Seguradoras podem ter dificuldade para obter capital, diz Moodys
As seguradoras independentes de médio e pequeno porte podem ter problemas para sobreviver nos próximos meses. Com a crise financeira e a escassez de crédito na economia, elas vão ter problemas para conseguir recursos e se adequarem às novas regras de capital da Superintendência de Seguros Privados (Susep). A previsão faz parte do relatório “Perspectiva para o Mercado Segurador Brasileiro” que a agência de classificação de risco Moodys divulga hoje ao mercado.
Desde o ano passado, a Susep elevou os níveis de capital mínimo das seguradoras brasileiras. O prazo final para os ajustes é 2010. As seguradoras estrangeiras e as brasileiras ligadas a bancos, como a Bradesco Seguros, já estão enquadradas. Muitas estrangeiras, como a Mapfre, trouxeram capital de fora já a partir de 2007. Outras fizeram aumento de capital via recursos dos próprios controladores locais ou estrangeiros.
Segundo Rodolfo Nóbrega, analista da Moodys e autor do relatório, conseguir recursos agora vai ficar cada vez mais complicado. “As que fizeram o aporte mais cedo aproveitaram um mercado melhor, com mais liquidez.” Para ele, a consequência será um processo de consolidação no setor.
O relatório destaca que o mercado brasileiro cresceu muito e ainda tem muito potencial para crescer. “As seguradoras ficam muito mais atraentes”, diz o analista. Mas em plena crise, com recursos escassos, os preços para aquisições devem cair, avalia Nóbrega. Porque de um lado há a seguradora que precisa com certa urgência de recursos para se adequar às regras. Do outro, há a compradora nem sempre disposta a gastar muito em um cenário global tão incerto.
Os primeiros movimentos de consolidação já começaram a ocorrer em 2008. A Minas Brasil, que chegou a ensaiar uma oferta de ações, mas desistiu, foi vendida para a suíça Zurich. A Mongeral resolveu buscar um parceiro estrangeiro e vendeu 50% de seu capital para a holandesa Aegon. As apostas agora são para a Marítima, que é independente e tentou abrir o capital para captar recursos, mas também desistiu.
Samuel Monteiro, diretor geral da Bradesco Seguros e Previdência, diz que a fonte secou e conseguir dinheiro novo para aumentar o capital ficou complicado. Não há como captar recursos no mercado de capitais e o dinheiro externo não vem mais, diz ele. Uma das soluções, segundo Monteiro, seria uma nova prorrogação do prazo para a adequação das seguradoras. O prazo final seria este ano, mas a Susep resolveu aumentar em mais um ano, para 2010.
Para o mercado como um todo, a perspectiva da Moodys permanece “estável”, mesmo com a piora do cenário mundial. “O mercado continua forte e ainda bem em relação a outros países”, diz o analista. Entre os pontos positivos citados pelo relatório, além do potencial de crescimento das seguradoras, estão a baixa exposição à tensão global, a regulação da Susep, o sistema eficiente de distribuição de seguros e o baixo número de catástrofes naturais no país.
Como desafio, o relatório destaca a necessidade de melhora operacional por conta da queda dos juros. A abertura de mercado de resseguro também exige mais eficiência, diz ele. Outro ponto são as constantes guerras de preços para atrair novos clientes, que podem complicar o balanço em um segundo momento.
Fonte: Valor