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PAC é saída para queda nas obras industriais

Ficou só no papel. Muitas empresas que pretendiam ampliar ou construir novas fábricas este ano mudaram de planos. Decidiram postergar ou simplesmente desistiram das unidades. E o efeito sobre as empresas especializadas em construção industrial é pesado. Com poucos projetos novos em vista, companhias como Hochtief, Racional, Advento e Método procuram no governo – mais especificamente nas prometidas obras de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) – e em alguns poucos setores de mais fôlego a saída para um ano complicado.
A maioria das fábricas que já começaram a ser construídas continua, mas novas unidades são quase uma exceção e estão restritas a poucos segmentos, como hospitalar, varejo, logística e, em menor escala, shoppings. Com ajuda do BNDES, calcula-se que o setor de hospitais tenha R$ 320 milhões em prospecção de novos negócios no curto prazo. Já os cancelamentos atingem área automobilística, de papel e celulose, siderurgia, metalurgia, cimento e mineração.
A Aracruz Celulose desistiu da fabrica em Guaíba. A Votorantim Cimento postergou a construção de três unidades. A Toyota, que comprou terreno para construir uma fábrica em Sorocaba, suspendeu investimentos no mundo, segundo os dirigentes do Japão. Pelo menos duas fábricas de autopeças foram canceladas. “Se há setores com queda de 30%, outros crescem 30% para que o PIB do país fique pelo menos estável este ano”, diz Hugo Marques da Rosa, da Método Engenharia, que também cita os setores têxtil e de saneamento como mais ativos.
O grupo Advento, que reúne quatro empresas do setor industrial, entre elas a construtora Serpal, procura formas de driblar a crise, já que os setores onde sempre teve forte atuação, como cimento, papel e celulose e siderurgia, estão praticamente parados. O setor de papel e celulose, por exemplo, que no ano passado representava 20% das obras, responde hoje por 8% e deve cair para menos de 2%. O grupo contratou uma consultoria especializada em avaliar empresas com potencial de atuar em obras públicas. Criou uma divisão nova com diretoria própria para participar de licitações para projetos do governo.
“Vamos direcionar nosso foco para saúde, alimentos, shoppings e, principalmente, obras públicas”, afirma Juan Quirós, presidente do grupo Advento. A empresa pretende atuar na construção de hospitais, escolas técnicas, e a parte civil de aeroportos.” Também está apostando no potencial da Petrobras e da Companhia Vale do Rio Doce, que embora tenham adiado parte dos projetos, ainda tem obras para executar. “Estamos considerando comprar uma empresa de montagem industrial mais pesada para atendê-los”, diz Quirós, que já participou do governo Lula como presidente da Apex Brasil (Agência de Promoção de Exportação e Investimentos). No ano passado, o grupo Advento recebeu aporte de R$ 80 milhões do fundo de private equity AIG Investments – que segundo Quiros manteve o investimento apesar da crise da seguradora – e faturou R$ 580 milhões.
A Racional Engenharia também mira o setor de infraestrutura, de ferrovias a logística, para compensar a paralisia de outros segmentos. A expectativa é que a empresa, que fechou 2008 com um volume de produção de R$ 620 milhões, fique entre R$ 500 milhões e R$ 550 milhões este ano. “Estou há 39 anos no mercado e já vivi várias crises. Há setores mais sensíveis e outros que continuam abastecendo o crescimento orgânico do país”, afirma Newton Simões, presidente. A empresa não teve nenhuma obra suspensa e agora disputa com os concorrentes os poucos projetos que devem sair do papel.
A multinacional Hotchief, que atua e várias áreas, acredita que a divisão industrial seja a mais afetada este ano. Como as demais, aposta no mercado de construções rápidas, como varejo, shoppings e hospitais, além da área de energia para compensar a retração dos projetos mais complexos. André Glogowsky, presidente do conselho da Hochtief, acredita que o segmento de “facility management”, que cuida da gestão de obras prontas, possa ser beneficiada em um ano onde a redução de custo virou palavra-chave. “É um momento complicado, onde todos revisam metas e custos o tempo todo.”
A nova realidade dessas companhias, além de menos projetos, é de uma forte pressão de preços. Quem está disposto a construir, exige valores mais baixos. “É uma equação complicada, porque o custo dos materiais não caiu”, diz Glogowsky. As empresas de construção industrial também são unânimes em afirmar que a forma de se planejar mudou e ninguém mais pensa a longo prazo, mesmo numa indústria com ciclos longos “A cada 30 dias revemos o planejamento estratégico e a correção de rumo é quase diária”, diz Simões, da Racional.
Independentemente do setor, nas multinacionais a situação é pior. E a retomada de novos projetos deve demorar mais. Elas estão olhando excessivamente para o umbigo, mesmo que as operações locais não estejam tão mal”, diz Simões.

Fonte: Valor

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