Por que São Pedro sozinho não vai tirar São Paulo da seca
É fato que São Pedro não tem sido lá muito amigo dos paulistas nestes primeiros meses de 2014. Desde dezembro, o Estado de São Paulo vive sua pior estiagem em mais de 80 anos. Agora, acender vela para que o apóstolo abra as portas do céu e faça a água cair sobre as represas sedentas não é solução mais racional.
Aqui em terra, a preservação e proteção desse recurso é responsabilidade de todos, mas sua correta gestão recai, principalmente, sobre o poder público.
Caprichos da natureza não são suficientes para justificar que o Estado com o maior PIB do país e lar de 10% da população brasileira esteja à beira de um colapso d´água.
Com o passar das semanas e o aprofundamento do drama da Cantareira, que atingiu seu pior nível ontem, de 12,7 %, fica cada vez mais cristalino que tem alguma coisa errada na gestão da água paulista.
A suspeita é reforçada pela recente admissão pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) de que existe, sim, risco de ocorrer rodízio de água, caso os níveis dos reservatórios da companhia no Estado de São Paulo não sejam restabelecidos.
Essa informação não consta em algum relatório recente feito na esteira da crise paulista, mas no relatório de sustentabilidade de 2013 da empresa divulgado esta semana.
Até aí tudo bem, não fosse pelo fato da afirmação ir de encontro à negativa repetida a exaustão ao longo das últimas semanas pelo governo de Geraldo Alckmin de que “São Paulo não terá racionamento de água”.
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Uma das alternativas, que depende menos do estado e mais da disposição dos vizinhos, é a proposta de construir um canal para retirar água da bacia do Rio Paraíba do Sul, que abastece o Rio de Janeiro.
É polêmica. Para especialistas da área, retirar água do Paraíba do Sul pode antecipar um colapso de abastecimento para o povo fluminense.
Agora que a crise já está instalada, começam a sair do papel projetos antigos que podem proteger a cidade de futuros colapsos.
É o caso da construção de um novo reservatório de água, em Ibiúna, fruto de parceria público-privada, prevista para ser concluída em 2018.
A natureza fala, mas quem escuta?
Todas essas ações tomadas quando a crise já está instalada mostram que a solução vai muito além da boa vontade de São Pedro.
A natureza fala e os sinais são claros. Mas estamos dando a devida atenção? O colapso do sistema da Cantareira é uma tragédia anunciada há tempos.
Verões mais intensos e com padrões de chuvas alterados são sinais de mudanças no padrão climático.
O verão de 2014 foi o mais quente de São Paulo em 71 anos.
Além dos termômetros em alta recorde, o verão também trouxe tempo seco sem precedente e a falta de chuva, que levaram as principais represas à situação de estresse hídrico.
Não há estudo que mostre a relação direta entre o aquecimento do planeta e as altas temperaturas registradas por aqui.
No entanto, com a tendência de aquecimento dos últimos anos, verificados pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPPC), os extremos climáticos tornam-se mais comuns.
Fonte: Exame