Para Lula, classe média emergente revoluciona o país
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, enfatizaram ontem a rápida reação da economia brasileira à crise, destacando a retomada forte do crescimento, com avanço do emprego e do consumo, e a perspectiva de uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) na casa de 5% em 2010. “O Brasil vive uma revolução silenciosa, marcada pela recuperação da autoestima”, disse Lula, insistindo que “o século 21 será o século do Brasil”. O presidente fez o discurso de encerramento do seminário “Investing in Brazil”, promovido pelo “Financial Times” e pelo Valor, em Londres.
Falando de improviso em boa parte de seu discurso de quase uma hora, Lula contou algumas histórias para demonstrar a importância de obras públicas para a população de menor renda e de seu impacto sobre a economia. A primeira foi a do programa Luz para Todos, que até o momento levou energia elétrica gratuitamente para 2,2 milhões de residências. “Para fazer a ligação nessas casas, nós já utilizamos 906 mil quilômetros de cabos, o que é suficiente para dar 21 voltas no planeta Terra, se é que os cálculos que me deram estão certos. Isso significou 727 mil transformadores e 4,740 milhões de postes, tudo incentivando que a empresa local, na cidade ou no Estado, fizesse esse trabalho”, relatou o presidente.
Segundo Lula, por conta do programa, foram vendidos 1,5 milhão de televisores, mais de 1,4 milhão de geladeiras, mais de 900 mil aparelhos de som e mais de 1 milhão de liquidificadores. “Isso já custou ao governo mais de R$ 9 bilhões, que nós tratamos como investimento, e não como gasto.”
Lula relatou também a história de uma mulher, chamada Eliane, que ele conheceu em visita a uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “No ano passado, essa mulher, quando as empresas começaram a trabalhar, tomou R$ 50 emprestados e fez R$ 50 de pasteis para vender na obra. Um ano depois, ela já estava servindo 400 refeições na obra, já tinha comprado um carro e uma motocicleta. E com muito orgulho ela me falou que já tinha pago R$ 5 mil de Imposto de Renda.”
O presidente citou ainda a forte evolução da carteira de crédito consignado nos últimos anos, que atingiu R$ 100 bilhões em setembro. “São pessoas que tomam dinheiro emprestado em um banco, não para comprar dólar, não para depositar em um banco não sei onde ou fazer derivativos. As pessoas pegam o dinheiro no banco para comprar uma televisão, para comprar um sapato, para comprar uma camisa, para comprar uma meia, para comprar material escolar para o filho. E é isso que dá o dinamismo dessa chamada classe média emergente que está revolucionando o Brasil”, disse Lula, aplaudido de pé no começo e no fim do discurso. “O mercado não faz política social, isso é o Estado que tem que fazer. O mercado não faz uma política como o Luz para Todos ou cria um Bolsa Família, isso tem que ser política de Estado.”
Mantega, por sua vez, disse que a economia brasileira deve crescer 1% neste ano e 5% no ano que vem, saindo rapidamente da crise. Enquanto em outros países, como nos EUA, ainda há perdas de postos de trabalho, no Brasil a criação de empregos formais deve superar 1 milhão de postos neste ano, afirmou o ministro. Mantega disse que o crescimento do PIB no terceiro trimestre deve ser superar 8% em termos anualizados, número que será divulgado na semana que vem. No segundo trimestre, a expansão nessa taxa de comparação foi de 7,8%. “Nós estamos entre os três, quatro países que mais estão crescendo no mundo.”
Como Lula, Mantega enfatizou a importância da ascensão da nova classe média no país. “Com o aumento da renda e a maior facilidade do crédito, mais pessoas estão ingressando no mercado para consumir bens como automóveis e eletroeletrônicos. Estamos construindo um mercado de massas”, disse o ministro. Os presidentes do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, e do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, afirmaram que o aumento da classe média tem garantido excelentes oportunidades de negócios para os bancos, porque um número muito maior de pessoas pode ter acesso a eles.
Mantega disse ainda que um dos grandes trunfos do Brasil na crise foi ter três grandes bancos públicos, que não se retraíram no momento da turbulência, como fizeram as instituições privadas.
O ministro apresentou também uma projeção da Economist Intelligence Unit (EIU) de que o Brasil pode se transformar na quinta maior economia do mundo em 2026. Também presente ao evento, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, arriscou uma previsão mais otimista, dizendo acreditar que o posto pode ser obtido em 2016.
Dilma fez uma exposição sobre o PAC, assinalando o volume expressivo de investimentos previstos para os próximos anos, como os ligados à exploração de petróleo da camada do pré-sal. A ministra afirmou que o Estado tem um papel fundamental no processo, ao atuar como indutor do desenvolvimento e no planejamento de longo prazo.
Fonte: Valor