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Repaginado, IRB quer risco rentável

O IRB-Brasil Resseguros pretende entrar em 2010 com um perfil mais agressivo de atuação. Com a ajuda da Boston Consulting Group (BCG), a ex-estatal de 70 anos, ex-monopolista da atividade de resseguros no país, reestruturou suas operações para enfrentar a nova fase da abertura de mercado, quando perderá parte da preferência que ainda tem na contratação de coberturas no país.Desde que a liberalização do mercado começou, em 2008, o IRB perdeu 30% do mercado ressegurador doméstico. De acordo com as regras de abertura, a partir de janeiro do próximo ano as seguradoras deverão passar preferencialmente pelo IRB uma fatia de 40% de seus negócios que exigem resseguros. Até agora esse percentual era de 60%.A estratégia delineada com o auxílio do BCG é baseada em três pilares: uma nova diretoria comercial, seleção dos riscos mais rentáveis e aumento da capacidade de cobertura de resseguros no exterior, contou Eduardo Nakao, presidente da instituição. Recomendações como proatividade comercial e rentabilidade das operações soam básicas para qualquer companhia privada, mas no caso do IRB buscam combater vícios dos tempos em que a empresa era uma estatal monopolista.”A primeira constatação é que o IRB precisava se aproximar dos clientes e dispor de uma capacidade de colocação de riscos no exterior em substituição à capacidade que passou a ser oferecida pelos resseguradores que decidiram atuar como empresas locais no Brasil”, afirmou Nakao sobre o trabalho da BCG.Enquanto foi monopolista, o IRB esperava placidamente a demanda dos clientes – as seguradoras que transferem os riscos muito elevados para o resseguro. A capacidade de colocação de riscos no mercado internacional era garantida, não por esforço próprio, mas pela atuação das empresas internacionais, que colocavam seu próprio capital à disposição do IRB, em troca de participar da rentabilidade proporcionada pelos negócios que envolviam risco Brasil.Agora a equação se inverteu. As resseguradoras podem se instalar no Brasil e operar diretamente com as seguradoras brasileiras, sem passar pela ex-estatal. Para o patrimônio de R$ 1,9 bilhão, o IRB tem um limite de aceitação de riscos de R$ 50 milhões por contrato. A capacidade total de colocação de riscos no exterior é de US$ 700 milhões. Antes da abertura, entre 2005 e 2006, era de US$ 565 milhões. A capacidade de colocação de riscos no exterior é a essência do resseguro, que nada mais é que capturar excessos de riscos e diluí-los entre vários outros tomadores. Alguns seguros como os de navios cargueiros ou aviões são insuportáveis para uma única seguradora, às vezes até para um grupo delas. Calcula-se que para um risco de US$ 500 milhões – valor aproximado pago pela indenização da plataforma P-36 da Petrobras, que afundou em 2001 – são necessárias 60 resseguradoras.Mas as condições de manutenção desta capacidade mudaram muito nos últimos dois anos. Antes as resseguradoras estrangeiras davam ao ex-monopolista brasileiro condições favoráveis de coberturas, preços e prazos. Agora uma das missões do IRB é recuperar essas condições.A concorrência local também obrigou o IRB a se tornar proativo, criando e oferecendo produtos, negociando preços e condições e disputando riscos com seus ex-parceiros internacionais. Neste contexto, a nova diretoria comercial vai funcionar como as mesas de crédito dos bancos, diz Nakao. As seguradoras maiores e que mais trazem negócios terão gerentes exclusivos encarregados de um contato “on line, real time”, prometeu.”O gerente de relacionamento vai defender a seguradora junto à área técnica, com mais flexibilidade para estabelecer prazos e condições de cobertura. Se houver sinistro, o cliente vai ligar para o gerente e ordenar a regulação”, explica o presidente do IRB. “É o que qualquer um que contrata seguro espera de seu corretor.”Como monopolista, o IRB era obrigado a aceitar todo e qualquer risco que necessitasse de resseguro. Na maioria das vezes, repassava a maior parte para o mercado internacional. Eventualmente ficava com uma pequena parcela do contrato, mas nunca poderia aceitar parcialmente um contrato. Agora é diferente, diz Nakao: “tudo será uma questão de cláusula (de contrato), frequência e severidade (de sinistros registrados)”.O IRB não quer mais assumir resseguros de eventos naturais (chuva, granizo, furacão etc) e, no que depender de Nakao, não haverá mais cobertura para automóveis no pátio das montadoras, onde uma chuva de granizo pode representar milhões de dólares de prejuízo. “Vamos exigir que os automóveis fiquem em garagem coberta. Se aceitarem, bem. Senão, recusamos o contrato.”Os ramos prioritários na nova estratégia serão aviação, industriais (“properties”), energia e engenharia. Outros riscos poderão ser aceitos, porém serão olhados com lupa. É o caso dos seguros de responsabilidade civil, um ramo de pouca tradição no Brasil. Nesse caso, o IRB poderá entrar para ficar com uma pequena fatia, apenas para acompanhar o setor, obter informações para formar um banco de dados. “Mas desde que tenha cláusulas muito claras de exclusão de determinados riscos”, avisa.

Fonte: CQCS

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