Quando a gente não para, a vida nos para
Durante muito tempo, me orgulhei da minha força.
Forte por conquistar minha independência cedo.
Forte por continuar, mesmo quando tudo parecia pesar demais.
Forte por estar sempre disponível, resolvendo, acolhendo mesmo quando ninguém fazia o mesmo por mim.
Essa força muitas vezes admirada era, na verdade, meu escudo.
Eu vesti a produtividade como armadura. O trabalho virou meu território de segurança, reconhecimento e fuga.
Ali, eu acreditava que era vista. Que era respeitada. Que era valorizada.
E era. Mas a que custo?
Sempre priorizei o trabalho. Sempre dei o meu melhor.
Mas existe uma diferença importante entre ser comprometida e ser workaholic e eu precisei adoecer para entender essa fronteira.
O comprometimento constrói. O workaholismo consome.
Um se equilibra com a vida. O outro atropela tudo inclusive a saúde.
Por muito tempo, eu não enxerguei isso.
Empurrei os sinais por mais oito meses, acreditando que era só cansaço, só mais uma fase…
Até que chegou o ápice. Um momento tão profundo que precisei escolher: viver ou me afundar de vez.
Foi quando a vida me parou.
E só então percebi o quanto estava tentando sobreviver num contexto onde o fazer era mais valorizado do que o sentir.
A armadilha do “dar conta”
Ser mulher, mãe, profissional e sonhadora é algo que carrego com orgulho. Mas a ilusão de que eu precisava dar conta de tudo ao mesmo tempo me afastou de mim mesma.
Na ânsia de “dar conta”, fui me perdendo.
Esqueci de me ouvir.
De pedir ajuda.
De entender que não era só sobre excesso de tarefas, mas também sobre o quanto eu mesma ignorava meus limites na tentativa de corresponder a um ritmo que nem sempre é humano.
O autocuidado virou promessa para “quando desse tempo”. Mas tempo, nesse formato de vida acelerada, é um bem raro. E o “depois” nunca chegava.
Até que o corpo gritou.
A mente travou.
A alma adoeceu.
O reencontro comigo mesma
Foi na pausa forçada que reencontrei minha própria voz.
Perguntas que antes não cabiam na agenda vieram à tona:
Quem sou eu sem estar me provando o tempo todo?
Por que insisti tanto em caber em um molde que me afastava de mim?
Para quem era essa entrega, se ela me custava tanto?
Entendi que não era só sobre equilíbrio.
Era sobre pertencimento. Sobre respeito. Sobre lembrar que, por trás da entrega, existe uma pessoa com emoções, limites e necessidades.
E aqui deixo uma reflexão importante:
Às vezes, o contexto profissional normaliza o excesso e valoriza o colaborador que nunca diz não. Mas esse padrão cobra um preço alto e cedo ou tarde, a conta chega.
É papel da liderança observar sinais, promover pausas, cultivar escuta.
Porque saúde mental não se sustenta só com metas e produtividade.
O que sustenta a entrega é o bem-estar.
Hoje, sigo com novos olhos.
Ainda no mesmo lugar, mas com uma nova consciência sobre mim e sobre o que preciso para seguir saudável.
E agora, prestes a retornar, carrego comigo um desejo:
Que esse recomeço seja mais humano.
Que o diálogo ganhe espaço.
E que o cuidado também seja coletivo.
Um convite para você
Se você está se exigindo demais… se seus limites estão sendo ignorados por você mesma… se o ritmo está acelerado demais para que a alma acompanhe… pare.
Não espere a vida te parar.
Você não precisa se provar o tempo todo.
Você só precisa lembrar de quem é.
Cuide de quem cuida de tudo: você.