Preços congelados, investimentos parados
Anualmente, as operadoras de planos de saúde têm seus valores de custo reajustados conforme regulamentação da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
Apesar disso, este aumento não é repassado para os prestadores, que alegam estar há quase seis anos sem ter reajuste por grande parte destes tomadores de serviço.
Este é o quadro apontado por Mônica Bezerra, diretora de mercado do Hospital Santa Izabel. Segundo ela, a inovação tecnológica é premissa básica para um hospital, mas a ausência de remuneração condizente dificulta a realização de investimentos, o que acaba prejudicando o paciente. “Muitas operadoras não entendem esta necessidade e diversas vezes veem a incorporação de uma tecnologia como custo. É preciso enxergar mais longe, pois às vezes um custo maior em curto prazo significa redução com gastos em tratamentos demorados e uma recuperação melhor”, argumenta.
Segundo o presidente da Ahseb, Marcelo Britto, há clínicas que solicitam reajuste dos seus atendimentos e nem obtêm resposta ou então recebem uma proposta de redução do valor. “Recentemente assistimos a uma grande seguradora, a Sul América Saúde, aplicar reajuste retroativo a 2005 por força da cassação de uma liminar que perdurava desde este período. O que a população usuária não sabe é que a maioria dos hospitais da capital e do interior do Estado não recebe reajuste há mais de seis anos desta mesma seguradora”, revela.
Britto destaca que a proposta do setor de prestação de serviços em saúde suplementar da Bahia é que o mesmo índice estabelecido para reajustar os planos dos usuários seja aplicado para reajuste aos prestadores, quer sejam médicos, laboratórios, clínicas, serviços de imagem e diagnóstico ou hospitais.
“Esta é uma proposta sensata, ética e, antes de tudo, honesta.
Não se aplicando reajuste para o usuário nada deve ser aplicado aos prestadores de serviços em saúde e vice versa”, conclui.
O maior prejuízo fica com a população, que é prejudicada com a escassez de investimentos em novos leitos de internamento, na falta de atualização tecnológica dos meios de diagnóstico e tratamento e na falta de ampliação das emergências. O resultado é visto nas filas e reclamações constantes nas portas dos hospitais privados, que sofrem superlotação e ficam sem condições de atender a demanda crescente. “Enfim, o comprometimento global com a qualidade do serviço de saúde fica prejudicado. Esta realidade é duplamente perversa, pois penaliza o usuário de planos e seguros de saúde que paga mensalmente por um atendimento médico de qualidade e deve exigir esta contrapartida”, finaliza Britto.
PACOTES A adoção de uma combinação prévia de preços entre OPS´s e prestadores para determinados procedimentos nos quais os itens utilizados podem ser mais facilmente previstos e incluídos nesta composição de valores é uma das alternativas apontadas pelo consultor Rubenval Garcia para a redução das glosas. São os chamados “pacotes”, já adotados por algumas operadoras. “Se o preço já está acordado entre as partes, fica mais difícil ocorrer a glosa”, diz.
A adoção deste modelo, no entanto, passa por um estudo detalhado dos custos dos hospitais com os procedimentos. “Não pode ser feito um acordo sem antes verificar se ele realmente traz melhorias.” É exatamente este estudo que está sendo realizado pelas clínicas de oftalmologia, de acordo com Ivan Urbano, diretor médico da Clivan. “O histórico do setor é o convênio estabelecer valores, por isso há alguma resistência.
Mas é importante fazer o levantamento do custo de cada item de uma fatura, para sentarmos à mesa de negociação com esta ferramenta de argumentação.” O diretor da Muricy Consultoria, José Alberto Costa Muricy, sublinha que, embora os pacotes com contratos pré-fixados sejam uma boa alternativa, não é possível aceitar alguns valores neles propostos pelas operadoras, e o congelamento de preços dura anos. “Enquanto os insumos sofrem reajustes periódicos, os valores pagos aos prestadores são os mesmos. Os pacotes são transformados em “embrulhos”, que não cobrem nem os custos”, alerta.
Fonte: A Tarde
