Queda da taxa de juros obriga setor a rever preços
O recuo da taxa básica de juros, a Selic, para 11,25% ao ano, vai afetar os ganhos financeiros das seguradoras, exigir reajustes nos preços de empresas que contavam com os resultados provenientes de aplicações para manter prêmios sem realidade tarifária e, ainda, minar a disposição de competição predatória em ramos de massa, como, por exemplo, a carteira de automóvel. O diagnóstico é consensual entre dirigentes de seguradoras consultados pelo Jornal do Commercio.
Em contrapartida, se o ciclo de baixa da Selic provocar uma retomada do crescimento, o mercado está disposto a pagar o preço de melhorar os resultados operacionais e reduzir a dependência dos ganhos financeiros.
O presidente da Chubb do Brasil, Acacio Queiroz, admite que a maioria das seguradoras brasileiras tem o seu resultado proveniente das aplicações financeiras, tendo em vista que poucas são aquelas que contribuem significativamente para o respectivo lucro por meio do resultado operacional.
Considerando-se tal realidade, acrescenta ele, qualquer mudança na taxa Selic implica diretamente nos resultados financeiros do mercado segurador brasileiro. Contudo, Acácio Queiroz destaca que a influência poderá ser maior ou menor, de acordo com a origem das suas aplicacões, respeitando sempre as normas estabelecidas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).
Ele se refere ao perfil das aplicações financeiras, visto que as empresas que tenham parte de suas reservas em títulos pré-fixadas serão menos afetadas no ano corrente do que aquelas que estão alocadas em papéis pós-fixadas.
estabilidade. Na avaliação do presidente do Grupo Nobre Seguros, Pedro Alburquerque, a adaptação do setor a ganhos cada vez menores provenientes do mercado financeiro seria bastante traumática se ocorresse há 15 anos, período em que as empresas ainda eram mais dependentes dos resultados das aplicações financeiras.
Contudo, com a estabilidade econômica, houve um gradual empenho do mercado em gerar resultado operacional.
Ele reconhece, porém, que essa adaptação não é uniforme no setor e, tendo em vista a perspectiva de baixa da Selic neste ano, o problema será mais sentido pelas empresas que ainda não geram resultado operacional positivo.
Nesses casos, o mais provável é que, sem o colchão das aplicações financeiras, as empresas atualizem os prêmios dos seguros para compensar a redução provocada pela Selic menor. Ajustes de rotas terão de feitos pelas companhias que ainda insistem em trabalhar fora da realidade tarifária, afirma ele.
Já o vice-presidente financeiro do Grupo Liberty Seguros no Brasil, Carlos Magnarelli acredita que, com a menor taxa de juro, o setor de seguros terá de reduzir despesas e investir em tecnologia para melhorar a eficiência, compensando a perda financeira em seus investimentos.
E o prognóstico é de que as seguradoras terão de se preparar para um quadro de ganhos decrescentes das aplicações financeiras. Certamente teremos a continuidade do corte da taxa Selic em 2009 e, portanto, será sentido de maneira mais radical a perda da receita financeira referente às aplicações no próximo ano, destaca Acácio Queiroz.
Essa percepção encontra eco em outros setores econômicos, para os quais o tombo da economia ocorrido no último trimestre do ano 3,6% de baixa do PIB em relação a julho/setembro abre espaço para novos cortes da taxa Selic. No caso extremo, há quem acredite em Selic abaixo de 10% até o fim do ano. Para Carlos Magnarelli, o corte dos juros básicos tornou-se necessário dada a forte queda do Produto Interno Bruto (PIB) verificada no último trimestre de 2008. Nada que coloque em risco o controle da inflação no País. Diante da menor demanda do mercado local, a taxa Selic em 11,25% deve trazer mais liquidez, o que ajudará a aquecer a economia interna, avalia.
Fonte: Jornal do Commercio