Por que gerenciar riscos?
Lendo há algumas meses atrás sobre dois acidentes em distintas minas de carvão nos Estados Unidos, ocorridos com um intervalo inferior a um mês, confirmei o que deparo com preocupante freqüência nas atividades em gerenciamento de riscos e seguros. O primeiro acidente, um desabamento no interior da mina, teve como conseqüência, além dos danos materiais, a morte de todos os trabalhadores que se encontravam no local. O segundo acidente, um incêndio no interior da mina, resultou em perdas materiais, porém, com o salvamento de todos os trabalhadores. É escusado mencionar que o primeiro caso teve repercussões sérias nas atividades da empresa, com impacto sobre os demais trabalhadores e seus familiares, clientes, órgãos governamentais, comprometendo até mesmo a continuidade das operações. No segundo caso, apesar da seriedade da situação, a empresa transmitiu uma grande confiança a todos os seus funcionários e clientes, pelo inusitado do pronto atendimento, com recursos próprios imediatamente e apoio externo já na fase inicial. Os fatos me trouxeram à mente uma observação que invariavelmente é colocada quando se apresenta um relatório de inspeção contendo recomendações de melhorias: “Para que preciso investir na implementação de tantas melhorias, se já estou contratando o seguro?”. Tal comentário, no meu ponto de vista, denota uma visão distorcida dos objetivos da contratação do seguro e um grave equívoco sobre o papel do gerenciamento dos riscos no mundo dos negócios. Embora recente enquanto conjunto de técnicas para minimização de exposições a perdas, na essência, gerenciamento de riscos sempre existiu e todos nós o exercemos no dia a dia, desde os homens das cavernas e nossos ascendentes primatas. A avaliação das exposições e a escolha de alternativas que minimizavam tais exposições durante a caça, por exemplo, a procura por áreas abrigadas para proteção do inverno rigoroso que dizimava as populações, nada mais eram do que técnicas de gerenciamentos de riscos para as exposições do ambiente em que viviam. Nos dias atuais, ao decidir sobre as alternativas de roteiro, meios de transporte para as deslocações, etc., estamos tentando gerenciar os riscos de atraso para os compromissos, exposições a assaltos, situações críticas de nosso quotidiano. Analisando gerenciamento de riscos em atividades empresariais, mais do que atender aos requisitos dos contratos de seguros, fundamentalmente estamos contribuindo para a continuidade das atividades da empresa, com as menores perdas possíveis, ou no jargão técnico, “tornando o risco aceitável”. Em um contexto empresarial, a grande maioria das perdas materiais pode ser indenizada pelo seguro, mas como poderão ser recuperadas as perdas de vidas humanas? E os danos à imagem da empresa, irreversíveis em muitas situações? Independente da complexidade, estrutura e porte das empresas, se esta possui um profissional específico para exercer as atividades de gerenciamento ou se um dos sócios é o responsável por todas as atividades, é fundamental que a cultura de gerenciar riscos seja disseminada em todos os níveis, não para atender ao solicitado pela seguradora, mas como a única possibilidade da empresa garantir a sua sobrevivência. Colaboração: Berenice M. G. Areias, Conselheira do Clube das Luluzinhas Executivas de Seguros do Rio de Janeiro