Perda global com cibercrimes deve ser de US$ 6 trilhões em 2021
Os ataques cibernéticos a empresas como Lojas Renner, Cosan, Braskem, Fleury e JBS, nos últimos meses, mostram que esse tipo de crime encontrou uma brecha importante para agir durante a pandemia.
O Brasil foi alvo de mais de 3,2 bilhões de tentativas de ataque no primeiro trimestre, um volume que dobrou em relação aos três primeiros meses de 2020, segundo a empresa de segurança Fortinet. E a demanda por serviços de segurança também cresce.
As tentativas de ataque bem-sucedidas no mundo já representaram perdas globais estimadas entre US$ 1 trilhão, em 2020, e U$ 6 trilhões este ano, informa a União Internacional das Telecomunicações.
A necessidade de um ciberespaço seguro tornou-se muito importante, diz a UIT, diante da crescente dependência que pessoas e companhias têm da internet. Instituições que já foram vítimas dos criminosos e as que temem ingressar nessa estatística, buscam se armar, adquirindo mais serviços de segurança e compartilhando informações.
O aumento na demanda por cibersegurança se traduz nos resultados do setor. Em 2020, o mercado de segurança da informação faturou US$ 156,2 bilhões no mundo, e deve alcançar US$ 352,2 bilhões em 2026, mostra um levantamento da consultoria Mordor Intelligence. Na América Latina, o setor foi avaliado em US$ 4,84 bilhões, no ano passado, e deve chegar a US$ 9,57 bilhões em 2026.
O aumento da demanda por segurança cria oportunidades de novos negócios. Cristiano Lincoln Mattos, diretor-presidente da Tempest Security Intelligence, uma das principais empresas de cibersegurança brasileiras, diz que o mercado local é muito fragmentado e o crescimento pode ser feito tanto de forma orgânica, quanto com fusões e aquisições. De um lado temos a atuação das grandes empresas multinacionais de tecnologia, que também trabalham com cibersegurança aqui e no resto do mundo, como IBM, Accenture, Cisco, Dell, entre outras, que se beneficiam do seu tamanho e marca para conseguir grandes contratos, explica.
Do outro, uma enorme quantidade de empresas pequenas, com faturamento entre R$ 5 milhões a R$ 20 milhões, e nesse meio algumas grandes nacionais.
Lincoln fala que a Tempest viu um crescimento entre 36% e 37% de 2019 para 2020 e de aproximadamente 40% de 2020 para 2021, com a forte procura por serviços de cibersegurança. A pandemia com certeza acelerou um movimento de transformação no setor que já vinha acontecendo. Para Rafael Coutinho, gestor na multinacional de cibersegurança Trend Micro, a procura por serviços aumentou no último ano, diante da digitalização do ambiente de trabalho. A empresa japonesa viu o faturamento na América Latina crescer 21,5% em um ano, a US$ 25,6 milhões, de acordo com dados do segundo trimestre.
O setor público é alvo de cibercriminosos – o Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi atacado em novembro – e tem contratado mais serviços de segurança, informa Coutinho. Um dos movimentos que Roberto Rebouças, gerente-executivo da russa Kaspersky no Brasil, vê é a mudança de paradigma: as empresas deixaram de ver cibersegurança como gasto e passaram a encarar como investimento. Mais do que isso, elas começaram a investir em soluções corretas para dificultar a vida do criminoso. Mesmo empresas que não oferecem serviços contra ransomware (vírus que sequestra dados da vítima), viram uma demanda tão forte que passaram a monitorar o tema.
Roberto Achar, diretor de cibersegurança da ClearSale, conta que hoje os clientes dos serviços anti-fraude recebem um acompanhamento das principais tendências e perigos do segmento.
Os fornecedores são unânimes em apontar que o segmento de cibersegurança deve continuar crescendo. A digitalização não vai parar, a regulamentação sobre o tema aqui no Brasil – principalmente setorialmente – vai continuar a crescer para acompanhar o que acontece lá fora, e a demanda econômica por ataques cibernéticos não vai diminuir, diz Lincoln, da Tempest.
O avanço de estratégias de ciberataques e códigos maliciosos cada vez mais inteligentes exigem novas tecnologias de prevenção e detecção de intrusos. Uma delas é a Detecção e Resposta Estendida (XDR, na sigla em inglês), capaz de avaliar todo o fluxo de dados da rede de uma empresa atrás de anomalias. A ferramenta coleta um volume grande de dados e os relaciona usando técnicas de aprendizado de máquina, diz Ghassan Dreibi, diretor de cibersegurança da Cisco Systems no Brasil.
Fonte: NULL