Setor de seguros aguarda a ofensiva do Banco do Brasil
A crise do sistema financeiro internacional deve se transformar em uma grande oportunidade de crescimento para a área de seguros do Banco do Brasil (BB). A instituição já anunciou que vai mudar seu modelo de atuação no setor, e a expectativa é de que o banco público comece a adquirir participações em empresas que estejam em dificuldades no momento, ou em áreas onde veja boas oportunidades. Já há rumores que dão conta de uma negociação entre BB e SulAmérica, em que o banco compraria 40% de participação no setor de veículos da companhia de seguros.
O presidente do BB, Antônio Francisco de Lima Neto, admite que o banco discute um novo modelo para atuar no setor de seguros. Atualmente, a instituição tem participação em várias subsidiárias, como BrasilCap, Brasil Veículos e BrasilPrev. “Estamos detalhando este novo modelo, e pretendemos concluir essas mudanças até o final deste ano”, afirma o presidente do BB.
O executivo destacou o crescimento de 24,9% da contribuição dessas operações para o resultado global do BB em 2008, para R$ 1,510 bilhão, e disse que o negócio está alinhado com a estratégia de expansão da organização. O processo se iniciou de forma relevante com o controle de 100% da Aliança do Brasil em agosto último. A participação das receitas de seguros no resultado do banco passou de 11% (2007) para 13%.
O vice-presidente de Novos Negócios de Varejo do BB, Aldemir Bendine, afirma que ainda não pode adiantar quais ações serão implementadas para pôr em prática essa reestruturação. Questionado sobre a possibilidade de compra de fatias em negócios de outras seguradoras, o executivo não confirma, nem nega as informações. “Não posso dizer agora o que estamos preparando. No momento oportuno, falaremos a vocês sobre as bases exatas desse novo modelo”, afirma.
Bendine, que conduz o plano de reforma das operações de seguros, lembrou que o BB terá de procurar parceiros para atuar na área de seguros, por conta de uma restrição da lei. “Uma lei da década de 1960 proíbe que um ente público detenha 100% das ações de uma seguradora. Temos um prazo legal de pouco mais de um ano para buscar um parceiro para a Aliança do Brasil.” Uma saída seria utilizar os mecanismos da MP nº 443, que facilita a aquisição de instituições financeiras privadas -inclusive seguradoras- por bancos públicos. “Estamos analisando as possibilidades internamente e em breve teremos novidades”, finalizou o executivo.
As empresas de seguros no Brasil não seguem uma tendência uniforme em relação à crise. Algumas estão sentindo os efeitos, outras continuam a mostrar resultados consistentes. Icatu e Chubb, por exemplo, registraram lucro em 2008. Mas o crescimento da primeira foi maior no ano passado, mesmo depois do agravamento da crise. Enquanto a Chubb teve aumento de 4% em seu lucro líquido ante 2007, a R$ 35,9 milhões em 2008, a Icatu Hartford chegou a R$ 95 milhões, 53% superior ao do ano retrasado.
Para a presidente da Icatu Hartford, Maria Silvia Bastos Marques, a crise não só não prejudicou, como também chegou a ser positiva para os negócios da seguradora. “Com o maior nível de insegurança das pessoas, cresce a procura por seguro de vida, previdência e capitalização”, explica. Em 2008, a Icatu registrou crescimento nestes três segmentos. No ramo de previdência complementar, a seguradora teve aumento de 58% no faturamento, que chegou a R$ 414 milhões no ano passado. O resultado, segundo Maria Silvia, foi puxado principalmente pelo crescimento em VGBL, que foi de 88%.
O ramo de seguro de vida teve um aumento de 18% no faturamento, em relação a 2007. Foram pagos R$ 370 milhões em prêmios no ano passado. Para Luciano Snel, diretor de Produtos da Icatu Hartford, esse foi o segmento que mais teve ajuda da crise econômica atual. “As pessoas se sentem mais inseguras e acabam por contratar mais seguros de vida.” Para Maria Silvia, este é um ramo em que praticamente não há efeitos na demanda. “Seguro de vida é algo que todos devem ter. Não esperamos ter problemas para continuar a aumentar nosso faturamento.”
No ramo capitalização, o resultado foi muito comemorado pela direção da Icatu. Houve um crescimento de 17% em relação a 2007, com faturamento de R$ 703 milhões no ano. “O mercado dizia que este produto já não cresceria mais, que não havia mais espaço para ele. Mas com produtos novos, com criatividade, foi possível obter esse bom resultado que apuramos em 2008”, conta a executiva Maria Silvia.
Hoje e amanhã serão divulgados os resultados de duas das maiores seguradoras brasileiras, que mostrarão um cenário mais exato do setor no País. Hoje, depois do fechamento da Bolsa de Valores, é a vez da SulAmérica de divulgar o balanço de 2008. Nesta sexta-feira, a Porto Seguro divulga seus números do ano passado.
A crise financeira deve precipitar profundas mudanças no setor de seguros brasileiro. O Banco do Brasil discute a reestruturação da sua área seguradora e já se posiciona para comprar participação em outras empresas. Rumores de mercado dão conta de negociações entre o banco público e a Sul América para aquisição de participação na área de veículos.
O presidente do BB, Antônio Francisco de Lima Neto, afirma apenas que o processo de remodelação da BB Seguros deve ser concluído ainda este ano, mas não nega nem confirma negociações com outras seguradoras.
O setor de seguros de baixo valor cresce cada vez mais nos grandes varejistas, como Ponto Frio, Magazine Luiza e Leader, que passaram a ofertar seguro de crédito nas vendas de itens de maior valor. Ao mesmo tempo, previnem-se contra o calote trazido pelo aumento do índice de desemprego. A Luizaseg – joint venture entre o Magazine Luiza e a seguradora Cardif – acredita que a crise será um argumento mais forte para conseguir aumentar o volume de seguros comercializados, que já perfazem 40% do total de vendas a prazo.
“O público está mais sensível e tende a aceitar mais facilmente a oferta de um produto financeiro como este”, analisa Luis Felipe Lebert Cozac, diretor-geral da Luizaseg. Na rede da família Trajano, o valor do seguro de crédito corresponde a 5% sobre o valor da compra. “Nosso planejamento prevê crescimento de 20% neste ano em relação a 2008.
É um número importante neste contexto de crise e será alcançado com o lançamento de produtos como o terceiro ano de garantia estendida e o seguro contra furto e perda de celular”, explica Cozac. No Ponto Frio, no braço de serviços financeiros PontoCred, resultado da joint venture com o Unibanco Seguros & Previdência, a comercialização do seguro nas vendas a prazo foi iniciada em dezembro do ano passado. Neste mês, para alavancar as vendas no momento em que o consumidor está bastante cauteloso para gastar, principalmente em relação aos bens duráveis, a rede carioca decidiu lançar a campanha “Quitação Garantida”, grátis nas compras acima de R$ 70. “Passamos a incentivar as compras com este produto há algumas semanas para trazer o cliente à loja e para que ele consuma sem medo de crise ou de desemprego”, ressalta Elcio Gomes, superintendente de Negócios do PontoCred.
Fonte: DCI OnLine