Planalto monta ´agenda positiva´ na véspera de julgamento da chapa
O presidente Michel Temer construiu uma agenda normal de trabalho para esta semana, para demonstrar naturalidade, apesar do acirramento da crise política. No momento em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começa a definir o seu destino, Temer já costura compromissos para o pós-julgamento, que contemplam o anúncio de medidas econômicas com apelo popular. Ontem anunciou a implementação do Plano Nacional de Segurança Pública, começando pelo Rio de Janeiro, além de ações na área ambiental.
A expectativa no Palácio do Planalto é que, por maioria, a Corte eleitoral poupe Temer da cassação. É com um “otimismo cauteloso” que Temer traçou uma agenda repleta de compromissos para os próximos dias.
Amanhã, ele comanda o lançamento do novo Plano Safra, com anúncio de investimentos de bilhões de reais para os produtores rurais. O agronegócio foi o principal responsável pelo crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre.
Se forem concluídas até o fim da semana, Temer quer anunciar as medidas positivas, com bondades para a classe média. O Valor já antecipou que uma dessas medidas implica a revisão da tabela do Imposto de Renda, com a contrapartida de tributação dos dividendos.
Para auxiliares presidenciais, o governo deixaria a zona de turbulência em setembro, com o fim do mandato do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Até lá, contudo, será preciso enfrentar a denúncia que Janot oferecerá contra Temer pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução à Justiça.
Mas para que a ação penal tenha prosseguimento no Supremo Tribunal Federal (STF), é preciso o aval de dois terços dos deputados federais. Na avaliação de assessores, um número que dificilmente será alcançado, em uma Casa que Temer presidiu três vezes e onde mantém excelente trânsito.
O presidente tem conhecimento de que lideranças do Congresso Nacional, inclusive aliados, encomendaram pareceres sobre a elaboração do rito na hipótese de eleição indireta, caso o julgamento do TSE resulte em cassação. Na semana passada, Temer voltou a ouvir recomendações para que renunciasse, diante do agravamento da crise política, mas ele reiterou que não o fará.
Ontem Temer reuniu-se com o presidente do Instituto Aço Brasil, Marco Polo Lopes, e o conselho diretor. Mais cedo, comandou cerimônia em que deu força de lei ao Acordo de Paris sobre o clima. À tarde, comandou reunião do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para discutir a implantação do Plano Nacional de Segurança Pública, que começará pelo Rio de Janeiro.
Ao lado de Temer, estava o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apontado como o plano B do Planalto em uma eleição indireta, caso o TSE decida pela cassação da chapa Dilma-Temer. Temer disse que o “experimento” inicial da implementação do Plano de Segurança será na capital fluminense. “Será um experimento muito sedimentado, muito concentrado, que não será nada pirotécnico, mas algo muito sistematizado, planejado para fazer operações nas cidades, inicialmente na cidade do Rio de Janeiro, que passa por essa angústia que muitos brasileiros também partilham”. O presidente também programa uma viagem à Rússia neste mês, entre os dias 20 e 21, para uma visita de caráter bilateral.
Fonte: Valor