Previdência mais barata
Os participantes da previdência privada têm procurado pagar taxas de
administração cada vez menores para investir. No primeiro bimestre deste
ano, 68% dos recursos investidos nos planos de renda fixa que captaram mais
de R$ 30 milhões no período foram destinados a fundos com taxa de
administração de até 1,5% ao ano, segundo o site Fortuna. Em 2002,
investia-se em planos com taxa abaixo desse limite apenas 20% do volume e,
no ano passado, esses planos eram destino de 49% dos recursos. Com a maior
competição, os planos mais em conta têm sido sistematicamente mais
procurados.
Como os planos de previdência de renda fixa investem em carteiras de fundos
similares entre si – na maioria das vezes recheadas de títulos públicos que
pagam os juros básicos -, a diferença das taxas de administração interfere
diretamente na rentabilidade final das aplicações e, por conseqüência, no
valor da renda futura. “Os participantes estão notando isso cada vez mais”,
diz Felinto Coelho, consultor da Towers Perrin. Ele calcula que a variação
de um ponto percentual na taxa de administração um plano de previdência para
outro, para quem acumular recursos por 30 anos, poderá significar uma
diferença de 20% no saldo final e na renda mensal na aposentadoria. “Entre
um fundo de taxa 1,5% ao ano e outro de 3,5% ao ano, a diferença tenderá a
superar 40%.”
Segundo o site Fortuna, a rentabilidade máxima de planos com taxa de 3,5% ao
ano que mais captaram no primeiro bimestre foi de 2,47%. Enquanto isso,
esses planos de taxa de 1,0% ao ano obtiveram rendimento máximo de 2,58%. Se
mantidas essas rentabilidades pelo período de apenas um ano, a diferença de
rendimento entre os dois planos já seria de 2,06 pontos percentuais. Quanto
maior o período de aplicação, maior será essa distância entre os saldos.
Outro fator que pode ter contribuído com o aumento da procura pelos planos
de taxa menor é o esforço dos participantes em investir mais recursos na
previdência privada, diz Juvêncio Braga, diretor da Caixa Vida e
Previdência. Esses custos variam conforme o valor aplicado pelo
participante. Quanto mais alto, menor será a taxa cobrada, explica.
Portanto, na medida em que se aplica mais, taxas menores são obtidas. Ele
destaca, porém, que isso não tem a ver, necessariamente, com a renda do
participante. O valor maior aplicado pode ser justificado pela transferência
de outros investimentos para a previdência, diz.
Os investidores de alta renda, porém, passaram a ter mais incentivos para
investir na previdência privada com a criação da tabela de imposto de renda
regressiva, diz D´Agosto, do Fortuna. “Eles podem investir visando um
horizonte de prazo mais longo, em que a tributação é menor do que a dos
fundos tradicionais.” Na maioria das vezes, são esses clientes que conseguem
acesso a taxas menores, diz ele.
É cada vez mais freqüente encontrar investidores pesquisando taxas antes de
aplicar, diz Marcelo Gerbassi, gestor da Icatu Hartford. Isso já ocorreu
entre os fundos de previdência institucionais e agora leva à tendência de
queda das taxas que acompanha a expansão do mercado aberto, diz. “A
possibilidade de se portar recursos sem altos custos entre diferentes planos
de diferentes seguradoras estimula essa queda das taxas.” Conforme a
instituição, é possível transferir o saldo dos planos de previdência para
outra seguradora bancando apenas o custo de 0,38% da CPMF.
O investidor deve estar atento, ainda à cobrança de outro encargo chamado
taxa de carregamento pelas seguradoras que oferecem previdência. Ela incide
sobre o valor dos depósitos e costuma ser maior que a taxa de administração.
Porém, o impacto dessa taxa sobre o valor investido, no longo prazo, é menor
do que o custo da administração financeira. Ou seja, num cenário de
rendimento anual de 10%, uma aplicação de R$ 1 mil em plano com taxa de
carregamento de 10% e administração de 1% ao ano em 30 anos se tornaria R$
11,940 mil. O mesmo valor, em idênticos período e cenário, num plano com
carregamento de 5% e taxa de administração de 2% ao ano, chegaria a R$ 9,559
mil.
O site Fortuna identificou também que a captação líquida dos planos de
previdência no primeiro bimestre desse ano, de R$ 1.019 milhões, superou em
quase 50% o volume investido no mesmo período de 2005, que ficou em R$ 686
milhões. Para D´Agosto, do Fortuna, a crise que abalou o mercado no ano
passado, com as novas regras tributárias, parece não mais preocupar os
investidores.
Porém, o volume aplicado nos planos de previdência no primeiro bimestre
ainda ficou aquém do saldo verificado no mesmo período em 2004, quando foram
investidos R$ 1.709 milhões em previdência privada. A principal mudança
lembrada pelos especialistas que teria reduzido esse valor é a nova regra
que tributa na fonte os saques, eliminando a brecha para investidores
eventualmente “esquecerem” de pagar o imposto.
Para Gerbassi, do Icatu Hartford, apesar de não ter atingido o mesmo volume
de 2004, a captação do setor volta a acelerar e, em 2007, certamente serão
notadas aplicações maiores, se não houver novas surpresas até lá.
Fonte: Valor