Resseguro

Resseguro perde fôlego local e aposta na LRS

A publicação da segunda edição do Revision (Re)search, estudo da Associação Brasileira das Empresas de Corretagem de Resseguros (ABECOR) e Editora Roncarati, mostra que o mercado brasileiro de resseguros entrou em 2025 com duas tendências opostas: de um lado, a emissão inédita da primeira Letra de Risco de Seguros (LRS), abrindo caminho para o desenvolvimento do mercado de insurance-linked securities (ILS) no país; de outro, a continuidade da queda na retenção de prêmios pelas resseguradoras locais e o aumento da dependência da capacidade internacional.

Em maio, a Andrina SSPE, em parceria com o Itaú BBA, estruturou a primeira LRS do mercado brasileiro, no valor de R$ 33,7 milhões. O título foi patrocinado pelo IRB(RE) e adquirido pela tesouraria e pela asset do grupo Itaú. Com vencimento em 17 meses e remuneração de CDI + 2,5%, a emissão protege parte das exposições do ressegurador em contratos de seguro garantia de 14 grupos econômicos brasileiros.

A operação é considerada um marco regulatório e financeiro, pois resulta de quase uma década de debates iniciados com a experiência pioneira da Terra Brasis, em 2016, quando a resseguradora listou na Bolsa de Bermuda o primeiro ILS privado da América Latina. Embora a nova LRS não esteja associada a riscos catastróficos — característica que confere maior diversificação a esse tipo de instrumento — ela atraiu investidores acostumados a lidar com crédito e garantias, mostrando que o mercado doméstico pode, aos poucos, se abrir a estruturas mais sofisticadas.

Se o lado da inovação avança, os dados de retenção preocupam. Em 2018, as resseguradoras locais absorviam 59% do prêmio de resseguro emitido pelas seguradoras brasileiras. Esse percentual caiu para 30% em 2024 e, no primeiro trimestre de 2025, recuou ainda mais, para 28%. Na prática, mais de 70% do risco está sendo transferido para resseguradores offshore.

O quadro é agravado pela perda de ímpeto das cessões de resseguro. O volume aceito por resseguradoras locais oriundo de seguradoras estrangeiras — equivalente à cessão de resseguro — despencou de R$ 5 bilhões em 2020 para R$ 1,9 bilhão no fim de março deste ano. Com isso, o Brasil, que chegou a vislumbrar papel de “exportador” líquido de capacidade, tornou-se dependente de importações, afirma o estudo.

O ranking de resseguro cedido pelas seguradoras brasileiras reflete essa dinâmica. Grupos verticalizados — que combinam operações de seguros e resseguros — seguem ganhando espaço, com destaque para Allianz, Tokio Marine, HDI e Swiss Re, que subiram posições no primeiro trimestre de 2025. Já BrasilSeg e Austral perderam participação.

Na lista de cedentes, a Mapfre manteve a liderança, com R$ 742 milhões em prêmios ganhos cedidos (11,6% do mercado), seguida pela Allianz, que subiu para a segunda posição, com R$ 586 milhões (9,1%). Tokio Marine vem logo atrás, com R$ 468 milhões (7,3%). O desempenho desses grupos contrasta com a queda da BrasilSeg, que recuou para a quarta posição, com 6,1% .

No ranking dos resseguradores, o IRB ainda ocupa a liderança, com 15,5% do mercado, mas perdeu fôlego. Allianz avançou para a segunda posição, com 11,4%, e a Mapfre caiu para a terceira, com 9,6%. A Munich Re também ganhou espaço, chegando a 7,5%. A concentração, contudo, segue elevada: os dez maiores grupos controlam cerca de 75% do mercado, e os 25 maiores respondem por 94%.

O desempenho financeiro das resseguradoras locais mostra alguma recuperação após os anos mais desafiadores da pandemia. O índice combinado do mercado permanece próximo de 100%, mas com distinção entre o IRB, que opera em torno de 105%, e as demais locais, abaixo de 100%.

O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) foi positivo para a maior parte das resseguradoras locais no primeiro trimestre, superando inclusive o CDI e a valorização do Ibovespa no período. O lucro líquido consolidado das resseguradoras locais alcançou R$ 286 milhões, contra R$ 245 milhões em igual período de 2024, aproximando-se dos níveis pré-pandemia.

O estudo da ABECOR sintetiza um paradoxo. De um lado, a estruturação da primeira LRS mostra que o mercado doméstico de capitais pode absorver instrumentos inovadores e sofisticados de transferência de risco, colocando o Brasil no radar internacional de ILS. De outro, a redução da retenção de prêmios e a queda nas exportações fragilizam a base local de resseguro, deixando o país mais vulnerável a choques externos de capacidade.

Segundo o executivo Rodrigo Botti, head de contratos de resseguro da Lockton Re e um dos autores do estudo, a tendência é que novas emissões de LRS sejam estruturadas nos próximos anos. Mas a discussão central continua sendo a necessidade de fortalecer a musculatura local, evitando que o mercado brasileiro dependa excessivamente do capital estrangeiro em momentos de crise.

Fonte: Sonho Seguro – Denise Bueno

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