Mercado de Seguros

Seguro rural perde força e deixa produtores mais expostos a riscos

De acordo com matéria do Valor Econômico, os efeitos das mudanças climáticas já impactam fortemente o agronegócio mundial. Secas recordes derrubaram safras de café em diversos países, elevando os preços da commodity, enquanto o calor excessivo afetou a cadeia de ovos, provocando alta de cerca de 40% no início do ano. No Brasil, a próxima preocupação é a safra de soja de 2026, já que modelos climáticos indicam que o fenômeno La Niña deve atingir o Centro-Norte do país em fevereiro, aumentando a intensidade das chuvas justamente durante a colheita.

“Fenômenos naturais extremos provocam alterações relevantes nos padrões de pluviosidade e afetam a carteira (de seguros) de forma distinta”, afirma Mauricio Masferrer, diretor executivo de negócios corporativos da Allianz Seguros. Segundo ele, o maior desafio para as seguradoras é precificar corretamente os riscos sem comprometer a sustentabilidade do negócio.

Para enfrentar esse cenário, a Allianz tem apostado em tecnologia. “Aqui na Allianz usamos modelos geoespaciais que se baseiam em dados históricos para analisar a performance do solo, a cobertura vegetal e os índices de pluviosidade. Além disso, empregamos análises preditivas e séries temporais, incorporando variáveis climáticas externas. Também mantemos um sistema contínuo de monitoramento climático com base em dados fornecidos por consultorias externas”, explica o executivo.

A reportagem do Valor Econômico também destaca soluções aplicadas por outras seguradoras. Na BB Seguros, por exemplo, o sensoriamento remoto permite que os produtores acompanhem suas lavouras por imagens de satélite, com acesso a previsões climáticas, análises de mercado, cotações e simuladores de custos e rentabilidade.

As inovações também incluem produtos específicos. “Tem muita coisa interessante sendo feita. Fizemos um seguro para a febre aftosa, desenvolvido especialmente para o Estado do Rio Grande do Sul. No caso de bacia leiteira, que é um segmento superconcentrado, temos desenvolvido programas para garantir receita ao pecuarista. Se ele perder uma vaca, em vez de perder só o animal, ele também tem uma receita de seis meses equivalente aos litros de leite que entregaria no laticínio ou na cooperativa”, comenta Gláucio Nogueira Toyama, presidente da comissão de seguro rural da FenSeg e head de agronegócio da Swiss Re.

Apesar dos avanços, os produtores ainda enfrentam um obstáculo importante: a falta de acesso. Nos últimos cinco anos, a cobertura do seguro rural caiu quase pela metade em razão dos cortes no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR). Em 2025, o orçamento foi de R$ 1,06 bilhão, muito abaixo dos R$ 4 bilhões esperados pelo setor, e ainda sofreu bloqueio e contingenciamento de R$ 445,1 milhões.

“A expectativa é de uma redução expressiva na área segurada, intensificando a queda observada no programa nos últimos anos. Tudo isso acontece em meio ao aumento dos desafios climáticos, que têm exposto os produtores a maiores dificuldades ao longo das safras e ampliado a demanda por ferramentas de gestão de riscos, nem sempre disponíveis”, afirma Guilherme Rios, assessor técnico da CNA.

Segundo Toyama, no auge do PSR, em 2022, a área segurada chegou a 14 milhões de hectares. “Em 2024, a cobertura foi de 7 milhões de hectares, e a expectativa para esse ano é uma redução bastante forte, a gente está estimando entre 4 e 5 milhões de hectares”, diz. Ele lembra que, mesmo nos anos de maior adesão, o seguro agrícola cobriu apenas 10% da produção brasileira.

Para o setor, o crescimento só será possível quando o seguro rural for tratado como política pública. “O grande ponto para a gente é o avanço do Projeto de Lei nº 2.951/2024, da senadora Tereza Cristina (PP-MS), que fala de modernização do seguro rural. A gente acredita que toda operação de crédito rural que tenha participação do governo deveria ter a contrapartida de uma mitigadora de risco, seja o seguro agrícola, florestal ou pecuário. A outra perna desse PL é a garantia de um projeto de subvenção sem contingenciamento, um plano plurianual”, afirma Toyama.

Procurado pelo Valor Econômico, o Ministério da Agricultura e Pecuária não respondeu aos questionamentos sobre o desbloqueio do PSR e outras medidas de incentivo ao seguro rural.

Fonte: Valor Econômico

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