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Os trilhões do plano de Obama e Geithner

Os detalhes do pacote de socorro aos bancos anunciados nesta segunda-feira pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e pelo secretário do Tesouro, Timothy Geithner, parecem que colocaram uma laje no fundo do poço em que se transformou a crise primeiro financeira depois econômica internacional. Os mercados de forma geral aplaudiram, as bolsas dispararam mais uma vez. Em São Paulo, o Ibovespa fechou nos quase 6% de alta – ontem retrocedeu 2,27%. Em Nova York, os principais índices tiveram alta superior a 6%. Afinal, são entre US$ 500 bilhões e US$ 1 trilhão que serão usados para “neutralizar” os títulos podres engavetados pelos bancos americanos.
Foi a mesma reação dos mercados quando, em meados de fevereiro, Geithner anunciou a operação. E também o mesmo comportamento dos mercados no ano passado, nas semanas entre a explanação do pacote de resgate financeiro do ex-secretário do Tesouro americano Henry Paulson, e sua aprovação pelo Congresso. Mas o que precisa ficar claro é que o US$ 1 trilhão detalhado nesta semana por Geithner é uma parte do “pacote gigante” traçado logo após a quebra do banco de investimento Lehman Brothers, em 15 de setembro, seguido pela seguradora AIG.
O analista da área de bancos da agência de classificação de riscos Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, lembra que o plano americano de resgate aos bancos tem três etapas. O leilão de recompra dos papéis podres agora reclassificados por Washington como “obsoletos” é apenas a primeira etapa. Com os US$ 500 bilhões a US$ 1 trilhão o governo garante ao investidor privado que os títulos serão honrados e estimula o mercado a negociá-los. “Com pouco dinheiro, o investidor se sente seguro em comprar e, se a operação não der certo, o Tesouro assume”, explica o analista.
Como os bancos não fizeram marcação a mercado dos títulos tóxicos em suas carteiras, fica difícil para os agentes financeiros quantificar o tamanho do rombo. Ao estimular o mercado secundário desses papéis, o governo americano estimula novas compras e vai limpando a carteira dos bancos aos poucos, na medida em que os títulos vão sendo precificados. Vendendo títulos, os bancos podem voltar a conceder novos empréstimos, com mais qualidade. “O plano estimula um círculo virtuoso, de modo que o deságio dos papéis passe a ser cada vez menor, e assim por diante”, explica Santacreu. “A ideia é tirar a instabilidade dos balanços dos bancos.”
A segunda etapa do plano será o teste de estresse a que os bancos terão de se submeter para provar sua necessidade de capital. Ele é obrigatório para cerca de 20 instituições com ativos acima de US$ 100 bilhões. Livrando os bancos dos ativos tóxicos, fica faltando completar essa etapa do plano, que é injeção de capital no passivo dos bancos, como forma de compensar os prejuízos que vêm registrando. “Como os bancos não estão captando, têm medo de dar crédito. Ninguém quer aplicar nos bancos. Com o dinheiro do Fed (Federal Reserve Board, o banco central dos EUA), eles podem voltar a emprestar. Esse processo melhora o balanço dos bancos e tira deles os créditos podres. É como se recriasse o balanço dos bancos”, explica o analista da Austin. O dinheiro para essa injeção virá dos cerca de US$ 350 bilhões que restam dos US$ 700 bilhões que foram aprovados no ano passado pelo Congresso americano.
Apesar de tantos bilhões e trilhões, faltou lembrar do US$ 1 trilhão já anunciado pelo Fed que irá irrigar o mercado interbancário, como forma de dar mais um fôlego ao sistema todo de crédito. Faltou também citar os US$ 50 bilhões para socorro aos mutuários que não estão conseguindo pagar as prestações de suas casas.
Pronto. Parece que o poço está chegando ao fim com tanto dinheiro aplicado. Segundo Santacreu, com os bancos novamente capitalizados, acaba-se com o empoçamento do crédito interbancário. A única incógnita, diz o analista, é se o US$ 1 trilhão será suficiente para acabar com os títulos tóxicos que estão nas carteiras das instituições. “Como não há marcação a mercado, não há como saber o tamanho do buraco.”

Fonte: Gazeta Mercantil

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