Plano de Saúde: operadoras suspendem vendas
Nas últimas semanas, pelo menos 2 operadoras de saúde, Golden Cross e Prevent Senior, pediram a suspensão da venda dos seus produtos à ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o que causou preocupação entre os consumidores. As empresas alegam a necessidade de reestruturação e, por isso, solicitaram a suspensão das vendas. A principal causa desse movimento por parte das operadoras é a sobrecarga na prestação dos serviços devido ao impacto de novas doenças e surtos [epidemia e pandemia] que aumentam significativamente o número de procedimentos, internações e atos associados, o que resulta no declínio da qualidade dos serviços, assim, a medida de suspensão da comercialização dos planos possui o objetivo fundamental de preservar essa qualidade e capacidade dos serviços ao universo dos usuários existente, avalia Juliana Teixeira Barreto, advogada do escritório Fabio Kadi Advogados.
A decisão de suspender as vendas, no entanto, acende um sinal de alerta no mercado. É bastante incomum uma empresa pedir para deixar de vender seus produtos, diz Diogo Moreira Carneiro, consultor e professor na Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
Para ele, esse movimento pode ser visto como um mecanismo de pressionar o poder público regulador por condições mais benéficas para que possa operar ou até mesmo um movimento temporário, aguardando situações do mercado ou da própria estrutura corporativa que permitam voltar a atuar em situação favorável. O que fica claro é que este setor tem se mostrado muito desafiador para as empresas e algo precisa mudar, afirma o professor. Ele comenta ainda que o setor de saúde vem sofrendo de maneira bastante abrangente e é muito provável que essa dificuldade seja generalizada e se estenda para outras empresas que enfrentam problemas semelhantes. Há diversos fatores que contribuem para este cenário e que dificilmente serão equacionados sem modificações relevantes no modelo, considera o professor ao lembrar, por exemplo, que as pessoas hoje vivem mais tempo e buscam mais qualidade de vida.
Por outro lado, a indústria oferece soluções cada vez mais individualizadas e sofisticadas, e essas inovações custam muito caro. Também não são raros casos de judicializações que obrigam operadoras a custearem tratamentos de custo muito elevado. A conta não está fechando, diz.
A advogada Giselle Tapai, sócia do escritório Tapai Advogados, discorda. Parece ser um movimento de readequação das operações, especialmente em razão de possível legislação que visa regular o setor, considera a advogada. Giselle vai além e afirma que as empresas buscam mecanismos para se furtar de suas responsabilidades.
Exemplo disso, diz ela, é o caso recente de cancelamentos de planos de pessoas que estavam em tratamento. As empresas fazem as contas e os clientes que não dão lucram, simplesmente descartam. Sem poder se livrar dos pacientes que estão precisando usar os planos, a que têm direito e pelo qual pagaram, parece que estão buscando novas estratégias, considera Gisella.
As informações financeiras enviadas pelas operadoras de planos de saúde à ANS demonstram que o setor registrou lucro líquido de R$ 3 bilhões no acumulado do ano de 2023. Ou seja, o setor está saudável, mas em busca de eliminar riscos, que é inerente a todas as atividades, parece buscar fórmulas para escolher pessoas que não precisarão de atendimento, dispara a advogada.
Juliana explica que o objeto da suspensão é proteger os consumidores, evitando a contratação por novos beneficiários de um plano que já não está atendendo o universo de usuários existente de forma satisfatória. É importante destacar que não se trata de rescisão de contrato ou cancelamento da assistência médica e, sim, pedido de suspensão da comercialização com o propósito de reduzir temporariamente a oferta dos planos no mercado para proporcionar melhorias dos serviços, reforça Juliana.
O que dizem as empresas
Por meio de nota, a Golden Cross explica que a partir de 1 de julho, os clientes dos planos médicos empresariais da empresa passam a ser atendidos na rede credenciada Amil.
Os 240 mil beneficiários Golden, residentes majoritariamente no Rio de Janeiro, agora contam com serviços de excelência em todas as especialidades e níveis de atenção, além de canais de atendimento próprios. As empresas apontam ganhos de eficiência pela escala e pela qualidade Amil, que intermediou, apenas em 2023, mais de 80 milhões de procedimentos médicos, realizados por 20 mil médicos e serviços de saúde credenciados. Além da expertise das unidades próprias, a rede Amil inclui 12 hospitais e clínicas que são referência no Rio. É a tradição da Golden de mãos dadas com o cuidado assistencial e com a moderna estrutura da Amil.
Os desafios da saúde suplementar nos impulsionam a buscar soluções de eficiência com empresas de confiança e que comungam os nossos valores. Nossos beneficiários podem ter certeza de que nosso propósito é assegurar o melhor cuidado médico, para todas as suas necessidades, com alta qualidade e capilaridade geográfica, destaca o presidente da Golden Cross, Franklin Padrão Junior.
Para o diretor da Amil, Renato Manso, existe também uma dimensão afetiva nessa iniciativa. A Golden Cross, operadora de saúde mais longeva do país, foi a primeira referência de um mercado em formação, na década de 70. Para nós, é uma honra ter sido escolhido para oferecer nossa rede credenciada para seus beneficiários.
Já a Prevent Senior afirma que todo o sistema de saúde está enfrentando sobrecarga na demanda por atendimento ocasionada pelos surtos de dengue e doenças sazonais, o que tem lotado hospitais, prontos socorros e afetado todo o sistema. A Prevent Senior, que tem em sua carteira mais de 580 mil beneficiários, 87% com mais de 50 anos, tem o dever de agir com prudência e assegurar que os atendimentos transcorram dentro de padrões adequados. Por isso, entende que o ingresso de novos beneficiários nesse cenário de alta demanda prejudica a qualidade do atendimento daqueles que já integram a carteira, diz a nota. A operadora interrompeu a comercialização de seus produtos em 30/05/2024 e continua empregando seus melhores esforços para proporcionar atenção adequada e eficiente aos beneficiários, finaliza a empresa.
Fonte: NULL