Seguros de vida a partir de R$ 3,5 ao mês
O mercado de microsseguros promete ser um novo meio de inclusão social e proteção para famílias com até dois salários mínimos. Pensado para assistir pessoas das classes C e D, o produto está em trâmite no Congresso Nacional, pode virar lei até o dia primeiro de julho e ser implantado no próximo ano. O projeto tem em vista seguros de toda espécie, como de vida ou para empreendimentos. Enquanto não há a regulamentação, grandes corretoras começam a implantar seguros populares com as características dos microsseguros. Embora possa demorar o início do consumo, corretores goianos acreditam que o mercado pode crescer no Estado. A um custo de R$ 3,5 por mês, os clientes do Bradesco já contam com o seguro de vida popular na carteira de produtos.
O ex-superintendente da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e presidente da Federação Nacional dos Corretores de Seguro (Fenacor), Armando Vergílio, é o responsável pela ideia de trazer microsseguros para o Brasil. A experiência foi vista na África e assistia cidadãos com baixos rendimentos. Adaptado à realidade brasileira, a intenção é promover uma união com o microcrédito. “É uma proteção financeira para as classes C e D, mas não é um “meio-seguro”, é um produto novo, com nova regulamentação que precisa ter um clausulado simples, de fácil entendimento”, explica Armando.
O corretor Irael Júnior acredita que o caso brasileiro é bem diferente do africano, pois lá abrangia pessoas com baixíssimos rendimentos. Com isso, o microsseguro nacional terá que se adequar com a necessidade do consumidor. No entanto, ele admite que o mercado é promissor, embora as seguradoras necessitam de tempo para se adaptar ao novo produto. “O problema será a forma de distribuição; as corretoras ainda terão que absolver esse mercado”, diz.
Até por isso, o produto deverá chegar aos consumidores apenas no próximo ano. “A aprovação está em trâmite no Congresso, queremos que o governo trabalhe para que a votação seja em caráter de urgência, ou mesmo aprove o microsseguro por meio de medida provisória, já que será bem aceito pelo mercado e população”, conta Armando. Irael aposta que o sucesso do projeto está na ação entre governo, seguradoras e corretores. “Se vai ser de baixo custo, terei que vender muito para ter um bom lucro, por isso, terei que realizar uma boa distribuição, como se fosse um comércio varejista. Assim, o apoio do governo e da Susep é fundamental para que dê certo.”
TESTE
Ainda em fase de testes no Rio de Janeiro e São Paulo, seguros de vida para pessoas de classes mais baixa ganharam cerca de 640 adeptos em três meses. A iniciativa foi do Bradesco Previdência, que cobra R$ 3,50 por um prêmio que chega a R$ 20 mil, cobrindo até mesmo bala perdida. O programa é o Primeira Proteção e é um seguro popular, com a filosofia de microsseguro, ou seja, um seguro simples e direto. Neste caso, o sinistro ocorre apenas com mortes acidentais.
Armando garante que, se o microsseguro já fosse regulamentado, este mesmo produto custaria apenas R$ 1,80. “É por conta da menor tributação por parte do governo. Se hoje ele cobra cerca de 20% em um seguro normal, para o microsseguro, seria em torno de 2%”, afirma. Ele diz que isto é possível para a União pois ela é a responsável por custear o cidadão.
O Primeira Proteção iniciou-se nas comunidades da Rocinha (Rio de Janeiro) e Heliópolis (São Paulo) como forma de se adequar à linguagem do contrato daquela entendida pelos moradores de baixa renda. Com isto feito, o Bradesco começa a expandir o produto para todas as capitais brasileiras, em suas regiões periféricas. Segundo informa a assessoria da empresa, os goianienses já podem contratar o serviço com as mesmas condições usadas no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Seguradoras terão que se adaptar
Irael Júnior acredita que o microsseguro tem espaço entre os goianos, embora possa demorar a emplacar. “O mercado aqui é maior para os automóveis, se tivesse microsseguro para os veículos mais velhos ou com restrições, poderia expandir mais rápido. De qualquer modo, o produto vai chegar até aqui e as seguradoras vão se adaptar para oferecê-lo”, diz. O corretor admite que as seguradoras são medrosas e, por isso, os testes ocorrem apenas com as maiores do mercado.
Assim mesmo, ele verifica espaço para o microsseguro no mercado de proteção pessoal ou de utensílios para o trabalho. Tal visão é corroborada por Armando Vergílio. Ele conta que o novo produto não precisará se adaptar à realidade de cada região e seu regulamento terá cláusulas com fácil entendimento. “A ideia é conseguir aquele consumidor que nunca comprou um seguro, porque não tinha essa cultura e nem recursos para isso”, diz.
Armando exemplifica a situação de um desempregado que resolve adquirir um microcrédito para abrir algum empreendimento de economia informal, como vender cachorro-quente na porta de eventos. “Ele pagaria uns R$ 80 pelo carrinho mensalmente; com mais R$ 4, ele protegeria o utensílio; com outros R$ 3, faria o seguro pessoal”, conta. Assim, em caso de perda do carrinho ou de impossibilidade de trabalhar, a seguradora assistiria a ele e a sua família, garantindo-lhe rendimentos por um tempo.
Fonte: Diário da Manhã