Oi prepara transmissão de vídeos em banda larga
A Oi (ex-Telemar) começará a transmitir vídeos por meio de sua rede de banda larga no primeiro trimestre do ano que vem, enquanto a Anatel afirma que irá estudar se o serviço lançado na semana passada pela Brasil Telecom (BrT) está em conformidade com as regras.
O diretor de novos negócios da Oi, José Luis Volpini, afirmou ontem que a operadora terá a chamada IPTV (sigla em inglês para televisão sobre protocolo de internet), num primeiro momento, em alguns bairros da Zona Sul do Rio de Janeiro. A expectativa é de alcançar, rapidamente, 10 mil clientes.
A Oi irá oferecer vídeos sob demanda – e não uma grade de programação de TV, como fazem as empresas de televisão paga. A legislação brasileira proíbe que as concessionárias de telefonia transmitam conteúdos multimídia em massa, mas não as impede de vender serviços para clientes individuais.
Foi com base nessa premissa que a BrT anunciou, alguns dias atrás, o lançamento comercial de seu serviço de vídeos por encomenda baseado em IPTV.
Entretanto, o conselheiro da Anatel Antônio Bedran disse ontem que irá analisar o modelo que está sendo oferecido pela BrT. A operadora anunciou na semana passada o serviço, batizado de Videon, que será comercializado inicialmente em Brasília e mais adiante será estendido a toda a área de concessão da companhia (Sul, Centro-Oeste e parte do Norte).
Bedran não forneceu maiores detalhes sobre o que será estudado pela Anatel. Mas um aspecto que deverá ser avaliado é como a operadora está negociando os contratos com os fornecedores de conteúdo audiovisual.
Sem poder vender pacotes de canais, as teles apostam na oferta de um banco de vídeos para atrair clientes. A BrT, por exemplo, terá uma videoteca com cerca de 500 horas de programação e cobrará R$ 29,90 pela assinatura mensal. Segundo Volpini, a Oi terá aproximadamente 200 títulos em seu arquivo.
“A gente terá uma quantidade de vídeos, não terá um canal tradicional, uma programação linear, porque regulatoriamente não podemos”, destacou o executivo da Oi, que participou ontem de um debate na Futurecom, evento do setor de telecomunicações que acontece nesta semana em Florianópolis. Segundo ele, a operadora está em negociações com fornecedores como Warner, Sony e Fox.
A IPTV da Oi será oferecida, em alguns casos, com o ADSL – tecnologia de banda larga baseada na rede convencional de telefonia. Em outros, a operadora levará o produto à casa do cliente por meio de fibra óptica, infra-estrutura que está instalando nas regiões mais nobres da capital fluminense.
A Telefônica, concessionária do Estado de São Paulo, também está fazendo testes com IPTV sobre a rede de fibra óptica que está construindo no bairro paulistano dos Jardins – e que atinge velocidade de mais de 30 megabits por segundo (Mbps).
No entanto, a operadora de origem espanhola ainda não aposta suas fichas na IPTV. Para entrar no mercado de vídeos e poder ter a grade de programação regular que a legislação proíbe, ela adquiriu uma licença para explorar o mercado de TV por assinatura via satélite – um produto que lançou recentemente. A empresa também firmou acordo para comprar uma parte da TVA, empresa que opera as tecnologias de cabo e microondas.
Para o diretor de desenvolvimento de negócios da Telefônica, Gilberto Sotto Mayor, a rede de telefonia brasileira ainda não está pronta para a IPTV – embora a operadora ofereça essa tecnologia na Espanha. “O desafio de infra-estrutura ainda é muito grande”, afirmou. “Uma coisa é oferecer banda larga para conexão à internet, outra coisa é oferecer para TV, onde qualquer oscilação no sinal é percebida pelo cliente.”
A Telefônica está investindo no aumento da capacidade de sua rede de banda larga para fazer com que, até o fim do ano, 90% dos clientes do serviço estejam conectados a pelo menos 1 Mbps (hoje esse patamar é de 13%). Ainda assim, essa velocidade é insuficiente para a transmissão de vídeos com qualidade, disse Sotto Mayor.
Pela mesma razão, a Oi só levará sua IPTV para as regiões onde tiver rede mais veloz. “Tem que ir aonde tem banda”, disse Volpini, afirmando que a operadora irá oferecer conexões de até 8 Mbps.
Para fazer isso, as operadoras precisarão resolver uma equação de preços. Ou mantêm a banda larga e serviços como o de transmissão de vídeos restritos a um pequeno número de clientes ou reduzem o valor das conexões.
Apenas 2% dos usuários de banda larga no Brasil têm acessos com velocidade superior a 1 Mbps, destacou Marcelo Motta, diretor de tecnologia da fabricante chinesa de equipamentos Huawei. “Para ter IPTV é preciso ter banda realmente larga”, disse.
Como estão cada vez mais interessadas na oferta de serviços multimídia (para driblar a estagnação na telefonia convencional), não é por acaso que as teles pediram ao governo a isenção de impostos para acelerar os investimentos na construção de uma rede de transmissão de dados em alta velocidade. O projeto está na Casa Civil.
Fonte: Valor