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Se o governo e os bancos agirem, o spread diminui

A divulgação dos balanços dos bancos, com a constante exposição de fortes lucros, é sempre um momento difícil para as instituições financeiras. Com o atual agravamento da crise internacional, essa preocupação aumenta. Nesse quadro, no entanto, merece atenção o fato de que o primeiro grande banco que divulgou balanço neste ano, o Bradesco, apresentou queda de lucro no quarto trimestre, decorrente, segundo a explicação do banco, do aumento das provisões para enfrentar o possível aumento da inadimplência, notadamente no primeiro trimestre deste ano. Entre outubro e dezembro o lucro líquido foi de R$ 1,6 bilhão, 27% menor que o obtido no mesmo período de 2007, um período em que o banco alcançou grandes lucros no mercado acionário.
Esse resultado é produto de diferentes impactos na lucratividade, na visão do banco. O primeiro são as provisões para crédito duvidoso, que atingiram R$ 597 milhões no período, motivado pelas estimativas de maior risco de inadimplência. Há outro impacto motivado pelo crescimento da sinistralidade no período, pelas enchentes e outros desastres naturais, que derrubaram em 12% o lucro do setor de seguros no trimestre. O banco insiste também que teve impacto a marcação a mercado de investimentos, títulos e ações, no recuo nos lucros. Porém, os ganhos foram puxados pela forte expansão do crédito. O Bradesco fechou 2008 com uma carteira de R$ 215,3 bilhões, uma evolução de 33,4% em relação a 2007 e de 9,2% no quarto trimestre em relação ao terceiro trimestre de 2008. Apesar das preocupações com a inadimplência, o banco prevê uma nova expansão da carteira de crédito de 13% a 17% em 2009.
É preciso, portanto, alguma cautela na observação dos resultados do balanço de um dos maiores bancos brasileiros. Vale notar, por exemplo, que essa instituição ocupou muito bem o espaço oferecido pela retração de crédito internacional, em especial para as grandes empresas. Em 2008, a carteira de crédito destinada às empresas alcançou R$ 141,5 bilhões, expansão de 38,6% em relação a 2007. Mesmo no difícil quarto trimestre essa carteira cresceu 11,2% em relação ao período de julho a setembro. Porém, essa expansão é ainda maior no segmento das grandes companhias: crescimento de 43,2% em relação a 2007 e de 15,3% quando comparado ao terceiro trimestre. Oferecimento de crédito para capital de giro e financiamento à exportação lideraram essas operações para as pessoas jurídicas. Em outras palavras, o banco não desperdiçou a oportunidade aberta pelo recuo de crédito no cenário externo.
A análise da expansão da inadimplência, sempre apontada como razão dos altos spreads, também exige algum cuidado. Esses indicadores normalmente crescem nos primeiros trimestres, mas neste ano essa alta projetada é ainda maior, porque os analistas de mercado esperam aumento do desemprego. O Bradesco registrou aumento de inadimplência já no quarto trimestre, mas é preciso observar a velocidade desse crescimento. Entre pessoas físicas, o índice que avalia atrasos superiores a 90 dias, que foi de 6,6% da carteira entre julho e setembro, passou para 6,7% no quarto trimestre. Entre as pequenas empresas, o avanço do calote passou de 2,4% da carteira para 2,7% na mesma comparação. No caso das grandes empresas, a expansão dos atrasos foi de 0,3% para 0,5% entre o terceiro e o quarto trimestre. Esses índices revelam que a inadimplência não cresceu de forma acelerada. Analistas de mercado notaram que as reservas do banco cobriam inteiramente as dívidas em atraso superior a 90 dias de toda a carteira e ainda sobrava 65% desse total como provisões para eventuais novos calotes.
O resultado do Bradesco sinaliza, como o dos demais grandes bancos também devem mostrar, a solidez do sistema financeiro brasileiro. O ponto crítico desse sistema está no valor do spread. A direção do banco, depois de lembrar que governo tem “50% do sistema financeiro por meio dos bancos oficiais”, ponderou que o spread não pode ser reduzido por decreto. De fato, a participação dos bancos públicos na oferta de crédito passou de 34% para 36% entre o terceiro e o quarto trimestre e nem por isso o spred se reduziu. Os bancos, por sua vez, questionam que parte considerável desse spread diz respeito aos altos tributos cobrados do sistema. É notório, portanto, que chegou o momento do exercício de boa vontade das duas partes, do governo e dos bancos, para que a diferença entre o valor pago na captação e o cobrado na hora do empréstimo se reduza para que a economia volte a encontrar o rumo do crescimento. Sem recuperar esse caminho, nem impostos nem lucros voltam a ser o que foram antes da crise.

Fonte: Gazeta Mercantil

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