma opinião particular que, às vezes, há uma tendência da sociedade em criar muitos órgãos de regulamentação. Eu acho que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) tem provido muito bem a regulação da previdência operada pelas seguradoras. Como também o Ministério da Previdência faz a fiscalização, por meio da secretaria de previdência complementar, dos fundos fechados e das empresas. Então eu, particularmente, acho que o setor está bem regulamentado, existem normas muito rígidas de fiscalização, então não vejo isso como uma necessidade. Porém, o mercado de previdência está crescendo muito pelo desenvolvimento econômico e pela uma crescente conscientização do governo em prover uma previdência adequada à população no futuro. Até usando outros países como Itália, Estados Unidos, a Europa mesmo que sofrem para manter a gestão financeira de suas previdências.
Roberto Müller: Quais são os tipos de produtos da previdência complementar que os senhores oferecem e quais as vantagens de quem adere aos planos?
Dalmo Oliveira: Basicamente são divididas como previdências abertas, que são oferecidas por nós, então qualquer pessoa pode ir lá e comprar uma previdência da Unimed Seguros ou Itaú, Banco do Brasil, etc. E existem as previdências fechadas, uma empresa monta um fundo fechado de pensão que é uma ação entre amigos e muitas vezes pode não dar certo. Haja vista aquele fundo de pensão das empresas aéreas, a Vasp quebrou, depois a Varig se tornou inadimplente, e os participantes ficaram sem parte ou sem toda a sua previdência complementar.
Na previdência aberta o cidadão compra uma previdência e existe uma obrigação da seguradora cumprir com o que foi contratado com base na lei. Nesse mesmo item nós temos três tipos: a previdência tradicional, que não é mais comercializada por ser antiga, Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) e Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL). A primeira eu contribuo com a seguradora que vai fazer uma gestão para crescer a minha reserva. Lá na frente você vai fazer uma opção de sacar todo o recurso ou receber todo aquele valor num prazo determinado, ou até para o resto da vida. Eu como expert em previdência vejo vantagem na aberta, não quero que ocorra como no caso da fechada que dura até que acabe a reserva. Se eu calculei mal e vivi mais que o meu dinheiro, sofro as conseqüências. Na seguradora não. Ela me paga até o fim da vida. No VGBL a diferença é mais tributária, pois ela não é abatida do imposto de renda.
Márcio Rodrigues: Em meio a um período de turbulências dentro do mercado, vocês que atuam com previdência têm que garantir uma rentabilidade desse patrimônio. Quais as dificuldades que a Unimed e as demais seguradoras estão enfrentando para manter a rentabilidade?
Dalmo Oliveira: Nos planos de PGBL e VGBL o participante adere a um determinado fundo. Temos fundos 100% em renda fixa que é uma alternativa, mas a rentabilidade pode ser comprometida caso caia os juros. Temos fundos de 15% variável e 85% fixa.
Nesse caso a história nos mostra que a renda variável vai render um pouco mais do que a fixa, é um pouco mais agressivo. Existem alguns de 49% de renda variável, mas se você pega a renda variável num momento desse, de turbulência, as reservas dos participantes caem muito.
Fonte: DCI OnLine