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Rastreamento, um caminho sem volta

Independentemente dos desacertos comerciais entre Brasil e União Européia (UE) e do fato de sua propriedade não fazer parte da relação de 106 estabelecimentos rurais reabilitados esta semana a exportar carne bovina para o mercado europeu, o produtor gaúcho João Francisco Wolf, de 41 anos, aposta na rastreabilidade como um caminho sem volta para a pecuária brasileira. Ele acredita que, no futuro, o sistema será uma exigência generalizada nos mercados externo e interno e que a recompensa para quem está ajustado desde já virá na forma de melhores preços recebidos da indústria.
Dono da Cabanha dos Tapes, localizada entre os municípios gaúchos de Tapes e Arambaré, a cerca de 120 quilômetros ao sul de Porto Alegre, Wolf tem 958 cabeças de gado, todas rastreadas e a maior parte da raça angus. Nos últimos dias ele viveu a tensão comum a todos os pecuaristas desde a imposição do embargo à carne brasileira, no início de fevereiro, e depois a frustração de ficar de fora da lista das 13 propriedades gaúchas a serem vistoriadas pelos técnicos da UE, de onde já foram selecionadas onze das 106 fazendas reabilitadas em cinco Estados.
“Que é desestimulante [ficar de fora da lista], é, mas de que adianta ficar tenso?”, indaga. Para ele, até o fim do ano todas as propriedades que têm o certificado ERAS (Estabelecimento Rural Aprovado pelo Sisbov, o sistema de rastreamento do governo federal) deverão estar habilitadas a vender para a Europa porque os europeus precisam da carne barata e de boa qualidade do Brasil. “É uma questão de respeito ao produtor”. Conforme o diretor técnico da Superintendência do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul, José Euclides Severo, até quinta-feira havia 1.656 fazendas certificadas no Estado, com cerca de 1 milhão de animais no total.
O número ainda é pequeno diante do total de 350 mil propriedades gaúchas e do rebanho de 13,3 milhões de cabeças, mas está avançando rapidamente. No início de janeiro havia 547 fazendas com ERAS no Estado, das quais 467 foram selecionadas para a primeira lista, de 2.681 em todo o país, que foi encaminhada pelo governo federal e rejeitada pela União Européia no fim de janeiro. Mas, nos dois últimos meses, houve uma forte migração de produtores que haviam aderido ao antigo Sisbov (implantado em 2002 e que permitia que apenas parte dos animais fosse rastreada) para o novo sistema, no qual toda a propriedade é certificada.
Com o certificado número três do Estado, obtido ainda em dezembro de 2006, Wolf é um veterano da turma. Ele começou a rastrear os animais em 2002 e no início chegou a receber 10% a 11% a mais dos frigoríficos pela carne diferenciada. Depois, com o aumento do número de propriedades integradas ao sistema, o prêmio foi desaparecendo gradativamente, mas o pecuarista acredita que depois de resolvido o imbróglio com a União Européia a diferença será restabelecida aos poucos em função da demanda pelo produto. Hoje ele recebe cerca de R$ 4,70 pelo quilo-carcaça, contra R$ 4,60 pagos pela carne não rastreada, afirma.
Para Wolf, no fim das contas os produtores gaúchos tiveram até sorte, porque o embargo europeu coincidiu com um período de ajuste entre oferta e demanda de carne no Estado, o que permitiu ao setor resistir às “pressões” dos frigoríficos por reduções de preços. “Não vai sobrar boi no pasto”. Conforme o produtor, depois da seca de 2004/05, quando houve abates de matrizes em grande escala no Rio Grande do Sul, só agora a produção de terneiros está retomando o ritmo normal. “Esses animais estarão prontos em 2010, 2011, e se o embargo fosse nesse período é que seria um problema sério”.

Fonte: Valor

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