Seguro garantia se mantém aquecido
O seguro garantia, que garante que uma obra será construída dentro do prazo previsto no contrato, ignora os efeitos da crise e segue aquecido, com expansão prevista de 50% para 2008. A Áurea Seguros de Crédito e Garantia, que pertence ao grupo espanhol Cesce, acaba de fechar duas apólices milionárias. Uma delas vai garantir a construção de 14 navios da Transpetro, a empresa de transporte marítimo da Petrobras, com um valor em risco de R$ 672,5 milhões. A outra cobre a construção da Plataforma de Mexilhão, para extração de gás na Bacia de Santos.
A Áurea, que está mudando de nome para Cescebrasil a partir desta segunda-feira, acompanhando a reestruturação das operações do grupo espanhol no Brasil, foi a única seguradora a participar da apólice da Transpetro, dentro do projeto de modernização da frota da empresa, que vem sendo estruturado há mais de quatro anos. A primeira fase do projeto terá investimentos de US$ 2,5 bilhões para construir 26 navios.
No início, outras seguradoras de garantia chegaram a participar das inúmeras reuniões, mas aos poucos foram desistindo da apólice, conta Edvaldo Cerqueira, diretor presidente da Áurea. O contrato final envolveu 10 resseguradores estrangeiros, que ficaram com 95% do risco e precisaram ser convencidos da viabilidade do projeto. Algumas resseguradoras têm receio de participar de riscos de estaleiros, por conta da má fama de alguns deles, principalmente na Ásia.
Segundo Carla Acras, diretora da Áurea, que participou das negociações, os técnicos lá de fora demoraram a entender que o risco aqui era menor, quando comparado a outros projetos mundiais, por conta da participação do governo brasileiro no projeto da Transpetro. Toda a operação demorou mais de um ano para ser fechada.
Além do convencimento dos resseguradores, a negociação do contrato pegou o momento de transição do mercado fechado de resseguro para o mercado aberto. Já a apólice da Plataforma de Mexilhão foi feita com o mercado aberto e acabou sendo mais simples, conta Carla. Com 227 metros de altura, é a plataforma fixa mais alta do Brasil e está sendo construída pelo estaleiro Mauá, em Niterói (RJ) e depois será transportada por rebocadores para a Bacia de Santos, a 145 Km da costa. A apólice foi emitida no dia 14 de novembro.
A Áurea cresceu 29% este ano, com prêmios de R$ 61 milhões até outubro, segundo os dados mais recentes da Superintendência de Seguros Privados (Susep). A empresa tem 17% do mercado de garantias, liderado pela JMalucelli, com 37% (e que chegou a ter 50%).
Até outubro, o mercado movimentou R$ 362 milhões, expansão de 70%. Muitos projetos já vinham sendo pensados e estruturados há muito tempo, por isso, o mercado segue aquecido. Para 2009, Cerqueira prevê uma ritmo menor de expansão, na casa dos 25% a 30% por conta da desaceleração da economia.
A procura por seguro garantia também cresce por conta das altas taxas cobradas pela fiança bancária, principal concorrente desse tipo de apólice. Antes da crise, com a alta liquidez no mercado, as taxas da fiança caíram consideravelmente. Agora, com o aperto no crédito, voltaram a subir. “O custo da fiança bancária está inviável”, diz Cerqueira, ressaltando que o mercado segurador e ressegurador também está mais seletivo. “As taxas do seguro vão subir, mas jamais vão atingir o custo atual da fiança bancária.”
A Áurea é controlada pelo Consórcio Internacional de Assegurados de Crédito (Ciac). A Cesce tem 51% do Ciac, que também tem como sócios Munich Re, Santander e BBVA. O grupo resolveu reestruturar suas operações no Brasil. Cerqueira será o comandante das duas seguradoras do grupo no país, uma para o crédito à exportação e outra para garantias e crédito interno. O grupo procura agora um local maior para instalar suas operações em São Paulo.
Fonte: Valor