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Saúde suplementar procura equilíbrio

O setor de saúde suplementar começou a experimentar em 2021 o duplo desafio de garantir a assistência aos numerosos casos graves de covid-19, em meio à segunda onda da doença no Brasil, e atender à demanda reprimida por diagnósticos e tratamentos adiados desde o início da crise sanitária, no ano passado. O quadro tem pressionado as operadoras, que dizem registrar aumento expressivo na utilização do sistema. Esse foi o tema central da abertura do segundo dia do evento Fórum de Saúde Brasil, realizado na última segunda-feira pelos jornais “O Globo” e Valor Econômico e pela revista “Época”, com patrocínio da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).

O debate “O impacto do coronavírus nos planos de saúde e no serviço dos segurados” contou com a participação de José Cechin, superintendente executivo do Instituto de Estudos da Saúde Suplementar (IESS); Rogério Scarabel Barbosa, diretor-presidente substituto e diretor de Normas e Habilitação dos Produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); e Vera Valente, diretora executiva da FenaSaúde.

Os debatedores partiram de um ponto de consenso: a pandemia levou mais brasileiros a buscarem planos de saúde. Com isso, o setor reverteu uma tendência de queda e de perda de beneficiários dos últimos seis anos, chegando a 48 milhões de usuários em março de 2021 – o maior número desde setembro de 2016 -, segundo dados da ANS. O primeiro trimestre de 2021 deve registrar o maior gasto com atendimento de beneficiários da história do sistema de saúde suplementar, segundo a diretora executiva da FenaSaúde.

Vera destacou que o aumento das internações por covid-19 junto com a realização de procedimentos eletivos provocou um crescimento de 16% na demanda dos planos no período, em relação a 2020, e de 8%, na comparação com 2019. “Neste momento, a saúde suplementar está lidando com dados históricos. A saúde suplementar fez 25% dos testes de covid. A ocupação de leitos alcançou nível recorde de 76% em março. As internações em UTIs foram de 87%. É nossa obrigação cuidar desse paciente da melhor forma possível, mas é nossa obrigação mostrar que essa pressão no sistema se reflete mais adiante.”

Cechin acrescentou que os custos dos insumos de saúde saltaram em meio à crise do novo coronavírus: “Uma empresa que faz contas para operadoras desenvolveu um índice, junto com a Fipe, o IPMH (Índice de Preços de Medicamentos para Hospitais). Entre 2015 e 2019, esse índice estava entre 4% e 5% ao ano.

De março de 2020 a abril de 2021, alcançou 28%. Medicamentos para aparelho digestivo aumentaram 85%; para o sistema nervoso, quase 80%; e para o sistema cardiovascular, 72%. Isso afetou hospitais, afetou operadoras, e irá afetar todo mundo daqui por diante.” Scarabel, lembrou que, no início da pandemia, a agência suspendeu procedimentos eletivos, o que permitiu a liberação de ativos e provisões para dar fôlego financeiro às operadoras. Foi nesse contexto, comentou, que a ANS decidiu adiar por quatro meses a aplicação de reajustes em 2020, com recomposição das mensalidades este ano.

Porém, Scarabel observou que a saúde suplementar possui um cenário de assimetria, com poucas empresas grandes e muitas operadoras pequenas, que são mais vulneráveis. “As operadoras não são as três grandes. Temos 700 operadoras no país todo. Se uma delas enfrenta dificuldade financeira, nós fazemos um acompanhamento técnico para que o usuário não fique sem atendimento.”

A diretora-executiva da FenaSaúde destacou ainda que a pandemia reforçou a complementariedade entre os sistemas público e privado e que o atendimento dos beneficiários dos planos de saúde é uma forma de desafogar o SUS. “Como ampliar esse acesso? É a discussão dos produtos mais flexíveis. Quem pode pagar pelo produto completíssimo, ele está disponível. Mas há pessoas que não podem e que hoje estão indo a clínicas populares e fazendo assinatura de telemedicina. Isso não é plano de saúde, não é assistência integral à saúde. Então, é bom um produto que caiba no bolso, que tenha a fiscalização da ANS, e que a pessoa tenha a condição de olhar sua necessidade versus sua capacidade.”

Além de observar novos modelos de negócios, o setor também aposta em fusões e aquisições, para responder aos desafios apresentados pela pandemia, e em formas de uso mais sustentável do sistema de saúde suplementar, para redução dos custos das operadoras. “No caso da saúde suplementar, o mínimo preço que as operadoras podem cobrar está muito acima do máximo que a sociedade pode ou gostaria de pagar”, disse Cechin.

Outra maneira de ampliar o equilíbrio econômico é a intensificação do uso da telemedicina, que se popularizou em meio às medidas de isolamento social, como observou Vera, “Foram mais de 2,6 milhões de atendimentos de telessaúde em um ano. O uso do hospital é caro e onera o sistema, além de colocar a pessoa desnecessariamente em contato com outras patologias. Nós tivemos 80% de solução de casos via telemedicina.” O atendimento virtual depende de regulamentação para que seu uso continue após a pandemia.

Fonte: NULL

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