Planos de saúde preparam onda de compras
Com a melhoria na renda da parcela mais pobre da população, o aumento do emprego formal e a maior oferta de planos odontológicos, a adesão à saúde privada subiu 30% nos últimos seis anos. Segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que iniciou o acompanhamento em 2000, o número de usuários passou de 34,6 milhões para 44,7 milhões de vidas de 2005 para 2006. Este crescimento foi acompanhado de uma maior regulamentação do setor, através da Lei 9.656/98, atualmente em vigor, que passou a discriminar padrões de cobertura e de qualidade das assistências e também a definir os atributos essenciais e específicos dos planos de saúde, enquadrados como referência para todos os contratos celebrados a partir daquela data. “A amplitude e uniformidade de cobertura previstas pela lei engessaram e encareceram os planos de saúde”, avalia Arlindo de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge).
Com isso, segundo ele, a tendência do setor é de concentração, com um crescente movimento de aquisições liderado pelas grandes operadoras. O objetivo é ganhar escala com a compra das carteiras de pequenas e médias e com a capilarização da rede credenciada, realizando aquisições e construindo hospitais próprios. “Atualmente, existem empresas que têm mais de 2 milhões de usuários, como a Amil e Intermédica. Quanto maior o número de usuários, maior a chance de se obter maiores lucros”, completa.
Para Alfredo Scaff, secretário-executivo da ANS, a concentração é resultado do processo de regulação. “A regulamentação exige uma garantia financeira das operadoras, que faz com que empresas menos sólidas tenham menos competência para enfrentar as que estão melhor estruturadas. Este movimento é acompanhado pela agência, que avalia se os processos estão dentro da legislação”, comenta.
Amil
A Amil faturou R$ 1,5 bilhão em 2006 e espera crescer 40% com novas aquisições. “A empresa está analisando outras empresas e estuda a possibilidade de abrir capital, para aumentar a captação de recursos e manter a estratégia de aquisições”, afirma Norberto Birman, diretor corporativo da Amil.
Com 1,1 milhão de associados, o Grupo Amil adquiriu 650 mil vidas nos último três anos, com a aquisição de carteiras de operadoras como Blue Life, Porto Seguro e Amico, sendo 190 mil para a Amil e 460 mil para a Dix, marca do grupo voltada para as classes C e D. A retenção da carteira de clientes, composta em 75% por planos corporativos e 25% por planos individuais, também está entre as estratégias do grupo que está investindo na ampliação de sua estrutura própria.
O grupo possui 15 hospitais próprios e está investindo na construção de mais dois, um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro.
Medial
A Medial é outra que posta no crescimento através de aquisições. A empresa agregou 325 mil novos clientes com a compra da Amesp, há dois meses, e acaba de comprar duas carteiras do segmento odontológico, das empresas Inova e Oral Pro. Com as aquisições, a empresa totaliza 1,5 milhão de beneficiários de planos de saúde e 100 mil de planos odontológicos, sendo 80% do segmento corporativo. “A aquisição da Amesp foi uma operação totalmente complementar, que nos permitiu estrear nos planos de baixo valor. As operações serão independentes, mas teremos sinergia operacional”, afirma Nilo Carvalho, diretor comercial da Medial . A empresa abriu capital no ano passado e a foi uma das primeiras de saúde a entrar no Novo Mercado. O lucro líquido cresceu 34% em 2006, chegando a R$ 40 milhões.
Por conta de sua entrada no segmento econômico, a empresa irá investir R$ 1 bilhão nos próximos cinco anos na construção e reforma de hospitais. Atualmente a operadora conta com 10 hospitais próprios, 43 centros médicos e 114 laboratórios. “Toda essa infra-estrutura hospitalar é importante. No segmento popular, é importante ter uma gestão eficiente dos indicadores e a existência de uma rede hospitalar torna possível a redução de custos. O segredo é também ter uma escala, mantendo o hospital com uma taxa de lotação alta. Com uma base grande clientes, é possível ter uma boa taxa de ocupação”, explica o diretor.
Samcil
A Samcil, que atua exclusivamente no segmento econômico, espera crescer 26% ampliando sua atuação no segmento corporativo, vendendo planos para médias e pequenas empresas. Atualmente, os planos coletivos representam 40% do total, e a intenção é que eles cheguem a 50% em 2008. “Todo mundo da classe A e B tem planos de saúde, assim como as grandes empresas. Na classe C e D, é o primeiro plano, assim como nas pequenas e médias empresas”, Mauro Bernacchio, diretor-geral da Samcil, que faturou R$ 421 milhões em 2006 e este ano espera crescer 26%, sem considerar as aquisições.
Para isso, a operadora investirá na ampliação da rede e destinará R$ 100 milhões para aquisições e investimentos em estrutura hospitalar. No ano passado, o investimento foi de R$ 25 milhões. “Já temos 10 operadoras da Grande São Paulo em análise”, afirma o diretor.
A empresa também não descarta a possibilidade de abrir o capital novamente. Todos os investimentos no momento foram feitos com capital próprio da empresa, que é fechado. “Estão divulgando que a Medial foi a primeira operadora de plano de saúde a abrir capital, o que é uma inverdade, pois em 1971, a Samcil abriu o capital. Mas com a queda das ações em 1980, o fundador da empresa recomprou as ações. Mas como o proprietário não tem sucessores, ele está pensando nesta possibilidade”, revela Bernacchio.
Segundo ele, há também um processo de aquisição de clientes de planos mais caros.
“Estamos sentindo um processo inverso ao da popularização de planos no setor de baixa renda. Houve um achatamento salarial da classe média e pessoas que tinham um plano mais caro, estão migrando para o nosso, que é em média, 80% mais barato. Existem planos de R$ 150, e o nosso custa R$ 45, em média”, explica o diretor.
Cynara Escobar
Fonte: DCI OnLine