Seguro de pessoas: a transição demográfica e o risco de dependência
O mercado de seguros de pessoas que sempre esbarrou na escassa cultura previdenciária e na baixa renda per capita do brasileiro ingressa em uma fase promissora. Existem novas oportunidades, desafios, integrantes e nichos de consumidores a serem explorados.
Nos últimos anos, houve mudanças significativas no comportamento dos operadores que atuam no mercado. Normas foram implementadas e, hoje, pode-se dizer que o mercado está mais transparente e com melhor credibilidade. Temas centrais e importantes, como o microsseguro, a abertura do resseguro e a transição demográfica surgiram.
O microsseguro é uma utopia que pode vir a se tornar realidade, mas a discussão está começando e existem barreiras a serem superadas. A abertura do mercado nacional para o resseguro poderá incentivar o desenvolvimento de novas coberturas e oportunizar melhores condições para as seguradoras colocarem seus riscos.
Outra questão fundamental é a transição demográfica. O Brasil terá, em 2050, cerca de 50 milhões de idosos com mais de 65 anos de idade, e eles estarão sujeitos ao risco de se tornarem incapacitados para exercerem determinadas atividades da vida diária. O peso da idade traz outras preocupações, principalmente quando se observa as elevadas taxas de prevalência das demências e de outras doenças neurodegenerativas.
Diferentemente da experiência internacional, o manejo do risco de dependência é um campo inexplorado pelo mercado de seguros de pessoas no país. Muito deve ser feito e estudado. O mercado necessita ter um seguro de dependência que garanta cobertura a despesas com residenciais geriátricos, serviços de enfermagem e de teleassistência, remédios, fisioterapias etc.
A evolução do mercado de seguros de pessoas deve passar, obrigatoriamente, pela resistência e racionalidade dos próprios consumidores. Alguns ainda pensam que determinados riscos somente ocorrem ou ocorrerão com os outros.
No que tange à área previdenciária, os consumidores raciocinam como pragmáticos investidores individuais. Tendem a fazer a velha conta: quanto vou pagar e quanto vou receber? Esses potenciais consumidores chegam a determinados resultados que, considerando suas crenças e convicções, justificam a não contratação de um plano previdenciário. Concluem que a autogestão de suas poupanças é o melhor caminho.
Entretanto, esquecem que os benefícios oferecidos pelas seguradoras e entidades de previdência podem ser vitalícios. Desconhecem que, ao contratar um plano de previdência, por exemplo, eles podem ter a garantia do recebimento de uma renda para o resto da vida sem a preocupação com o gerenciamento e a durabilidade dos seus recursos (poupanças). Se viverem mais, o risco não é deles, mas sim da instituição que tem a obrigação de pagar a renda vitalícia (benefício).
(*) Sérgio Rangel Guimarães é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), especialista em Seguros de Pessoas pelo Swiss Insurance Training Center (SITC, Zurique), Bacharel em Atuária e Mestre em Economia.
Fonte: Escola Nacional de Seguros