Perdas por desastres chegam a US$ 295 bilhões
Os prejuízos decorrentes de desastres naturais causados por mudanças climáticas somaram US$ 295 bilhões apenas nos nove primeiros meses de 2023. Desse total, só US$ 88 bilhões estavam segurados. Os números, consolidados pela Aon, multinacional britânica de gerenciamento de riscos, corretagem e resseguros, demonstram a necessidade de avanço de seguros voltados para proteção de perdas diante do aumento de fenômenos climáticos extremos como furacões, secas, enchentes e terremotos.
No Brasil, os prejuízos são da ordem de US$ 555 milhões. Produtos contra eventos desse tipo ganham espaço no portfólio das seguradoras, que começam a desenhar seguros sob medida contra riscos climáticos.
Reguladores, por sua vez, criam ferramentas para integrar esses riscos à gestão das companhias. Seguradoras terão que ajustar a modelagem atuarial diante das catástrofes climáticas. Se antes tinham que ter determinado capital para indenizar sinistros que ocorriam em uma curva normal, agora precisam ter mais capital para cobrir algo que pode acontecer de modo mais catastrófico, maior que todo o histórico anterior, diz Thiago Lang, responsável por de ESG, M&A e verticais de indústrias na Aon Brasil.
As mudanças demandarão grande quantidade de dados para dimensionar o impacto das variáveis climáticas em cada região e atividade econômica. O agro terá um impacto, a indústria outro, e será preciso desenvolver estratégias e eventos específicos, diz.
O tema é relevante para o setor. A Marsh, multinacional do ramo de seguros corporativos, lançou em 2022 uma plataforma que avalia 19 itens ESG das empresas para ajudá-las a melhorar suas exposições a riscos ambientais, sociais e de governança.
Com a ferramenta, empresas conseguem negociar melhor as apólices – 600 marcas já passaram por essa avaliação, 120 da América Latina e 50 no Brasil.
Em linha com as demandas do setor, a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) fechou, na COP28, parceria com a Climate Policy Initiative (CPI) a fim produzir estudo com foco nos impactos socioeconômicos das mudanças climáticas no Brasil. Teremos um banco de dados assertivo dos eventos climáticos e analisaremos os impactos causados nas vidas das pessoas a curto, médio e longo prazos. Essas informações serão utilizadas para aprimorar o papel do seguro na mitigação e prevenção destas ocorrências, diz Dyogo Oliveira, presidente da CNseg.
Segundo ele, as mudanças do clima causarão impactos relevantes no Brasil. Muitas culturas poderão ter perdas significativas, gerando dificuldades de financiamento, proteção rural, além de impor riscos de abastecimento e, no limite, de atendimento às demandas da segurança alimentar e hídrica.
O clima é responsável por 30% do desempenho da produção de alimentos. De 2013 a 2022, a produção rural brasileira acumulou perdas de R$ 287 bilhões provocadas por alterações climáticas, conforme dados do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.
As regiões Nordeste e Sul lideraram as perdas, com 36% e 33%, respectivamente. Em 2022, agricultores e pecuaristas perderam R$ 85 bilhões de produção, um salto de 90% em relação a 2021. Segundo a CNseg, os prejuízos na agricultura representaram 8,7% do valor bruto da produção agrícola.
A seca é o fator de maior impacto, com 87% dos prejuízos do campo. Diante do aumento de catástrofes do clima, a CNseg assinou acordo com a Iclei, associação mundial de governos dedicada ao desenvolvimento sustentável, com recursos do banco alemão KfW para desenvolver um seguro voltado à infraestrutura urbana, oferecendo produto aos municípios a fim de que estejam preparados para lidar com tragédias como as recentes enchentes no Sul e em São Sebastião, no litoral paulista, que devastaram as regiões.
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