Resseguros: expectativa é de recuperação de perdas com modernização
Especialistas da área de resseguros projetam que a recuperação de parte das perdas decorrentes da covid-19 deve ocorrer já no próximo ano. O pano de fundo para o otimismo no Brasil, em 2021, é o volume de grandes obras necessárias ao país e novas regras em andamento para configurar um setor aberto, dinâmico e com operações no mercado de capitais para atrair investidores de fora.
“O Brasil vem mostrando uma tendência de redução de complexidade, de modernização regulatória. É provável que o mercado de resseguros se torne ainda mais aberto, com carga tributária e custos operacionais mais equânimes em relação ao praticado em outros mercados, beneficiando quem compra”, diz o CEO da Munich Re do Brasil, Rodrigo Belloube.
Segundo o vice-presidente da área de seguros da Capgemini, Roberto Ciccone, estudos globais da consultoria demonstram que no segundo trimestre deste ano, em relação aos primeiros três meses, houve quedas expressivas em termos de vendas e lucratividade em setores-chave como transportes, manufatura e utilities. Houve ainda grande redução no embarque de bens de consumo como TVs, smartphones, smartwatchs, produtos importados que deixaram de ser comprados pela redução de renda das famílias. As grandes embarcações de transporte, usualmente, têm seus seguros e resseguros. O mesmo ocorre para as viagens de avião. Apenas nos Estados Unidos, a indústria de viagem estima perdas acima de US$ 500 bilhões.
O fato é que as perdas, no âmbito do resseguro, ainda não foram completamente mapeadas e mensuradas. Há efeitos que não são imediatos. As discussões sobre o assunto existem no âmbito das responsabilidades. O impacto ainda está por vir, explica a sócia na área de seguros e resseguros de TozziniFreire Advogados, Bárbara Bassani.
“A judicialização em si não chegou ao Brasil. Deve começar em algum momento, conforme o desfecho em outros países, como Estados Unidos e Reino Unido, onde o mercado de seguros e resseguros está preocupado”, diz Bárbara. “Em 2021, o mercado vai ficar mais duro em relação à precificação e cláusulas mais claras do que será coberto ou não.” Ela afirma, porém, que o momento é muito positivo no Brasil em relação à modernização das regras que estão sendo propostas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Especialistas de resseguros estão otimistas com o aumento da competitividade, transparência e inovação nas normas em diferentes fases de tramitação, com algumas já em prática. Na segunda quinzena de agosto, a Susep colocou em consulta pública a minuta da circular que prevê regras e tratamento diferenciado entre os seguros massificados e os seguros de grandes riscos.
“É um grande avanço a liberdade contratual entre as partes porque cada uma delas poderá discutir o que vai cobrir e como isso será feito”, afirma Bárbara Bassani. Para o CEO da Austral RE, Bruno Freire, a modernização das regras resultará em muitas oportunidades. Como exemplo, ele menciona as normas que permitem a contratação de resseguro diretamente pelas operadoras de planos de saúde.
Há a expectativa também em relação aos grandes projetos interrompidos neste ano. O novo marco legal do saneamento, com investimentos expressivos, é um dos destaques. “São grandes as obras de infraestrutura no Brasil, que vão propor grandes oportunidades aos investidores internacionais a partir de 2021. Acredito no capital estrangeiro que virá buscar melhores rendimentos aqui. Isso vai ajudar a desenvolver o mercado de resseguros. Não vai faltar capacidade para atender essas demandas”, afirma o presidente da TransRe Brasil, Paulo Pereira, também presidente da Federação Nacional das Empresas de Resseguros (Fenaber).
A baixa taxa de juro, no mundo todo, tem efeito imediato nos balanços das resseguradoras porque boa parte dos investimentos está alocada em títulos dos governos. Para contornar a situação, uma resolução da Susep – em consulta pública – deve permitir a emissão de Insurance Linked Securities (ILS), títulos vinculados a seguros, que pode ampliar as possibilidades de captação de recursos. Essa distribuição de risco ao mercado, em vez da retenção no balanço, é apontada com uma das tendências das resseguradoras em estudo Deloitte.
Outra tendência, segundo o sócio líder do setor de seguros para a Deloitte Brasil, Rodrigo Mendes, é a necessidade de as resseguradoras fornecerem serviços que agreguem valor às seguradoras primárias e clientes finais.
“No futuro, é mais provável que o modelo seja de 90% de serviço e de assunção de riscos ou provisão de balanço de apenas 10%.” O estudo ainda aponta um modelo de negócio com novas tecnologias para sustentar o sucesso da resseguradora, com mais operações automatizadas e menos intervenção humana. Mendes explica que, a partir do avanço tecnológico haverá a eliminação de processos e otimização das etapas para a contratação do resseguro.
O presidente do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Gerência de Riscos e Seguros (ABGR), Haroldo Alves de Araújo, conta que hoje, novas tecnologias já facilitam a avaliação dos riscos. “A empresa faz um “self inspection” e via celular ou tablet, envia as informações diretamente à seguradora e ao ressegurador. As informações são avaliadas, analisadas e tratadas como se fosse uma visita presencial”, afirma Araújo.
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