Redução da taxa de juro em ritmo mais acelerado aumenta otimismo na indústria
A redução da taxa básica de juros em ritmo mais acelerado já surtiu efeito positivo sobre o humor dos empresários industriais, na avaliação de Aloisio Campelo, superintendente de estatísticas públicas do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) avançou 4,3 pontos entre dezembro e janeiro, para 89 pontos – maior nível desde maio de 2014, quando a recessão que a economia brasileira atravessa ainda estava no começo. “O impacto da redução de juros no nível de atividade é defasado, mas na confiança é mais rápido”, disse Campelo.
No dia 11, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a intensidade de corte da Selic, que foi reduzida em 0,75 ponto, para 13% ao ano. O movimento foi maior do que o esperado por boa parte do mercado, que trabalhava com 0,5 ponto de baixa. Para Campelo, a decisão do BC é o que explica a alta mais forte da confiança no fechamento do mês. A prévia do indicador subiu 3,1 pontos.
Segundo o economista, cortes na taxa de juros podem afetar a percepção dos agentes econômicos no mesmo mês em que ocorrem, por meio do canal das expectativas e, também, porque o recuo da Selic ajuda na redução de custos financeiros e na captação do crédito. “[A queda dos juros] dá um alívio na percepção de rentabilidade da empresa”, disse.
Agora, afirmou, há fatos concretos que elevaram a confiança, ao contrário do observado entre abril e setembro de 2016, quando a mudança de governo gerou um excesso de otimismo que, meses depois, se mostrou sem fundamentos.
O aumento do ICI no mês passado foi espalhado por 15 dos 19 setores industriais pesquisados, e influenciado tanto pelo Índice de Situação Atual (ISA) quanto pelo Índice de Expectativas (IE). Os dois componentes avançaram, respectivamente, 3,8 pontos e 4,7 pontos em relação a dezembro.
No primeiro índice, o maior impacto de alta veio da melhor avaliação sobre a situação atual, que subiu de 77,7 pontos para 82,9 pontos. Nas expectativas, o impulso foi dado pelo indicador de emprego previsto – alta de 7,9 pontos ante dezembro (89,2 pontos).
Embora a indústria continue demitindo mais do que contratando, o pior do ajuste do emprego no setor já ficou para trás, afirmou Campelo. Em abril de 2016, a diferença entre a proporção de empresários mais propensos a demitir e a fatia daqueles que têm intenção de contratar nos próximos três meses era de 23,6 pontos, número que caiu agora para 5,1 pontos.
Somados ao ciclo de relaxamento monetário e à queda da inflação, outros sinais positivos que podem ter efeito benigno sobre a confiança são o menor endividamento das famílias, assim como a inadimplência da pessoa física, que parou de aumentar, mencionou o superintendente.
Há, ainda, uma demanda reprimida por produtos que precisam ser substituídos, acrescentou, seja de máquinas usadas na produção pelos empresários ou de bens de consumo. Esse conjunto de fatores não é suficiente para que o PIB volte a crescer a um ritmo anual de 4%, diz Campelo, mas já desenha um cenário um pouco mais favorável.
É cedo para prever se o ICI vai continuar em ascensão nos próximos meses e a saída da recessão será mais lenta do que em outras ocasiões, avalia Campelo. O efeito da redução dos juros tende a ser positivo sobre o índice nas próximas leituras, tendo como base o comportamento da confiança nas outras ocasiões em que a Selic caiu.
Como os estoques ainda não estão ajustados na indústria, a reação do setor terá idas e vindas, avalia Campelo. Na passagem mensal, o indicador de estoques da FGV recuou de 109,1 pontos para 107,9 pontos, influenciado por queda na parte de bens duráveis e bens de capital. O índice é calculado pela diferença entre a proporção de empresas com inventários excessivos e insuficientes.
Como fatores que ameaçam uma possível continuidade da reação da confiança, o economista menciona a turbulência política, que pode atrapalhar as negociações no Congresso de medidas estruturais, e ambiente externo, após a eleição de Trump nos EUA.
Fonte: Valor