Problema de meninos e Homens
8 de Março de 2006 – Tenho esperança de que este artigo possa contemplar um grande contingente de leitores. Não apenas por eles mesmos, mas para muitos que têm filhos em idade escolar. É grande o número de consultas que têm como assunto principal a famosa fimose, que nada mais é do que uma impossibilidade de expor a cabeça do pênis (glande) ao se retrair a pele excedente (prepúcio).
É muito comum na população pediátrica, mas não é raro adultos que apresentam seqüelas do problema. A grande maioria dos meninos nasce com essa película cutânea, que recobre a cabeça do pênis. Essa proteção natural ficará presente, normalmente, nos primeiros anos de vida. Desde que não prejudique a eliminação da urina, a fimose não deve ser retirada cirurgicamente até que a criança pare de usar fraldas.
Apesar de aparentemente simples, a fimose é um problema que, se não for adequadamente tratado, pode causar complicações. A afirmação tem bases científicas e também em programas implantados pelo Ministério da Saúde, nas regiões Norte e Nordeste do País, que objetivam diminuir o número de casos de câncer de pênis causados, principalmente, pela dificuldade que a fimose impõe à higiene pessoal. Além disso, existem vários estudos que comprovam haver uma forte correlação entre a presença da fimose e uma maior incidência de doenças sexualmente transmissíveis, incluindo AIDS e condiloma (HPV).
A cirurgia de correção da fimose é conhecida como postectomia ou circuncisão e é uma das cirurgias mais antigas de que se tem conhecimento. As indicações incluem presença de infecções na pele peniana por fungos ou as balanites, infecções urinárias e até causas religiosas, como entre os judeus. Existem também as indicações ditas sociais, quando os próprios pais exigem a retirada do prepúcio mesmo sem a existência de uma patologia.
Apesar de todos os meninos nascerem com fimose, nem todos precisarão de cirurgia para corrigir o problema. A maioria passará por um processo natural, onde essa camada de pele se retrairá espontaneamente. De fato, essa resolução natural pode estar presente em cerca de 90% dos meninos até completarem três anos de vida.
Para os que não tiverem essa sorte, a cirurgia poderá ser feita bem depois. Alguns médicos recomendam operar por volta dos 15 anos, pois nessa faixa etária a cirurgia já pode ser feita com anestesia local e envolve um pós-operatório mais tranqüilo. Ao contrário, alguns cirurgiões infantis advogam a realização do procedimento logo após a criança sair da fralda. Outros operam ainda na maternidade nos primeiros dias de vida.
Postergar a cirurgia não significa ignorar o problema. É preciso que os pais fiquem alerta à questão. Crianças que manipulam muito o pênis ou que reclamam de dores nessa região podem estar com algum problema. Um fato que me preocupa muito são os famosos “exercícios” ou “massagens” que costumam ser ensinados às mães. Não se deve fazer nenhum tipo de retração na camada de pele que recobre o pênis da criança. Isso pode causar sérias complicações como, por exemplo, a parafimose, em que a glande não consegue mais voltar para o interior da camada de tecido. Se isso ocorrer, será necessário realizar uma cirurgia de urgência para liberar o pênis.
Outra opção de tratamento, que é muito atraente pois não necessita de cirurgia, é o uso de pomadas tópicas, geralmente à base de corticóides e seus derivados. Já faz algum tempo que as pomadas são consideradas uma opção válida, mas ainda não foram estudadas de forma científica como alternativa ao tratamento cirúrgico.
E por fim não poderia deixar de tecer um comentário sobre duas dúvidas muito comuns: a de que a fimose, caso não operada, não permitirá que o pênis se desenvolva normalmente e de que o homem operado de fimose não irá apresentar ejaculação precoce. Nenhuma dessas afirmações é verdadeira apenas folclore, pois o prepúcio é constituído de pele e não traz restrições ao desenvolvimento dos corpos cavernosos ou outras estruturas do pênis. A ejaculação rápida ou precoce é, sabidamente hoje, uma disfunção sexual de origem psicológica.
Para expressar a minha opinião sobre este tema: operei meus dois filhos quando eles ainda eram crianças, com cinco anos de idade. Não me arrependi.
Fonte: Gazeta Mercantil