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Risco político volta a pressionar bancos em momento de retomada

O ressurgimento da crise política que pode derrubar o presidente Michel Temer recolocou na mesa uma série de riscos envolvendo os bancos brasileiros. Embora analistas avaliem ainda ser cedo para chegar a qualquer conclusão, são dois os principais pontos de preocupação: o impacto na inadimplência e sobre o processo de retomada do crédito com uma eventual paralisação da economia, justo no momento em que os primeiros sinais de recuperação começavam a surgir.

As ações dos bancos estão entre as que mais sentiram as consequências da turbulência vinda de Brasília. O índice da bolsa que reúne as ações das instituições financeiras acumula queda de 11,8% desde a revelação da delação do empresário Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, que envolve Temer. No mesmo período, o Ibovespa registra baixa de 8,7%.

As ações dos bancos costumam ser as primeiras a sofrer os impactos de processos de aversão a risco como o atual, em razão da alta liquidez. “O mercado vende primeiro e faz perguntas depois”, escrevem os analistas do Deutsche Bank, em relatório a clientes. Embora tenha pouca relação com os fundamentos, a queda na bolsa também traduz o receio dos investidores com o setor caso o momento de incerteza se prolongue, segundo outro analista.

Para a agência de risco Fitch, a crise política adiciona pressão sobre o ambiente operacional dos bancos e aumenta o risco para a qualidade dos ativos no médio e longo prazos. A agência não espera, contudo, perdas imediatas para as instituições financeiras em consequência do episódio.

A volta da incerteza política acontece justamente quando os balanços dos bancos começavam a apontar que o pior momento da economia havia ficado para trás. No primeiro trimestre, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander tiveram lucro de R$ 15,6 bilhões, alta de 27,8% em relação ao mesmo período de 2016.

A perspectiva do fim do ciclo de alta da inadimplência – grande foco da atenção do mercado durante o auge da recessão – derrubou em 23,8% os gastos com provisão contra calotes, que somaram R$ 18,3 bilhões de janeiro a março deste ano.

A crise ainda não chegou a mudar o dia a dia dos bancos, segundo três executivos ouvidos pelo Valor. “Nenhuma operação de crédito no varejo deixou de ser aprovada nos últimos dias por essa razão”, afirma um interlocutor. O impacto mais rápido acontece no financiamento a empresas, principalmente as de grande porte.

No mercado de capitais, os sinais até o momento são considerados dúbios. Enquanto companhias como a estatal mineira de energia Cemig anunciaram a suspensão dos planos de captação com a emissão de títulos de dívida no exterior (bônus), a empresa de shoppings BR Malls conseguiu fechar ontem uma emissão de ações de R$ 1,7 bilhão.

Os empréstimos bilaterais também continuam a ser fechados, segundo o executivo de um grande banco. “Nada mudou nos nossos modelos de governança após os episódios recentes”, diz. A análise das operações, porém, passou a ser feita à luz do novo cenário, que contempla a possibilidade de que a economia volte a patinar depois de ensaiar os primeiros passos de melhora.

O ritmo do crédito já vinha abaixo do esperado mesmo antes das delações da JBS. Antes do episódio, a preocupação dos analistas era que a demora na retomada dos financiamentos afetasse os resultados dos bancos a partir do ano que vem. Para Ricardo Gelbaum, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que representa as instituições de médio porte, o cenário não muda com a piora do quadro político. “Os bancos estão extremamente líquidos e bem capitalizados.”

Em relatório, os analistas do UBS avaliam que o processo de recuperação do crédito pode ser prejudicado se a confiança de empresas e consumidores for afetada. Executivos de bancos manifestaram preocupação semelhante. “Se as decisões de investimento forem adiadas e as pessoas ficarem com receio de consumir, voltaremos a um compasso de espera que não é bom para ninguém”, afirma.

Um dos focos de preocupação no curto prazo é a situação do Grupo J&F, holding que controla a JBS. As ações do frigorífico registraram queda de 31,3% apenas ontem na B3 (antiga BM&FBovespa). Os títulos de dívida negociados no exterior também sofreram perdas relevantes. A agência de risco Moody´s rebaixou ontem a classificação da JBS de “Ba2” para “Ba3” – três níveis abaixo do patamar mínimo de grau de investimento.

O frigorífico contava com uma dívida líquida de R$ 47,8 bilhões em março deste ano. A exposição dos bancos está concentrada principalmente em linhas de crédito à exportação, segundo uma fonte a par do assunto. Entre os grandes bancos, o BB era quem tinha a maior exposição ao setor de alimentos, equivalente a 2,3% dos empréstimos, segundo o Deutsche Bank.

Fonte: Valor

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