Selic caminha para a mínima histórica
Os Juros, atualmente em 8,25% ao ano, chegarão perto da mínima histórica na próxima quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) cortará a taxa básica em 0,75 ponto percentual, de acordo com a expectativa predominante entre analistas de mercado. Com isso, a Selic cairá para 7,5% ao ano e manterá em aberto a discussão sobre as reais possibilidades de o Banco Central (BC) levar os Juros para um patamar inferior aos 7% em 2018.
A maior parte das apostas, hoje, é de que o ciclo de queda terminará em dezembro, com corte de 0,5 ponto percentual, o que levaria a Selic para 7% ao ano. Com isso, já se quebraria um recorde: a taxa ficaria abaixo dos 7,25% ao ano, o mais baixo patamar da história, que vigorou durante o governo Dilma Rousseff entre outubro de 2012 e abril de 2013.
Entretanto, diante da redução significativa da inflação, que deve terminar o ano mais próxima do piso da meta, de 3%, do que do centro, de 4,5%, além da demora no processo de recuperação da economia, alguns analistas avaliam que a taxa possa cair mais.
Para integrantes desse grupo, a medida teria um simbolismo significativo para o país, que, apesar do atual ciclo de afrouxamento monetário, convive com Juros reais bem acima dos que existem nas economias desenvolvidas.
Discurso de Temer
O poder simbólico da redução ficou claro no discurso do presidente Michel Temer em viagem ao Miranda (MS) ontem. Ele destacou que a Selic está em queda e poderá chegar ao fim do ano abaixo dos 7%.
Os problemas de uma queda tão acentuada, alertam economistas, mesmo que fique para 2018, estão nas incertezas quanto à aprovação da Reforma da Previdência para o reequilibrar as contas públicas, na instabilidade política no próximo ano diante das eleições e na falta de clareza sobre os rumos da economia internacional. São riscos que poderiam obrigar o BC a subir os Juros ao longo de 2018. Não vale a pena, argumenta-se, baixar muito a Selic e depois ter de aumentá-la.
Entre as exceções otimistas, está o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa. Para ele, o cenário benigno para a inflação e a retomada gradual da atividade permitirão a continuidade dos cortes. Ele avalia que o BC reduzirá a Selic em 0,5 ponto percentual em dezembro e 0,25 ponto percentual em fevereiro de 2018. Com isso, o ciclo de cores terminaria com a taxa em 6,75% ao ano.
A arrecadação tributária de setembro, cita Barbosa, com crescimento real de 8,7% em relação ao mesmo período de 2016, mostra melhora da renda. A inflação segue controlada, os salários reais e a ocupação crescem; as famílias estão menos endividadas; os Juros seguem caindo e os estoques na economia estão baixos. Por isso, mantemos nossas projeções de crescimento de 0,9% do PIB (Produto Interno Bruto) para 2017 e de 2,8% em 2018, comenta.
Conforme o diretor do Bradesco, do ponto de vista inflacionário, os dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de outubro, divulgados na sexta-feira, reforçaram as perspectivas benignas, com o resultado ligeiramente abaixo do esperado. Isso favorece a queda de Juros.
Para o economista-chefe do banco Goldman Sachs para América Latina, Alberto Ramos, a política monetária comandada pela equipe de Ilan Goldfajn, já ajuda suficientemente o processo de recuperação da atividade.
Ele ressalta que a tendência é que o BC faça apenas mais um corte de Juros na reunião de dezembro e encerre o ciclo com os Juros em 7%. Seria um novo recorde, comenta.
Na avaliação do economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, há uma certa euforia entre os analistas que estimam que os Juros possam terminar o ciclo de cortes abaixo de 7% ao ano. Ele explica que o BC tem avisado por meio de comunicados e de discursos dos diretores que o processo de redução da taxa está perto do fim, o que indica que a última queda na taxa deve ocorrer em dezembro, com a Selic vigorando em 7% ao ano ao longo de 2018.
Conforme Oliveira, essa deve ser a principal mensagem do comunicado que a autoridade monetária divulgará logo após a reunião do Copom. Para ele, possíveis oscilações de preços ao longo do próximo ano impactadas por notícias políticas não devem levar o BC a subir os Juros. Não há os riscos no radar que obrigaram a autoridade monetária a elevar a taxa, comenta.
Na avaliação do economista-chefe do Banco Haitong, Jankiel Santos, a autoridade monetária não tem emitido sinais de que levará os Juros para um patamar inferior aos 7% ao ano. Para ele, a Selic cairá nas duas próximas reuniões, mas quedas adicionais devem ser descartadas. O ciclo está bem próximo do fim. Qualquer discrepância no cenário será visto como mudança de planos do BC, analisa.
Quem partilha da opinião é o economista-chefe do banco UBS no Brasil, Tony Volpon. Para ele, o BC tem sinalizado claramente que terminará o ciclo de corte de Juros em 7% ao ano e manterá a taxa nesse patamar ao longo de 2018 de forma sustentável. Não há sinais de inflação externa relevante, nota.
Carestia domada
O recuo da inflação, combinado com uma taxa de desemprego ainda elevada, favorece o processo de queda de Juros, explica o economista-chefe da Opus Investimentos, José Márcio Camargo. Ele detalha que, na história recente, a inflação de serviços sempre pressionou a carestia, mas deve fechar abaixo de 4%. Outra coisa importante é que o governo fez uma série de reformas importantes. A Reforma trabalhista, por exemplo, vai mudar a dinâmica salarial do país e os reajustes tendem a ser mais próximos dos ganhos de produtividade, destaca. Durante o governo Dilma, explica Camargo, a redução de Juros foi feita à revelia das condições macroeconômicas, sem sustentabilidade.
Fonte: Correio Braziliense